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Entrevista Echidna

[DE]MENTE INSOCIAL
“Foi decisivo termos percebido da vontade de compor outro álbum”

Já são uma das coqueluches do metal nacional depois de um convincente álbum de estreia em 2008, “Insidious Awakening”, e presenças em festivais de referência. Todavia, as naturais analogias estéticas de início de carreira deixavam ainda algumas ressalvas quanto à capacidade da banda se superar num segundo capítulo. E para mostrar que nem sempre é preciso ser-se original para se criar um bom disco, a banda conseguiu dar um boost no seu thrash/death metal melódico sacando um novo álbum, "Dawn Of The Sociopath", pleno de maturidade, energia e consistência. O segredo, entre outros, está na predisposição para "trabalhar e trabalhar"... segundo o baixista Miguel Pinto. 

Os últimos três anos da banda foram manifestamente intensos em virtude do óptimo feedback ao vosso álbum de estreia. Que momentos se podem destacar deste período?
Sim, julgamos que os últimos três anos foram bastante marcantes para o rumo da banda e podemos considerar pelo menos três momentos decisivos: o feedback que tivemos com o “Insidious Awakening” que nos fez sentir que tínhamos cumprido um objectivo como banda, a oportunidade de tocar em festivais e mostrar a nossa música a um público cada vez maior e, finalmente, termos percebido ao fim desse tempo que tínhamos meios e vontade de compor outro álbum.

Quando se está a aparecer para o mundo da música e a actuar ao lado de grandes nomes, há a tentação (sã, diga-se, mas de algum modo consciente) de estabelecer contactos com pessoas influentes e tirar algum partido para o futuro (vulgo “abrir de portas”). Houve algum episódio deste género em ocasiões como, por exemplo, o Vagos Open Air?
Como banda sempre fizemos questão de manter relações positivas com as várias pessoas que vamos encontrando pelo caminho, sejam produtores de eventos, bandas ou técnicos de som. Vamos mantendo amizades porque fazemos isto com alegria e quem nos conhece sabe isso. Obviamente que estas amizades ocorrem naturalmente e depois algumas delas facilitam ou não outro tipo de oportunidades. Mas da nossa perspectiva isso é um dos benefícios naturais de se andar “na estrada” há seis anos. Seria difícil fazer as coisas de maneira a que esses conhecimentos não existissem.

Antes de falarmos propriamente da composição e gravação de “Dawn Of The Sociopath”, interessa abordar um dos momentos mais marcantes no passado recente da banda: a saída do Pedro “Frik” Fonseca. Que motivos estiveram na origem da sua saída e como se dá o ingresso do Bruno Capela?
Em relação aos motivos da saída do Pedro tiveram que ver com questões normais de incompatibilidade e de rumos que se separaram. Obviamente que essa situação foi marcante para a banda mas mantivemos sempre uma postura optimista, acreditámos que seria possível continuar exactamente no mesmo rumo com outra pessoa encarregue das vozes. O ingresso do Bruno foi bastante natural. Já o conhecíamos de concertos e de outras ocasiões e quando entrámos em contacto com ele e lhe explicámos qual era o nosso objectivo ele mostrou muito entusiasmo e vontade de se integrar no nosso projecto.

Como distinguiria os dois em termos vocais e pessoais?
São pessoas completamente diferentes tanto a nível vocal como pessoal. É um bocado difícil explicar o que os diferencia mas o facto de terem personalidades distintas faz com que cada um deles traga algo de novo para a banda. O encaixe harmonioso no conjunto é provavelmente a parte mais importante.

Uma escuta minimamente atenta a “Dawn Of The Sociopath” é suficiente para perceber uns Echidna mais seguros, sólidos e maduros. A que isso se deve? A uma pré-produção mais minuciosa, à experiência acumulada na “estrada” ou simplesmente à inspiração na hora de compor?
Na nossa opinião é um bocado desses três factores. Foi muito importante a pré-produção neste álbum precisamente porque vínhamos de dois anos de “estrada” e de um processo de composição mais criativo comparativamente ao álbum anterior. Felizmente esses factores acabaram por se manifestar num trabalho que, na nossa opinião, é bastante mais coeso.

