photo logopost_zps4920d857.png photo headerteste_zps0e0d15f7.png

Entrevista Carnification

CHAMA ETERNA
"A união faz a força"

 photo carnification_zps103874b4.jpg

O metal dava os primeiros passos nos Açores e os Carnification já se recluíam na garagem para produzir o que na altura era um movimento em franca afirmação - o death metal. Com os Morbid Death a estabelecerem as regras, é no núcleo dos Carnification que se encontram alguns dos responsáveis pelo surgimento do género no arquipélago - o baixista Paulo Castro havia integrado os Necropsia em 1991 e Luís Franco dá também voz aos Noxious em 1992. É nesse mesmo ano que nasce um dos principais bastiões do metal açoriano pelas mãos de João Raposo, Marco Camilo e Rui Frias [mais tarde nos Morbid Death]. Se é verdade que o seu percurso foi um pouco "acidentado" - interromperam a actividade entre 1999 e 2008 - não é menos notável que mais de vinte anos depois ainda tenham forças para concretizar o seu sonho - gravar o primeiro álbum. É isto que decorre neste momento e que será concluído dentro de poucos meses. Urge por isso enaltecer o feito e colocar em discurso directo um dos exemplos mais genuínos de amor à causa - João Raposo.  

Mais de vinte anos na música. Por si só, sente-se um "herói"?
Herói? Isto é uma ideia completamente errada sobre mim. Sinto-me apenas uma pessoa com um enorme gosto pela música e nada mais do que isto.

Há quem entenda que uma verdadeira carreira deve avaliar-se pela actividade constante e não propriamente pela data em que se começou a tocar ou a trabalhar num projecto. O percurso dos Carnification, como o da maioria das bandas açorianas, tende a ser intermitente. Sente, de algum modo, que ainda está "no início"?
Infelizmente, tenho que concordar com isso. No nosso percurso houve altos e baixos, mas se tivermos força de vontade conseguimos ultrapassar qualquer obstáculo que apareça no caminho e a prova é que os Carnification ainda estão cá, com muita saúde para dar e vender. Temos uma meta a cumprir, que é a do lançamento do nosso disco, o que considero como o início de uma nova etapa para nós, como músicos e banda.

"No nosso percurso houve altos e baixos, mas se tivermos força de vontade conseguimos ultrapassar qualquer obstáculo"

Antes de olharmos atentamente para a realidade actual dos Carnification, introduza-nos, sucintamente, quem é o João Raposo guitarrista e como surge para a música?
O João Raposo é uma pessoa que está sempre bem disposta, humilde, que gosta de se divertir, é um grande brincalhão e também amigo dos seus amigos. Como músico, está sempre à procura de sons para poder evoluir e desta forma poder inovar o som da sua banda.

Com duas décadas a olhar de dentro para o cenário de peso açoriano, acha que este se encontra numa boa fase? O que se passa hoje que não se verificava, por exemplo, na década de 90 e vice-versa?
O metal açoriano está a passar por uma fase negra. Na década de 90 havia muito mais ajuda entre as bandas e as entidades competentes apoiavam estes mesmos projectos sem hesitar muito. Hoje em dia, isto já não se verifica e acho que a crise não justifica tudo.

Diríamos que o mundo atravessa uma profunda transformação económica e social. Nos Açores, e analisando concretamente este estilo musical, acha que há motivos para crer em melhores dias? O que acha que deve ser melhorado?
Esta pergunta devia ser respondida pelas entidades que organizam eventos - Câmaras, Governo, etc. -, pois são elas que estão a "matar" o metal nos Açores. Nos seus programas festivos estas mesmas entidades preferem apoiar projectos do Continente ou mesmo do estrangeiro, pondo de parte a "prata da casa" que tem qualidade mais do que suficiente para participar nesses mesmos programas. Temos muita qualidade, tanto em bandas como em músicos. Simplesmente não nos apoiam. Tenho pena que as coisas funcionem dessa maneira.

Já foi esclarecido pela própria banda que a gravação do seu primeiro disco é um processo moroso e descomprometido, até porque são os próprios a gravá-lo, certo? No entanto, a pergunta impõe-se: quando será possível ouvir o tão esperado álbum dos Carnification?
Certíssimo, somos nós que estamos a produzir e a gravar o disco e posso dar 99,9% de certeza que ele verá a luz do dia ainda este ano. Só não sei ainda qual será o mês do seu lançamento.

