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Breve História do Metal Português

"Breve História do Metal Português" - Parte 1 - Os anos 60
"Breve História do Metal Português" - Parte 2 - Os anos 70 
"Breve História do Metal Português" - Parte 3 - Os anos 80 (Tomo 2)
"Breve História do Metal Português" - Parte 4 - Os anos 90

Parte 3 - Os anos 80
Tomo 1: 1980 / 1983 - O boom do Rock Português
(Resumo – os textos detalhados serão disponibilizados em breve)

Texto redigido ao abrigo do Novo Acordo ortográfico

Musicalmente, os anos 80 portugueses ficaram marcados pelo fenómeno que se designaria “boom” do Rock Português, iniciado no verão de 1980 por Rui Veloso através do seu álbum de estreia, Ar de Rock (apesar do curioso trocadilho com “Hard Rock” o registo apresenta estruturas eminentemente Blues Rock, algumas tendentes para o up-tempo mas sem enveredar por sonoridades pesadas). O seu pioneirismo vale-lhe o errado epíteto de “pai do Rock Português”, que inúmeros jornalistas musicais em particular e de cultura em geral vêm usando persistente mas ignorantemente nas últimas três décadas.

Dado que o riquíssimo historial do Rock português desde a segunda metade dos anos 50 – de que foram pioneiros, por exemplo, José Cid, fundador dos Babies; Daniel Bacelar ou Zeca do Rock, entre inúmeros outros – não se compadece com pura ignorância, o epíteto correto e justo a atribuir ao Rui Veloso será de “pai do boom do Rock Português”. Esclarecido que está este ponto, prossigamos.

O êxito retumbante de Ar de Rock inspira a formação de inúmeras bandas, ansiosas por conquistar uma parcela do sucesso que o músico do Porto logra alcançar. Em simultâneo, e perseguindo o mesmo objetivo, numerosos grupos de baile convertem-se apressadamente em bandas rock, não raras vezes sob pressão das editoras.

Criam-se vários selos, como a Roda Rock, a RCS, a Star, a Rotação ou a Materfonis, muitos deles praticamente sem condições de laboração, frequentemente de existência tão efémera quanto os agrupamentos cujos discos lançam. Aliás, neste período, se houve bandas que não editaram mais do que um single, também houve selos cujo historial de lançamentos se resume a esse disco. De forma natural mas instantânea, o fenómeno impulsiona a indústria musical como um todo.

Verifica-se a profissionalização das empresas de som e luz, bem como de management e booking. A oferta de espetáculos ao vivo aumenta exponencialmente. O retalho de instrumentos prolifera. Neste contexto, os concursos de Rock – na época também pomposamente conhecidos como “festivais de Rock”, embora o não fossem - grassam por todo o território nacional, assumindo crescente importância como mostra das novas bandas portuguesas. O Festival Só Rock, realizado em 1981 em Coimbra, é o mais emblemático desse início de década.

Cantar em português torna-se um imperativo de sucesso. Mesmo as bandas que sempre haviam usado a língua de Shakespeare como forma de expressão mudam a sua forma de comunicar para o Português. Segundo Aristides Duarte no 1º volume de Memórias do Rock Português as únicas exceções foram os prog-rockers Tantra (que, sempre tendo cantado em Inglês, lançam em pleno “boom” o álbum Humanoid Flesh, cantado em Inglês) e os Go Graal Blues Band. É nesta fase que surgem referências do Rock Português como GNR, Táxi, Rádio Macau, Adelaide Ferreira, Street Kids, Salada de Frutas, entre muitos outros. A Pop de artistas como os Heróis do Mar ou António Variações marca uma época.

A 18 de dezembro de 1980 Rui Veloso estreia em concerto o mais emblemático clube de Rock ao vivo alguma vez criado em Portugal: o Rock Rendez Vous (RRV), localizado na Rua da Beneficência, em Lisboa. Fundado pelo empresário Mário Guia, ex-músico de bandas como os Objetivo, o RRV torna-se o expoente máximo dos concertos em Portugal e a montra privilegiada dos novos grupos nacionais. Aí, tocam inúmeras bandas de Metal nacionais emergentes.

