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Entrevista Lacuna Coil

VICIADOS EM ADRENALINA
“Mesmo que alguém se torne mais suave ou mainstream, o sucesso não é garantido”

Apesar do exponencial sucesso que atingiram, continuam com os pés bem assentes na terra e com enorme espírito de trabalho, como comprova mais esta entrevista que amavelmente acederam responder. Nas luzes da ribalta está já “Dark Adrenaline”, um novo sucesso de vendas e a consumação de uma fórmula redundantemente eficaz. Os italianos Lacuna Coil são quase o que se pode dizer uma banda de nu-goth, com os horizontes abertos, mas, sobretudo, com uma desconcertante e ímpar capacidade de criar canções memoráveis... e agora com mais alguma dose de peso. Foi sobre mais este triunfante álbum e o dia-a-dia de uma das bandas mais activas do velho continente, que falámos com Cristina Scabbia.

Como vêm dizendo na imprensa, “Dark Adrenaline” é um álbum de vibrações negras baseadas no actual clima sócio-político crispado em termos mundiais. É por isso que soa mais pesado? Será essa a vossa forma de expressar alguma revolta?
Bem, realmente não nos podemos sentir muito optimistas em relação à actual situação global. Com tudo o que se está a passar, é difícil olharmos em frente sem ficarmos desmotivados. Mas o nosso novo álbum tenta mostrar o lado positivo de tudo, mesmo quando não o parece haver. Para que as coisas melhorem, às vezes é inevitável passarmos por tempos duros.

Ao mesmo tempo, não se afastam muito das vossas raízes. Os coros e as melodias viciantes prevalecem. Nesta altura, podemos dizer que detêm uma fórmula que não conseguem evitar?
Sabemos bem o que funciona. Gostamos de fazer muitas experiências e, por vezes, surgem temas que soam muito diferentes dos Lacuna Coil. Estes colocamo-los de lado. Mas na maioria das vezes sabemos imediatamente quando algo vai funcionar e soar bem. Poderíamos dizer que temos uma espécie de fórmula que tentamos aplicar, mas vamos também explorando novos caminhos e possibilidades quando temos o feeling de que vão resultar.

Uma dos célebres pensamentos que emitiu recentemente é o de que toda a gente está a ficar mais suave, excepto os Lacuna Coil. Sei que tem sido assolada com perguntas sobre isso, mas a minha questão é: pode isto estar relacionado com a queda nas vendas de discos e com a consequente tendência dos músicos escreverem de uma maneira mais “segura”, mais mainstream?
O problema é que, mesmo que alguém se torne mais suave ou mainstream, o sucesso não é garantido. As pessoas podem continuar a não gostar da tua música. Portanto, para mim a questão é que ao menos deves tentar alcançar algo ao criar o que gostas. Se escreveres música de baixa qualidade, provavelmente vais ficar muito frustrado ao saber que o que te paga as contas é algo de que não gostas! Portanto, vale mesmo a pena tentar chegar a algum lado a fazer o que realmente desejamos.

Os Lacuna Coil estão a tornar-se cada vez maiores a cada álbum que passa – as vendas o comprovam. Seguindo a questão anterior e o facto de que se mostram mais pesados desta vez, sentem que atingiram o ponto em que, independentemente do que façam, vão ter sucesso? Algo parecido com o que se passa com os Metallica?
Não, isso nunca será uma garantia. Apenas fazemos o que gostamos e, aparentemente, as pessoas gostam de nós! Pesados ou mais suaves, não interessa. Como disse antes, preferimos fazer algo que gostamos de tocar.

Numa entrevista deu a entender que não estava totalmente satisfeita com a sonoridade do anterior “Shallow Life”. Quer explicar isso e apontar os elementos que possam fazer de “Dark Adrenaline” o vosso melhor disco de sempre?
Não acho que a sonoridade do “Shallow Life” seja má, de todo. Continha, apenas, temas diferentes uns dos outros. O material que escrevemos para o “Dark Adrenaline” é, realmente, mais pesado e requereu um outro tipo de som. Penso até que tivemos sorte ao alcançá-lo. Nem sempre é fácil atingir um certo resultado. Desta vez, penso que conseguimos exactamente o que queríamos!

Vocês não costumam escrever na estrada. Porquê?
Há muito coisa a passar-se enquanto estamos em digressão para que possamos estar suficientemente concentrados em compor. Por vezes, recolhemos ideias, mas nunca escrevemos um tema na totalidade. Precisamos de estar bem relaxados e concentrados. É por isso que todas as vezes compomos um álbum fazemos uma pausa.

Alguns temas neste trabalho são mais cinemáticos. Sei que adora bandas-sonoras…
Penso que existem por aí óptimas bandas-sonoras e adorámos, sem dúvida, compositores como Danny Elfman e John Williams. Gostamos também muito de material da animação Manga. Por vezes, o Marco (baixista) vê filmes enquanto compõe, à noite. Por isso, suponho que é esta a razão porque os nossos novos temas soam assim.

Há algum tempo que se afastaram dos padrões "góticos". Isso quer dizer que, por exemplo, não há hipóteses de gravarem um disco com uma orquestra, pois seria cliché?
(risos) Não sei. Não precisas de tocar gótico para fazer algo assim. Por isso, penso que há sempre uma hipótese. De qualquer forma, não há, neste momento, nenhum plano para gravarmos um disco desse género. Mas no futuro, quem sabe?”

De certa forma fiquei surpreendido como uma afirmação vossa, uma vez que são como que um blockbuster do metal. Disseram que o “Dark Adrenaline” seria o vosso último disco físico. Estão mesmo certos disso?
A sério? Não me recordo de ter dito isso, mas talvez alguém o tenha feito. Não acho que o “Dark Adrenaline” seja o nosso último disco a ser editado no formato convencional, a menos que os CD’s saiam do mercado. Mas penso que esta alternativa ainda não é concretizável. As edições digitais estão a ganhar força, mas continua a haver muita gente que compra discos. Enquanto isso acontecer, vamos continuar a lançar álbuns das duas formas.

Os Lacuna Coil tornaram-se numa banda muito ocupada, quer em estúdio, quer na estrada, há largos anos. Esta exigente e cansativa rotina já vos fez alguma pensar em parar?
Acho que não nos podemos dar a esse luxo. Da maneira que a indústria musical está e com a quantidade incrível de bandas que por aí andam, isso torna-se impossível. Penso que devemos continuar enquanto nos sentirmos fortes e espero chegar a um ponto em que, finalmente, possamos fazer as coisas mais calmamente.

Sei que gosta de cozinhar, videojogos, dormir, cinema, animais, estar com os amigos, desenhar, pintar... afinal de contas, tudo o que uma pessoa normal faz. Contudo, a sua vida na estrada modifica-se muito? Há ocasiões em que sente grandes saudades de casa?
Claro que somos pessoas normais, com hobbies normais. Apenas somos sortudos de podermos fazer o que gostamos para viver. Porém, às vezes torna-se duro estarmos longos períodos longe de casa, longe da família e dos amigos. Acho que não existe um emprego perfeito.

Há pouco tempo tocaram na Escócia e Irlanda, ambos sítios onde não costumam tocar. É um claro sinal da vossa expansão enquanto banda?
Tentamos ir ao máximo de sítios possível, mesmo àqueles onde nunca tivemos. Infelizmente, não é fácil ir a todos, principalmente se não fazem parte de uma digressão ou se não estão na nossa rota. Também é preciso que faça sentido financeiramente.

Nuno Costa


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