photo logopost_zps4920d857.png photo headerteste_zps0e0d15f7.png

Entrevista - "Tertúlia Canibal: Holocausto Canibal e as vicissitudes, conquistas e verdades do grind" [Capítulo III]

Guia de sobrevivência e profecias holísticas

 photo holocaustocanibal11_zpsc56e1437.jpg

Lavadas todas as "feridas" de uma intensa digressão, os maiores apreciadores de carne humana do país baixam a guarda para preparar um novo ano ainda mais atrigado. Para projectá-lo, é ainda preciso olhar para o presente e conjugá-lo com um passado recente. É nesse contexto que concluem o derradeiro capítulo desta entrevista com uma analogia entre o mercado discográfico e as consequências que tem tido na sua carreira, as "reformas" idiossincráticas que urgem no público nacional e os próximos capítulos (que seguem dentro de poucos meses) de uma pervertida e intimidante odisseia antropofágica.

Depois de largos meses na estrada, sentem-se cansados ou com a ideia de que quanto mais se "prova o fruto" mais se quer prová-lo? O término da fase de promoção a "Gorefilia" deveu-se ao esgotar de todas as oportunidades de booking ou entenderam que chegou o momento certo para retemperar forças e pensar num novo disco? 
Eduardo F.: Nós nunca estamos cansados. Como já disse nesta entrevista, os Holocausto Canibal são uma banda conhecida por actuar bastantes vezes ao vivo. Se num dia fosse possível tocar de manhã, à tarde e à noite, em sítios diferentes, assim o faríamos! Aliás, há cerca de dois anos fizemos algo do género - tocámos em três sítios diferentes em 24 horas. Bom, respondendo à questão, a verdade é que quanto mais provamos o fruto mais o queremos repetir, embora de formas diferentes. Parámos porque sentimos que pouco mais havia a fazer nesta fase e porque, como já disseram em relação à primeira questão, temos muito material novo que queremos lançar o mais brevemente possível, sob pena de ficar datado! Chegou a altura de nos concentrarmos em novos lançamentos, mas claro que vamos continuar a tocar. Felizmente, as propostas não param de chegar e no próximo ano vamos andar bastante atarefados.

Diogo P.: A aplicar o termo “cansado”, certamente não o faríamos para descrever a nossa postura e atitude. Se existe algum cansaço, esse é proveniente da rotina e métodos que estão instituídos a nível de quem promove ou realiza concertos e que já nem vale a pena tentar mudar. De alguma forma, tentamos sempre incutir princípios que se consideram básicos para quem faz concertos a nível de tratamento das bandas, postura e organização, mas, como todos sabemos, o português é teimoso e nem sempre essa teimosia se reflecte positivamente. Quando assim é e recorrendo ao provérbio “pau que nasce torto nunca se endireita”, mais vale deixar o "pau" no sítio e que o mesmo se continue a torcer até, eventualmente, quebrar, porque continua a haver muita idiotice e falta de “savoir faire”, especialmente no circuito metálico. Quem nos quis ver e ter em sua “casa” teve a sua oportunidade. Certamente que muitos voltaremos a repetir e outros nem vê-los. Assim, aproveitamos e fazemos mais algum trabalho de casa até ser oportuno voltar à estrada.

"Continua a haver muita idiotice e falta de savoir faire, especialmente no circuito metálico"

Discutamos outro dos mitos ligados ao underground nacional: ser-se português e tocar grindcore é rentável?
Eduardo F.: Ser português, já por si, não é rentável… quanto mais no mundo da música e, ainda por cima, a tocar música extrema.

António C.: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena! [risos]

Diogo P.: É caso para dizer que… é e não é! Depende do conceito de cada um para rentável e até mesmo dos conceitos de grindcore e português! Fica a dúvida no ar.

Z. Pedro: Acho que quando atinges um ponto da tua carreira em que te é dada a oportunidade de conhecer países e cidades que nunca tinhas visitado, promoveres o teu trabalho, fazeres o que mais te realiza e regressares ao teu país com mais dinheiro do que levaste no bolso e, sobretudo, com um punhado de novas histórias, acho que isso não se pode sequer quantificar. Todo o resto não nos interessa.

E no meio de tantos balanços, falar em venda de discos faz sentido? Estão satisfeitos com o "Gorefilia" a esse nível?
Z. Pedro: Em relação à venda de discos, a quebra gradual no mercado discográfico é amplamente reconhecida… como a nossa última referência antes do "Gorefilia" ocorreu numa altura em que as coisas ainda estavam relativamente saudáveis, só agora tivemos esse ponto comparativo. Falando abertamente, é óbvio que o decréscimo no número de unidades vendidas ascendeu a milhares de diferença relativamente a títulos anteriores. No entanto, o forte cariz coleccionista que sempre caracterizou os seguidores de sonoridades death/grind continuou a prevalecer e a possibilitar-nos um bom escoamento de CD's em distribuidoras/editoras e lojas físicas do mundo inteiro. Já em relação a vendas de merchandising nunca tivemos tanta fluidez como agora e acaba por ser compreensível, a partir do momento em que ainda não é possível fazer download de uma t-shirt na internet. Portanto, se só podes optar por um produto e não pelos dois, acabas por escolher aquele que, efectivamente, não consegues obter de outra forma. Cada vez mais, um novo trabalho discográfico (e refiro-me estritamente à visão financeira/negocial do artigo) é apenas a tua desculpa para venderes espectáculos da banda, andares novamente em tour e venderes novas linhas de merchandising.