Nalguns domingos à tarde a programação ao vivo é substituída pela passagem de “telediscos” da MTV, num ecrã gigante, oportunidades únicas de que na época os fãs dispunham para aceder visualmente a temas de bandas como Kreator, Iron Maiden, Helloween, Metallica ou Nuclear Assault, entre incontáveis outras. É necessário recordar que, então, não existia TV por cabo em Portugal e a Internet constituía nada mais do que uma miragem.

No que se refere aos concertos internacionais nesta época a oferta aumenta timidamente, com várias bandas a visitar Portugal até meados da década: Ian Gillan Band (que já haviam tocado em Portugal a 1 de dezembro de 1979), Narazeth, Uriah Heep, Cheap Trick, UFO, Status Quo, Girlschool, Rainbow + Girlschool, Thin Lizzy, Whitesnake, Kiss + Helix, Diamond Head + Spider e, finalmente, Iron Maiden.
- Continua -

Os grupos que fizeram história
Na primeira metade dos anos 80, quando o conceito de Underground era ainda desconhecido em Portugal, várias bandas de Heavy Metal nacionais lançaram discos. Embora na sua maioria hajam obtido importante exposição mediática, hoje são, infelizmente, meras pérolas esquecidas. São elas que vamos conhecer.

Originalmente designados Conjunto Típico Torreense e atuando como grupo de baile, os CTT (ver vídeo) assumem esta designação em 1980, quando enveredam por uma linguagem Rock, na tentativa de aproveitar o boom do Rock Português. Aliás, o quinteto formado por Rui Plácido (voz), Monteiro e Hernâni (guitarras), Teixeira (baixo), Augusto Alves (teclados) e Gabriel Matos (bateria) passa brevemente pelo Heavy Metal com o lançamento do single Destruição, cujo tema-título se torna um êxito, com direito a teledisco (designação, à época, dos videoclips). No entanto, à parte uma ou outra passagem mais arrojada nos temas do seu repertório e o facto de abrirem o concerto das Girlschool a 10 de dezembro de 1981 no Pavilhão dos Olivais, em Coimbra, nada mais liga a banda ao Som Eterno.

O mesmo não podemos afirmar dos NZZN (Myspace) que, imbuídos do verdadeiro espírito do “Rock da pesada”, iniciam a carreira em 1980 tocando ao vivo temas dos Van Halen, Led Zeppelin, Black Sabbath ou AC/DC. Posteriormente enveredam pela composição de originais, editando os singles Vem daí (cujo tema-título alcança o lugar cimeiro do programa radiofónico “Rock em Stock”) e Tripe Fixe, bem como o LP Forte e Feio. Apesar da participação em icónicos programas televisivos e radiofónicos que lhes proporcionam significativa exposição mediática, traduzida em numerosos concertos, o grupo encerra funções em meados da década, realizando um único espetáculo de reunião a 30 de dezembro de 1994 no Ruína Bar em Albufeira, no Algarve.

Também formados em 1980, os não menos importantes ROXIGÉNIO (Myspace) têm no frontman António Garcêz (ex-Psico, ex-Pentágono, ex-Arte & Ofício) um dos seus maiores trunfos. Filipe Mendes (guitarra, ex-Psico, ex-Heavy Band), José Aguiar (baixo, baixista dos Tarântula há mais de 20 anos) e Betto Palumbo (bateria) completam a formação original, que sofre várias alterações. Para a história do Heavy Metal nacional ficaram variadíssimos concertos, com destaque para aquele dado na edição de 1982 de Vilar de Mouros; e os álbuns Roxigénio, Roxigénio 2 (que inclui o êxito «Stiff Nicked Obstinated») e Rock ‘n Roll Men (um fracasso comercial), além do single Song at Middle Voice.

