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Entrevista Human Sculpture

FUTURO DICOTÓMICO
“Hoje em dia praticamente tudo já foi escrito e tocado”

Com uma vasta experiência no underground finlandês, os órgãos que compõem os recentemente formados Human Sculpture conseguem expelir num curto espaço de tempo um também curto mas interessante trabalho de estreia. Falamos do EP “Our World/Torn Down” que manifesta a convicção de que o death metal tipicamente nórdico, com uma veia old school mas sempre atento a novas correntes pode ainda resultar em trabalhos intensos. Parece evidente que o colectivo tem potencial, mas também uma grande herança para defender, ou não fosse a Finlândia um dos sítios onde se consome mais Metal per capita. O guitarrista Jussi Salolainen comprovou isso mesmo e explicou como se entrosarem tão bem cinco elementos que não se conheciam até 2010.

Após várias experiências no underground, o que se pode considerar como o grande motivador da formação dos Human Sculpture?
Não existiu uma razão muito particular. Eu tinha esperança de encontrar pessoas que encaixassem nos moldes de um novo projecto e procurei-as através de um fórum finlandês. Nenhum dos elementos da banda se conhecia. Por isso, considero que tivemos uma enorme sorte de formar um line-up tão forte.

Vivem com algum tipo de pressão no sentido de criarem algo, de alguma forma, inovador? Ou esta é uma falsa questão hoje em dia?
Hoje em dia praticamente tudo já foi escrito e tocado. Todo o material novo que é editado é inspirado em velhas normas. Creio que é a combinação dos elementos já criados que pode gerar algo eventualmente fresco e novo. Contudo, ao mesmo tempo, sempre é possível detectar algo na música actual que já foi ouvido. No fundo, até agora, é isto que temos feito.

Sentem algum receio de não suplantar o suposto problema de virem a ser considerados mais uma banda no meio de milhares de outras?
Não pensamos neste assunto deste ponto de vista. Preocupamo-nos em fazer a nossa própria “cena” e mantermo-nos abertos e despertos para outras influências. Não sentimos a pressa de criar algo que possa levar o nosso som a entrar numa espécie de choque de valores.

E registou-se algum tipo de urgência para concluir este EP? A pergunta surge pela constatação da intensa concorrência do mercado actual e na importância dos timings.
Não tivemos qualquer pressa. O mais importante para todos era atingir o melhor som possível para o disco e, na verdade, o resultado obtido no D-Studio excedeu as nossas expectativas. Fomos para estúdio com os temas bem ensaiados e apenas o que tivemos que fazer foi arranjar pequenos detalhes. Todo o trabalho foi registado, misturado e masterizado em cinco dias. Para além disso, como artista gráfico, fiz a banda poupar algum dinheiro com a concepção da capa.

Estão satisfeitos com o feedback obtido até ao momento?
Sem dúvida. Não temos nenhum aspecto de que nos queixarmos no EP. Temos tido toneladas de reacções acima da “escala”. Ficamos também satisfeitos por vermos algumas opiniões mais “extremas”, porque são estas que tendem a fazer-nos pensar e a criar discussão. Contudo, a média das pontuações das reviews que nos têm sido dirigidas é bastante positiva, ainda que saibamos que não é possível agradar a todos.

Talvez o principal objectivo neste momento seja ir para a estrada e tocar o máximo possível. Já existem planos neste sentido?
Até ao momento, temos três concertos agendados para Dezembro, o que não deixa de ser mau para um mês tão concorrido. Posteriormente, vamos agendar mais espectáculos e já planeamos uma nova gravação que ainda não decidimos se será destinada a um EP ou a um álbum.

Eu diria que o vosso som funde elementos tradicionalmente europeus com outros norte-americanos. Com quais se identificam mais?
Preferimos adoptar, ainda que moderadamente, influências finlandesas nas nossas melodias, mas o mais importante é que trabalharmos para obtermos o nosso próprio som. Queremos ainda fazer com que a brutalidade ande de mãos dadas com a melodia, embora a brutalidade seja a nossa prioridade. Afinal de contas estamos a falar de death metal.

Para além da parte musical, o que vos demove em termos de mensagem?
As nossas letras representam partes de um possível futuro, bom e mau. O ser humano tem os meios para progredir ou definhar. É nisto que se baseia o título deste trabalho. As estátuas são, por norma, construídas como manifesto de glória, mas é frequente serem, mais cedo ou mais tarde, abatidas. Das ruínas nascem uma nova era, é basicamente isto que transmitimos nas nossas letras.

Citando Alexi Laiho (Children Of Bodom), “o Metal na Finlândia é mainstream”. Qual é a sua opinião sobre esta afirmação?
Penso que ele tem razão em certos aspectos. Um bom exemplo de que o Metal na Finlândia atinge as grandes massas de público é os Heavisaurus, pois trata-se de Metal bem tocado mas para crianças. O nosso país está repleto de vários tipos de Metal que atingem uma audiência muito vasta. Por exemplo, o álbum “Exit” dos Rotten Sound atingiu o 22º lugar do Top 40 Finlandês. Se dividíssemos os vários géneros em pequenas partes, talvez o Metal pudesse ser uma maioria no nosso território, mas, no geral, não está sequer perto disto.

Recuando um pouco no tempo em relação às vossas carreiras. Que momentos apontaria como mais marcantes?
Destacaria o concerto dos Icarians (dos quais fazia parte) na abertura dos Rapture, os quais são uma banda de death/doom metal conhecida na Finlândia. De facto, foi uma experiência fantástica porque eu costumava ouvir muito a banda nos tempos do liceu. Referia ainda alguns reveses que sofremos causados pelo nosso baterista que tinha acabado de tirar a carta de condução e passou três vermelhos em Tampere! (risos) Para além disso, lamento recordar que tivemos problemas com pagamentos. Por vezes, acabámos por não receber nada.

Com apenas um ano de existência, o que acabaram por fazer para além de gravar o vosso EP de estreia?
Basicamente, passámos a maior parte do tempo a procurar um local decente para ensaiarmos e compor. Os temas do “Our World/Torn Down” ficaram quase prontos ainda em 2010 e não os alterámos muito até às gravações. Pretendemos no nosso próximo registo trabalhar muito mais em volta do novo material do que fizemos com o que está neste EP.

Nuno Costa

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