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"Lulu" para sempre

Provavelmente, neste momento, o mais sensato seria não tocar mais no assunto. A controvérsia e reprovação são tão grandes em torno de “Lulu” que o melhor seria mesmo ter os pozinhos mágicos para apagar isto da história da música e, principalmente, da carreira dos Metallica… ou não acabe Lou Reed abafado a um canto.

É neste sentido que a opinião pública se move e pronuncia sobre um projecto improvável e isolado, para alívio de muitos, mas que ninguém deixou de seguir com atenção. Certo, o marketing é subliminar e os intervenientes (pelos menos em parte) são impossíveis de ignorar. Entrou pelos olhos de todos e agora agitam-se fãs e opinion makers, desde os conservadores aos visionários, dos excêntricos aos indulgentes. Mesmo assim, “Lulu” é um fracasso consumado, até porque a música é assumidamente uma indústria, cada vez mais. E alguém tinha dúvidas?

Será tão e somente aqui que este ousado projecto idealizado por Lou Reed, com base nas obras “O Espírito da Terra” e “Caixa de Pandora” do dramaturgo alemão do início do século XX Frank Wedekind, terá falhado e deva ser “excomungado”. Quanto à moral, integridade e ética é intocável.

Sabia-se, à partida, que daqui não poderia resultar um trabalho musicalmente apelativo em termos de massas, até porque basta pôr a voz de Reed por cima para tudo ficar demasiado estranho, bizarro e intragável. O homem vive no seu mundo, abstracto e bizarro. Segundo as “normas”… Mas é verdade que surpreendeu a falta de inspiração do mesmo.

De qualquer forma, o que interessa reter, numa perspectiva séria e construtiva (sem condutas gratuitamente difamatórias), desta experiência? Os Metallica não sairão minimamente prejudicados em termos de imagem e popularidade, muito menos de conjuntura futura, como tantos “visionários” profetizam. Lou Reed? Está no auge do seu “sucesso”. Ao menos toda a gente passou a saber quem é o misterioso vocalista dos The Velvet Underground que atingiram um sucesso relativo na década de 70. Suicidou-se artisticamente com trabalhos como “Metal Machine Music” e não me parece que quisesse reverter a situação ao aliar-se aos Metallica, pelo menos com uma obra como “Lulu”. Ou a ingenuidade seria tanta num elenco inegavelmente experiente?

Nunca vamos saber, talvez, as razões mais objectivas que deram origem a um projecto destes e legitima-se qualquer tipo de teoria, mas o que parece mais óbvio é que não houve grande preocupação com a sua causa-efeito. Ou então tudo foi um inexplicável e insólito erro de casting e os Metallica e Lou Reed estão completamente estanques de ideias.

“Lulu” é um mau disco, sem dúvida. Parco em estímulo e estéril em termos criativos, mas traz à luz do novo século um dos maiores actos de independência de um artista de nomeada. Ainda ninguém percebeu que é esta a atitude que faz dos Metallica um dos projectos mais respeitáveis e influentes que o metal alguma vez teve e que deviam ser seguidos como exemplo também nisso? Com uma conta recheada era mais fácil ficar estático a gozar o sucesso. Mas, pelos vistos, o grupo californiano ainda tem o gozo pelo desconhecido e isto é incensurável.

Que se saiba, a arte não fica refém de normas preconcebidas, da mesma maneira que qualquer indivíduo não está refém de a absorver. Caso contrário, estaríamos num mundo maniatado e coercivo (e será que não estamos?). Posto isto, que venham muitas mais “Lulus” pelo caminho.

Nuno Costa

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