O papel de Jens Bogren foi muito importante para o som do disco? O porquê da escolha?
Foi tudo uma questão de não ter medo de abrir portas a novas experiências. O nosso objectivo era mudar um bocado o processo em relação ao álbum anterior e ver onde isso nos levava. Queríamos alguém que tivesse uma grande experiência dentro do género e que ajudasse o som do nosso álbum a ter algo diferente.

Quer resumir-nos o conceito deste álbum ou até mesmo relaciona-lo com o nosso quotidiano? Há um lema da história, por assim dizer, que as pessoas devam reter?
O conceito é o acompanhar do desenvolvimento de um sociopata e das transformações da sua mente no processo. Fala de um indivíduo que se apresenta como um membro perfeitamente normal da nossa sociedade mas ao mesmo tempo tem um grande lado negro que vai libertando à medida que vai aceitando aquilo que é. Da nossa perspectiva, o que pretendíamos com o álbum era explicar o processo mental de alguém que não consegue sentir empatia e o que isso significa quando esse indivíduo é inserido numa sociedade moderna.

A opção por um disco conceptual afigurou-se natural nesta fase? De que forma isto condicionou a escrita musical?
A parte instrumental foi feita de forma natural sem ter demasiados constrangimentos impostos pela temática. Mas quando acabámos o processo de composição começámos a ajustar as músicas para esse fim e já tínhamos bem planeadas as transições entre músicas e onde iriam encaixar os interlúdios. Foi um percurso perfeitamente natural porque queríamos experimentar algo de novo e, neste caso, manifestou-se na mudança de temática. Se calhar num próximo álbum a temática pode ter ainda mais importância no som do álbum ou então pode ser um trabalho mais directo.

A entrada do Bruno deu-se numa fase já adiantada, creio, da composição ou gravação deste novo disco. Como decorreu a adaptação dele ao material e, nomeadamente, às letras que foram escritas pelo Pedro? Ou ainda, qual poderá ter sido o seu input em termos criativos, se é que houve tempo para isso?
Na nossa opinião, não poderia ter corrido melhor. O Bruno entrou com uma grande vontade e com muitas ideias relativamente ao que já estava escrito. A partir do momento em que começámos a gravar as vozes tudo fluiu da forma mais natural possível e não houve sequer momentos de menor ritmo nas gravações por causa disso. O Bruno ainda alterou, removeu e acrescentou vocalizações, por isso, o seu input foi extremamente valioso e trouxe uma opinião fresca em muitas situações.

Em que aspectos acham que foi mais acentuado o vosso crescimento/progresso neste disco? Em termos técnicos, de escrita, de arranjos, de sonoridade?
No nosso entender, o maior crescimento foi termos conseguido fazer um álbum com um tema coerente e a nível das estruturas das músicas tentarmos corrigir alguns erros do passado. Queríamos que este álbum fosse muito menos previsível na evolução das músicas e obviamente que os dois anos de “estrada” ajudaram a solidificar a parte técnica.

Com um primeiro disco que causou um importante impacto, partem para a fase “Dawn Of The Sociopath” com uma expectativa redobrada? Estão entusiasmados mas ao mesmo tempo com os pés na terra?
Como banda partimos para este álbum com o optimismo e ingenuidade com que partimos para o anterior. O nosso objectivo foi sempre fazer o melhor trabalho possível e claro que estamos entusiasmados para como vai correr este próximo ano. Podemos dizer que, por defeito, temos sempre os pés na terra e sabemos que não é fácil derrubar determinado tipo de “portas” dentro deste estilo de música. Mas o importante é haver vontade para continuar a tentar.

Quais serão os métodos e mecanismos necessários nesta fase para continuarem a dar seguimento à boa campanha que têm feito ao longo dos últimos anos?
Trabalho e mais trabalho. No que diz respeito à banda, nós estamos perfeitamente conscientes de que tudo isto depende de nós e da vontade com que abordamos as barreiras que se atravessam no caminho. Obviamente que depois há muitas frentes em que temos que trabalhar mas, essencialmente, somos nós os cinco que temos que continuar a empurrar este projecto na direcção correcta. O nosso grande objectivo é poder continuar a mostrar a nossa música e continuar a trabalhar para que daqui a dois anos estejamos a gravar outro álbum.

Nuno Costa

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