Em que medida toda a concepção do disco tem sido um processo meticuloso? Será que a demora no seu lançamento também está relacionada com um cuidado redobrado em curar todos os pormenores de composição e gravação ou simplesmente a vida pessoal e profissional não permite outro ritmo?
Temos que ser rigorosos connosco próprios, pois um disco é um disco, e partindo do princípio  que este vai ser ouvido por um certo número de pessoas, temos que lhes dar a melhor qualidade em audição possível. Não sendo profissionais, temos ainda que conciliar a nossa vida pessoal com a música e isto às vezes torna-se um pouco complicado. Porém, no fim chegamos sempre a bom porto.

Sentem-se mais maduros hoje em estúdio do que, por exemplo, em finais de 90 quando gravaram o vossa demo-tape? No fundo, como se proporciona a auto-produção deste álbum?
Penso que não há comparação possível entre os anos 90 e a actualidade. Somos muito mais maduros e experientes do que naquela altura, apesar de ter sido uma época muito forte na música. A ideia da auto-produção surgiu a partir desta mesma experiência que adquirimos ao longo destes anos. O Paulo Castro tinha conhecimentos no que toca a  gravações, investiu para construir um estúdio seu e, a partir daí, as coisas tornaram-se muito mais fáceis.

Olhando para aquilo que faziam os Carnification na década de 90, o que se pode esperar musicalmente do vosso primeiro longa-duração? Já é possível adiantar alinhamento ou alguns títulos?
Os Carnification do presente são músicos com mais experiência a nível musical. Tivemos uma grande progressão tanto em técnica como em sabedoria em relação aos anos 90, mas penso que esta é uma evolução natural, pois trabalhámos muito para que isto acontecesse. Posso adiantar que o disco já tem título e terá dez temas. Quanto ao resto, não posso adiantar mais nada.

"Posso adiantar que o disco já tem título e terá dez temas"

Nesta fase da carreira e até pelas contingências do próprio mercado discográfico, sonham trabalhar no sentido de editá-lo por alguma editora? No mínimo irão sondá-las?
Em princípio, vamos lançar o álbum com ou sem editora. Se aparecer alguém interessado no nosso trabalho havemos de chegar a algum acordo. O mais importante mesmo é lançar o  álbum e depois a ver vamos o que é que vai acontecer.

Acha que uma banda, sobretudo num meio limitado como os Açores, necessita de um responsável que conduza os seus destinos? A pergunta vem no seguimento da anterior, uma vez que, para além da música, os intérpretes cada vez mais têm que vestir o "fato e gravata" e tratar da parte burocrática das bandas.
Depende do ponto de vista. Actualmente, sou o "relações públicas" dos Carnification e não uso nem fato, nem gravata. Com a ajuda dos meus "irmãos de banda" conseguimos sempre atingir os nossos objectivos. A união faz a força.

Tanto quanto é dado a entender, Gualter Couto encontra-se afastado da banda (ao que consta radicado noutro país). Como é que olham para o vosso futuro enquanto banda ao vivo? É um assunto que vos preocupa?
De momento, isto não nos preocupa muito, porque estamos focados apenas nas gravações do disco. O Gualter é um grande músico como baterista, assim como o anterior (Marco Camilo) era muito bom. Isto é só para exemplificar que temos cá excelentes executantes na bateria. Quando chegar o momento certo havemos de encontrar alguém que satisfaça as nossas necessidades.

Por fim, e recuperando o assunto do metal açoriano, acha que um regresso dos Morbid Death seria o tónico para que mais bandas surgissem e o movimento voltasse a recuperar a sua dinâmica?
Não posso responder a isso, pois cada um sabe de si. Sou amigo de todos os elementos dos Morbid Death e é claro que gostaria que voltassem ao activo, pois seriam uma mais-valia para o metal açoriano. Nós, Carnification, voltámos ao fim de alguns anos... não vejo porque razão os Morbid não possam regressar. Não obstante, como disse, cada um sabe de si.

Nuno Costa

www.facebook.com/carnification
www.myspace.com/carnification



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...