No meio de uma intensa agenda ainda houve tempo para lançarem um split e um EP de covers. Que importância teve esses lançamentos? Surgiram num timing estratégico ou havia realmente um carinho especial em lançá-los? Façam-nos uma breve introdução aos mesmos pelo menos para quem ainda não teve oportunidade de os ouvir.
Z. Pedro: O split 7’’ EP com Kadaverficker foi-nos proposto por uma editora alemã com o intuito de ser um lançamento estritamente limitado a 100 unidades para venda exclusiva durante o Extreme Fest 2013, na Alemanha. Funcionaria também como forma de promover o trabalho de ambas as bandas que se encontravam inseridas no cartaz. Foi uma aposta totalmente ganha! Na primeira das duas sessões de autógrafos que ocorreram durante o festival venderam-se logo 75 unidades, sendo depois necessária fazer uma reprensagem para satisfazer alguns pedidos e pré-encomendas adicionais que já tínhamos. Em relação à pro-tape “Compêndio de Aversões”, lançada pela Larvae Prod., foi a forma de reunir algumas das covers que fomos gravando ao longo dos tempos, algumas delas integradas em tributos oficiais às respectivas bandas e outras eternamente à espera de um dia, efectivamente, saírem nalgum lançamento que tinha sido proposto. É para nós um lançamento especial pelo formato em que saiu e também pelo objectivo prioritário dos temas que é o de prestar a nossa humilde homenagem a nomes marcantes do death/grindcore mundial.

E talvez para espanto de muitos, parece que o futuro dos Holocausto Canibal não passa por Portugal. Há intenções de se radicarem noutro país?
Eduardo F.: Intenções de nos radicarmos noutro país não existem, embora fosse excelente. [risos] Como referi, foram várias as situações em que vimos as nossas condições desrespeitadas e tivemos, infelizmente, que fechar os olhos e, ainda assim, tocar para evitar situações menos agradáveis. Uma banda dá um concerto no Porto e outro em Lisboa e o público-alvo está praticamente coberto. Tocar mais acaba por levar à exaustão do público e da própria banda.

António C.: Em Portugal temos o terrível hábito de confundir trabalho com conhaque e isso traz consequências verdadeiramente nefastas para as bandas. Para além disso, há esse factor importante que o Eduardo já fez questão de frisar: o público. As pessoas que, efectivamente, aparecem nos concertos são tão poucas que, à excepção de zonas estratégicas e certos festivais, tocar no nosso país para além de Porto e Lisboa acaba por ser “chover no molhado”.

Diogo P.: A partir do momento em que nos sentirmos indesejados por cá, é uma opção (ainda que muito remota) a considerar. Contudo, gostamos da "terrinha" e das gentes da nossa terra. Se muitos gostariam de nos ver pelas costas, disso não tenho dúvidas, mas para já estamos cá para ficar e continuar a fazer o de sempre com a qualidade e empenho que já nos são característicos. Quem quiser "come" e gosta, quem não quiser lá terá de levar connosco. O Vinho do Porto não deixa de ser fabricado em Portugal para ter mais qualidade ou oportunidades lá fora, certo?

"Ser português, já por si, não é rentável"

Com o "Gorefilia" acabaram por injectar alguns elementos mais "polidos/modernos" à vossa sonoridade. Será essa uma tendência a seguir num próximo registo? Como descrevem o que pode ter sido esboçado/criado até ao momento para um novo trabalho?
Diogo P.: Se conseguirem definir o "polido e moderno" até posso tentar comentar. Contrariamente ao que se tem escrito, dito, falado, dissecado, enfim... nós continuamos a fazer o de sempre. A diferença está na melhor produção, melhor execução e num processo de composição mais cuidado. Se isso é moderno é cá pelo burgo porque lá fora já descobriram as técnicas de gravação digital, metrónomos e demais ferramentas. Posto isto, a tendência é continuar a fazer o que gostamos e como gostamos com a melhor qualidade que nos for possível sem o eterno estigma de “soar português”.

Para além disso, um dos maiores temores para os fãs dos Holocausto Canibal é pensar na possibilidade de terem que aguardar mais seis anos para ouvir um novo disco de originais, algo pouco provável até porque já há novo material a ser trabalhado...
Eduardo F.: Como também já dissemos, isso não vai acontecer. É precisamente por esse motivo que a Gorefilia Tour termina agora e não daqui a quatro anos. [risos] Temos muito material pronto a ser lançado e muitos projectos prestes a concretizar. 2014 será, sem dúvida, um ano muito produtivo para nós.

Nuno Costa



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...