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Manuel Moura dos Santos [ex-júri dos «Ídolos»]: «Não temos um público muito educado para as artes do espectáculo»


Empresário e agente musical de longa data, Manuel Moura dos Santos é mais conhecido por ter integrado o júri dos "Ídolos", programa televisivo de "caça talentos". Mediatizou-se ainda como pessoa de discurso frontal e polémico.

Em entrevista realizada nos últimos meses para o programa "Conversas Com Vida" exibido no canal Económico TV, o proprietário da MS Management teceu várias análises sobre o estado actual da música, com especial enfoque no modo como esta é vista e vivida em Portugal.

"Hoje a profissão de músico está na moda. É socialmente bem visto ser-se músico, o que não acontecia há 30 anos. Aliás, ouvia com frequência: "Então, o fulano o que faz? Nada, é artista". Ser artista era viver um pouco à margem da sociedade. Ter uma profissão era ser médico, engenheiro, funcionário público, professor", começou por relatar Manuel Moura dos Santos.

Sobre o seu papel junto dos artistas, o manager de Jorge Palma acredita que o talento é o principal alicerce para o sucesso e que os empresários musicais tentam apenas garantir com que os artistas continuem a exercer a sua actividade. "Há muitos casos de coisas fabricadas no pop. Mas para um artista ter carreira e andar cá os mesmo anos que o Jorge Palma, o Rui Veloso, os Xutos e Pontapés, o Luís Represas, o João Gil ou o Pedro Ayres Magalhães, tem que haver talento. Não há empresários a fazerem milagres."

Quanto às razões que geram o estado declinatório da indústria musical em Portugal, Manuel Moura dos Santos sente primeiro a necessidade de traçar as diferenças entre o presente e o passado. "Hoje é muito diferente, as regras não são as mesmas que há vinte e tal anos quando comecei a trabalhar nessa área. Hoje é tudo muito mais mediático, descartável... a memória das pessoas, não direi que tenha mudado, mas há uma atitude diferente perante os artistas. Muda-se com muita facilidade de gosto. (...) Hoje o sucesso não perdura na cabeça das pessoas durante anos. Fica meses, se calhar semanas."

Convidado a definir o que é para si um artista, o filho de pai militar (que o fez viver quatro anos na Base das Lajes, nos Açores), não teve dúvidas: "Sobretudo, a atitude. Talento, sem dúvida, muito, mas depois há muita gente com talento que acabou ao balcão de um banco. Isso não chega. Persistência, capacidade de sacrifício, perseverança, perceber que é este o caminho e que o vamos percorrer, não interessa qual, mas vamos percorrê-lo. Vai ser difícil, complicado, vamos ter discussões, problemas, falta de dinheiro, mas vamos lá chegar", salienta Manuel Moura dos Santos enquanto cita um exemplo: " Os Ala dos Namorados chegaram a dividir 500 escudos por todos nós. Chegámos a vender concertos que não tínhamos dinheiro para lá chegar. Mas havia uma ideia, um projecto, algo de muito consistente. É isso que nós queremos. Esse tipo de atitude hoje é mais difícil de passar aos miúdos, pois procuram a fama e não percebem que essa é a consequência de qualquer coisa e não um fim em si mesmo. Às vezes digo-lhes: o Hitler ficou famoso porque matou uns milhões de pessoas."

Outro dos grandes destaques desta entrevista vai para o sentido agudizado como Manuel Moura dos Santos critica a postura do público nacional e o políticos, cujo modelo de gestão cultural acredita que contribuiu para o actual desrespeito que existe pelos artistas. "Os próprios colegas e o público [não dão o devido destaque aos artistas]. Não temos um público muito educado para as artes do espectáculo. Gente que tem um percurso tem que ser respeitada, goste-se mais ou menos. Sobretudo, os anglo-saxónicos têm muito o hábito de valorizar aqueles que, pelos anos de carreira, são uma referência e a prova viva do sucesso desta indústria. Nas eleições [o país] dá sempre [valor aos seus artistas e à cultura]. Aliás, o problema de não termos um verdadeiro mercado de música em Portugal deve-se à gestão política que foi feita na cultura, sobretudo nas autarquias. Essa coisa de oferecer tudo às pessoas de borla... elas não valorizam nada do que lhes é concedido gratuitamente. Deve-se cobrar bilhete, nem que seja a um preço simbólico. Isso ajudou muito a que as pessoas não se dêem muito ao respeito por aquilo que os artistas fazem. É-lhes dado, facultado, não tiveram que pagar, não fizeram esforço nenhum. Viajei pelo mundo inteiro com os Ala dos Namorados e nunca vi espectáculos gratuitos. Só cá... e em Espanha também há um bocado esse hábito. Espectáculos que custaram 40 e 50 mil euros e é tudo de borla, por razões de natureza política muita vez. Dá-lhes muitos mais votos contratar certos artistas dois ou três meses antes das eleições do que arranjar o balneário público ou uma estrada."

Numa derradeira análise, Manuel Moura dos Santos considera que o segredo para a perseverança de uma carreira musical está intimamente ligada à criação de uma identidade, acompanhada de uma predisposição para seguir a evolução dos tempos. "Os artistas fazem carreira mantendo-se fieis ao seu estilo enquanto músicos. Contudo, devem estar atentos à sonoridade e à forma como a música vai evoluindo. Os artistas que fizeram carreira e têm sucesso têm um estilo marcado e marcante."

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