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Entrevista Karnak Seti

DOZE ANOS EM ALTA ROTAÇÃO
"Tudo seria diferente se vivêssemos noutra zona do globo"

O tempo é implacável e corre como curso de água inesgotável em direcção ao mar. E é do meio do oceano que surge uma das bandas que mais cresceu nos últimos anos no espectro metaleiro nacional. Os Karnak Seti fazem da Madeira o seu quartel general desde 2001 mas sempre que possível visitaram o continente para actuar e mesmo gravar, potenciando assim uma interessante base de seguidores. Death/thrash metal melódico para graúdos, cravado em dois longa-duração e quatro demos. A experiência foi, por isso, tornando-se cada vez mais evidente e aos poucos transformaram-se num modelo para outros congéneres vítimas da insularidade. Num especial dedicado aos doze anos de carreira dos Karnak Seti, que serão devidamente celebrados a 12 de Agosto no Art Camacha 2013, juntámo-nos ao guitarrista António Jesus para a restrospectiva que se exigia .  
  
2001... o que se passou naquela altura para decidirem criar uma banda? 
Tudo começou muito inocentemente. Naquela altura, o Reno [guitarrista] tinha voltado da sua breve emigração do Reino Unido e estava a tentar juntar os elementos da sua antiga banda para um novo projecto. Tal não aconteceu e foi aí que convidou o Cláudio [baixista] e alguns amigos para passar o tempo e curtir um som. Claro que até termos o nome Karnak Seti e um line-up estável foram precisos dois anos, quando gravámos a primeira demo “Cosmic Fate” e realizámos o nosso primeiro concerto no último semestre de 2003.

Os elementos dos Karnak Seti já se conheciam ou foi a música que os uniu?
Em geral, todos já se conheciam. Num meio pequeno como a Madeira acabamos por conhecer quase todo o pessoal que partilha as mesmas paixões. De certa forma foi a música que nos uniu. Nunca houve nenhum desconhecido a integrar a banda.

Tinham que idades na altura? 
Entre os dezoito e os 23 anos.

Digamos que os objectivos já estavam bem definidos ou só com o tempo começaram a sonhar?
Tudo começou como uma brincadeira e daí até se tornar num projecto mais sério ainda demorou a assentar em alguns membros. Começámos a definir melhor os nossos objectivos uns anos mais tarde com a gravação de algumas demos - “Karnak Seti” e “Collateral Dreams” -, com a maior divulgação da banda e o feedback que recebemos. Mas sempre tivemos os pés bem assentes na terra. Queríamos fazer mais e melhor, simplesmente.

Que diferenças encontram entre o movimento de peso na altura e hoje na "Pérola do Atlântico"? Pelo que atingiram, sentem que são mais respeitados, abriram portas às bandas mais jovens ou continua basicamente tudo igual, principalmente pelas contingências de ser ilhéu?
Hoje em dia o movimento não é assim tão diferente - poucas bandas, pouco público e poucos eventos. Mas houve uma altura, principalmente depois de começarmos a ter maior divulgação na ilha, a partir de 2004, em que novas bandas surgiram, outras renasceram das cinzas, passaram a haver mais eventos com bandas de metal e o público que aderia era em maior número. O respeito por nós não foi automático. Houve algum e merecido. Sentimos que ajudamos algumas bandas a surgir, directa ou indirectamente, e o movimento em si quando estava estagnado. Porém, há sempre algo mais e, em certas situações, sentimos falta dele ao longo dos anos. Hoje em dia, apesar das bandas e do público (na sua maioria) serem outros, o movimento mantem-se muito semelhante - lento.

Ainda lembram-se da primeira vez em que gravaram? É muito diferente para vós estar num estúdio hoje em dia?
Lembro-me que gravámos a “Cosmic Fate”, em 2003, na garagem com um MiniDisc em apenas algumas tentativas. Claro que o grau de tolerância é totalmente diferente do de hoje e isso deve-se, principalmente, às nossas experiências nos Ultrasound Studios. Essa é a maior diferença. Somos muito mais exigentes quando estamos a gravar no nosso estúdio, algo que não aconteceu nas demos anteriores.

Qual foi o sentimento quando as coisas começaram verdadeiramente a acontecer, nomeadamente com o "Scars Of Your Decay"? Pensaram:  agora é que vamos conquistar o mundo?
Esse foi o primeiro álbum em que conseguimos realmente registar os nossos temas com qualidade comercial. Ficámos todos muito satisfeitos com o resultado e feedback recebidos. Nunca pensámos em conquistar o mundo. Sabemos dos nossos limites e que, sem uma editora, agenciamento e dificuldade de deslocação para promoção do nosso trabalho, não íamos conquistar mundo nenhum. Mas conseguimos divulgar um trabalho com boa qualidade fora do país e demos um passo em frente.

