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Entrevista - Dream Circus

SEM HORA CERTA PARA ROCKAR
"Acredito que temos o nosso caminho e não somos clones de ninguém"

Quase em "pezinhos de lã", os Dream Circus emergem do underground luso depois de terem feito um percurso inverso. Assumindo que eram até há pouco tempo mais apoiados no estrangeiro, o que se infere da ligação à britânica Casket/Copro Records, o grupo com raízes no Canadá e Reino Unido, agarra-se com unhas e dentes a uma herança rock/grunge que estão convictos de que ainda tem alma e chama a nível global. É com os olhos em Seattle mas com ascendente aceitação em Portugal que nos apresentam dez faixas enérgicas e bem consistentes no álbum de estreia "Land Of Make Believe". Contra o superficial e o "faz de conta", o vocalista James Powell explicou o momento de um projecto que se assume no tempo e rumo certos.

Cerca de três meses após o lançamento de "Land Of Make Believe" que balanço vos é possível fazer em termos de feedback?
É positivo, no sentido que quem tem ouvido o álbum, quase universalmente o tem elogiado e curtido. Mas lá está, sentimos que temos quase uma obrigação de pôr mais pessoal a ouvi-lo, pois sabemos que existem muitas pessoas que gostam dele mas ainda não sabem, porque ainda não o ouviram!

Recentemente editaram o videoclip para "Going Down". Porque escolheram este tema para representar o vosso primeiro disco e o que nos podem dizer sobre o seu guião?
Para dizer a verdade, não foi muito fácil. Muita gente diz isso, mas gostamos mesmo dos dez temas do álbum e, sinceramente, teria ficado contente utilizando qualquer um deles para single ou videoclip. Entretanto, "Going Down" é um tema directo a nível de som e letras e, ao contrário do que se calhar seria de esperar, não queríamos usar um tema mais soft ou acessível, porque queremos dar uma ideia verdadeira da nossa identidade àqueles que nos vão ver e ouvir pela primeira vez.

Os Dream Circus são quase uma banda multinacional, uma vez que os seus elementos têm raízes no Canadá e Reino Unido. De que forma isso se relaciona com a vossa forma de trabalhar e de se promoverem?
Acho que não tem grande influência. Possivelmente, o meu nome ser inglês e o facto de não soar estrangeiro a cantar, pode ter ajudado aqui ou ali... mas em geral, como todos vemos, as bandas de qualidade em Portugal saem cada vez mais para fora e têm mais sucesso no underground europeu e mundial. A nível de como trabalhamos, acho o fazemos como qualquer outra banda que tem uma paixão grande pelo que faz. Somos sérios e ambiciosos, mas fazemos a cena por amor e isso penso que se nota em palco e nas gravações. A ideia é sempre essa: fazer algo sincero... não interessa se és chinês, dinamarquês, ou indiano, isso rende sempre.

Pode haver quem ache que estão deslocados no tempo em termos musicais. Acham que a vossa costela grunge é uma vantagem ou desvantagem nos dias que correm?
É difícil avaliar isso. Se formos ver, as bandas de Seattle (Alice In Chains, Soundgarden, etc.) estão a lançar álbuns novos e a fazer digressões com grande sucesso. Será um ressurgimento desse movimento ou apenas um regresso pontual de algumas dessas bandas? Não sei, mas também não me interessa assim muito. Nós gostamos do que tocamos e não será por maior ou menor disponibilidade do mercado que iremos mudar alguma coisa nesse aspecto. Para além disso, e apesar de reconhecer as nossas influências dessas bandas que e de outras, acredito que temos o nosso caminho e não somos clones de ninguém. Apenas temos influências como todos, e quanto ao estarmos deslocados no tempo, existem muitos movimentos retro onde o pessoal está a clonar música dos anos 60, 70 e 80... É difícil fazer algo onde não se note algum tipo de referência desses períodos tão importantes para o desenvolvimento da musica moderna.

O cenário rock/metal nacional tem características para vos receber de braços abertos ou o underground está muito virado para os sons extremos?
Excelente pergunta. Está, sem dúvida, muito virado para os extremos, mas se avaliarmos o mercado em geral, já não é bem assim. Por exemplo, quando os Pearl Jam vêm a Portugal, vendem incrivelmente, e o mesmo com os Alice In Chains. Portanto, estilisticamente existe abertura do público, de certeza absoluta, e não é pouca.

E os meios de comunicação diferem dos estrangeiros? Sentem mais apoio dentro ou fora de portas?
Agora está a mudar um pouco, mas até há relativamente pouco tempo não haviam dúvidas de que tínhamos mais apoio/divulgação do exterior. Lançámos os nossos dois registos até agora por editoras estrangeiras e agora sentimos que o pessoal olha para nós de outra forma. Mas esse é um filme muitas vezes visto e está longe de ser uma surpresa. O que eu não quero fazer é cair na mesma coisa que muitos fazem, que é falar mal de Portugal e do nosso underground. Têm as suas limitações, claro, mas há muita boa gente por aí a fazer coisas extraordinárias com os meios que têm à disposição.

O que vos fez escolher um título como "Land Of Make Believe"? A superficialidade do ser humano é algo que vos constrange?
É verdade que existe muita superficialidade, muito materialismo, etc., mas também bondade, amor e profundidade. Se calhar o problema é mais do que aquele que é empurrado para cima das pessoas. É o superficial. Pessoalmente, tenho problemas em aceitar a maneira como somos supostos encarar a vida, porque vivemos numa sociedade em que o que tu tens define quem tu és. Dá-se mais valor ao superficial do que à substância.

Como descreve o período que atravessou toda a concepção deste álbum? Podem afirmar que conseguiram todos os objectivos a que se propuseram?
Sinceramente, posso dizer que sim. A ambição de fazer este álbum vem muito de trás e sentimos todos que estamos a tocar com as pessoas certas e que assim tudo é mais fácil a nível criativo. Este processo foi brutal! Curtimos toda a fase de composição e sentimos ao longo do tempo que estávamos a evoluir a cada passo.

Continuam a olhar para todos os vossos temas da mesma forma da que quando os gravaram ou já sentem que deviam ter mudado alguma coisa?
Estamos muito contentes pela forma como saíram, tanto a nível de performance como de produção e som. Portanto, neste momento ainda não surgiu nada que quiséssemos alterar ao vivo, nem nada que se pareça. O álbum também não foi feito à pressa e tivemos tempo para ver bem as coisas, exactamente para que isso não acontecesse.

Com o vosso EP conseguiram uma interessante rodagem no Reino Unido, graças ao acordo com a Copro/Casket. Não foi possível manter essa parceria?
Era possível mas sentimos que era uma boa altura para mudar. Tivemos o convite da Digital Media Records e não pensámos duas vezes.

E estão satisfeitos com o desempenho deles até ao momento?
Sim, posso dizer que as pessoas que lá estão são sérias e honestas, o que por si só já é quase um milagre nesta indústria. E apesar de não ser uma editora muito grande, com grandes recursos financeiros, existe muita disponibilidade para trabalhar, o que pode fazer a diferença.

Quais são os vossos principais planos para 2013? Andar na estrada o máximo possível ou já pensam num próximo registo?
Neste momento, o objectivo é mesmo andar na estrada o máximo possível, apesar de estarmos sempre a trabalhar em ideias e malhas novas. Aproveito para convidar todos a aparecerem nos concertos que iremos anunciar em breve. Vai ser a segunda vaga de espectáculos de apresentação de "Land Of Make Believe". Venham curtir connosco, que vão curtir mesmo!

Nuno Costa


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