Embora tenham repetido que o feedback ao vosso trabalho foi até hoje maioritariamente positivo, sentem que algo podia ter sido feito de forma diferente? Há alguma "pedra no sapato" no vosso percurso? 
A receptividade foi sempre acima das nossas expectativas, mesmo que a promoção nunca tenha sido a melhor e apesar dos investimentos feitos. Queríamos ter realizado mais concertos, uma promoção mais forte e ter novos contactos dentro do meio. Sentimos que precisamos de mais apoio nessa área.

Muito objectivamente: acham que a vossa carreira podia ser diferente se vivessem noutra zona do globo? Já pensaram em mudar-se de malas e bagagens?
Sem dúvidas, tudo seria diferente. Mas não aconteceu ainda, nem sei se irá acontecer. Vamos tentar fazer com que as cenas aconteçam residindo cá no Funchal.

Fazer parte de uma banda durante doze anos gera, inevitavelmente, a partilha de muitas experiências e até intimidades entre os seus elementos. Daquilo que vos é possível relatar, que momentos destacariam pela positiva e negativa ao longo desse período?
Desde muito cedo houve grande afinidade entre nós todos, mesmo após a saída de alguns elementos. É interessante olhar para trás e dar conta de que não há assim tantos momentos negativos. Se for a destacar um, seria a saída do Nelson após a gravação do “Scars Of Your Decay”. Ele entrou para a banda em 2002 e, mais do que o vocalista, era um grande amigo. Infelizmente, teve de se mudar para a Austrália e até hoje em dia sentimos grandes saudades dele. Mas já tivemos de tudo a acontecer-nos - desde a gota, a bebedeiras e trips que acabaram em confusão... mas aí é que sobressai o quão unidos somos.

Também já realizaram várias deslocações ao continente para actuar, inclusive em festivais conceituados como o SWR Barroselas Metal Fest. O que há a contar dessas experiências, incluindo as amizades e os laços que se estabeleceram?
Todas as nossas deslocações foram marcantes e revelaram-se invariavelmente experiências enriquecedoras. Não só as deslocações para concertos mas também para estúdio. Aliás, a nossa primeira deslocação foi mesmo para as gravações do “Scars Of Your Decay”, quando conhecemos o Daniel Cardoso e o Pedro Mendes. Provavelmente, terá sido a nossa experiência mais marcante como músicos. Durante a “Scars Of My Velhas Tour” abrimos para os Dark Tranquillity e recebemos ajuda de algumas bandas nacionais como os Switchtense, Hacksaw e The Ransack. Criámos laços de amizade e grande respeito que até hoje perduram. Nas nossas últimas deslocações, mais uma vez actuámos no Porto, Moita, Beja e no Metal GDL, que foram, sem dúvidas, os eventos onde criámos mais amizades, nomeadamente com os Holocausto Canibal, Revolution Within e com pessoal da organização. E divertimo-nos bastante novamente com o pessoal dos Switchtense. Fomos muito bem recebidos e o ambiente foi brutal. Sempre que saímos da ilha fomos bem recebidos.

O estrangeiro é um sonho que ainda vos alicia? Já lá estiveram para actuar?
Nunca saímos de Portugal para dar um concerto. É algo que está na nossa “to do list”. De momento, estamos concentrados em compor o nosso próximo álbum mas esperamos, se tudo correr bem, estrear-nos no estrangeiro na promoção do mesmo.

No dia 12 de Agosto participam num festival na ilha da Madeira em que aproveitam para a assinalar os vossos doze anos de carreira. Certamente estará na forja um set especial...
É algo que será feito! O Verão é a melhor altura para dar concertos cá na região, é quando temos muita gente de férias e a certeza de que o evento vai estar cheio para ver as actuações das bandas. Preparamos uma playlist com alguns temas que são marcantes na história dos Karnak Seti e que fazem parte das nossas primeiras demos. Provavelmente, muita gente terá um “blast from the past”.

Tal como já foi referido, o futuro imediato dos Karnak Seti passa pela gravação do seu terceiro longa-duração, o que decorre pela primeira vez sob orientação da própria banda. Como tem sido gravar no vosso próprio estúdio, que rumo estão a tomar as novas composições e para quando um novo disco no mercado?
Decidimos mudar o método de composição para este álbum e foi aí que entrou o estúdio. Nunca foi um método que explorássemos muito, mas devido à vida profissional de alguns de nós, tornou-se a solução mais viável. Temos algumas faixas com as quais já estamos muito satisfeitos, apesar de ser algo diferente do que estamos habituados a ouvir em Karnak Seti. Não sabemos se vamos gravar o álbum na totalidade na Madeira, mas seria positivo se assim o fosse, pois disponibilizava fundos para outras aventuras. Entretanto, temos planos para regravar algumas faixas de demos anteriores, e talvez uma nova, enquanto trabalhamos no próximo álbum.

Nuno Costa



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