Na Nazaré, igualmente em 1980, surgem os ALARME (Myspace), fundados por Carlos Cavalheiro, ex-vocalista dos Xarhanga e 5 Napolitanos. Com a formação completa por Altino Borda D’Água (guitarra), Orlando Borda D’Água (baixo) e Vítor Bombas (bateria) o grupo vence no ano seguinte o Festival [NR: concurso de bandas] Só Rock, cujo prémio reverte na gravação e edição do single Desconto Especial, bem recebido em termos comerciais e com o tema «Autocarro Diariamente» no Lado B. A 11 de agosto de 1982 o grupo abre para os britânicos Dr. Feelgood na Praça de Touros da Figueira da Foz e a 3 de dezembro do mesmo ano faz a primeira parte do concerto dos Rainbow (com as convidadas especiais Girlschool) no Dramático de Cascais. Os Alarme dão por finda a carreira no ano seguinte, apesar das várias aparições televisivas e airplay radiofónico. Em 2009 a banda regressa ao ativo, lançando em janeiro do ano passado o álbum de estreia, Estamos Aqui!, que além do single do mesmo nome (com direito a videoclip) inclui regravações dos temas editados nos anos 80 e vários inéditos. Atualmente integram o grupo Carlos Cavalheiro (voz e baixo), Abílio Caseiro (guitarra) e Abílio Ferro (bateria).

Também fundados no início da década de 80 os BICO D'OBRA (ver vídeo), da Bairrada, incluem na formação Jorge Caetano (voz, baixo), José Arromba (guitarra), Arnaldo Nolas (teclados) e Filipe Fininho (bateria). Participam em 1981 na Grande Maratona do Rock Português, no Pavilhão do Cevadeiro, em Vila Franca de Xira, e na compilação Rock Português, do mesmo ano. Para a posteridade ficam os singles A Rasgar é C’a Gente S’Entende e Portugal / Os Fora da Lei, ambos editados pela Roda Rock, subsidiária da J.C Donas, com ligações à Valentim de Carvalho.

Algum êxito obtêm igualmente os AZVZ (ver vídeo), com a edição do single Passageiro da Noite e de um álbum. Integram a banda o vocalista Paulo, o guitarrista Rui, o baixista Zé Soares, o teclista Nando, o saxofonista Zé Luís Gutierres e o baterista Zé Luís. A 17 de abril de 2011 a banda sobe ao palco do Heritage Bar, em Loures, na apresentação do álbum de estreia dos Primeiro Instinto, para homenagear o falecido cantor original.

O início dos anos 80 vê também Francisco Landum (voz e guitarra, futuro Ibéria) formar os TNT (ver vídeo), cujo line-up se completa com C. Frederico (guitarra), C. Casimiro (baixo) e V. Cruz (bateria). O single de estreia, Tudo Bem, vale ao grupo um êxito significativo, não repetido com os singles Gatinha de Luxo e Miragem, embora o quarteto obtivesse ao longo da sua curta carreira bom airplay na rádio e TV, por via do teledisco de «Tudo».

Por outro lado, os VASCO DA GAMA (Myspace) formam-se em 1982 com Luís Sanches na voz, Carlos Jorge Miguel na guitarra, Tó Andrade no baixo e Gil Marujo na bateria. De carreira breve, porém marcante, deixam para a história do Som Eterno português o álbum homónimo, lançado em 1983 pela Discossete. Em 1988 a editora lança um 3-way split com três temas dos Vasco da Gama, as canções do primeiro single dos Ibéria e quatro temas dos Samurai. Entre os mais importantes espetáculos dos Vasco da Gama contam-se indubitavelmente a primeira parte dos Diamond Head e seus convidados especiais Spider no Pavilhão D’Os Belenenses, em Lisboa, a 11 de maio de 1984; e dois concertos a 21 e 22 de junho seguinte no Rock Rendez Vouz.

Mais obscuro é o único single que LEONEL AUXILIAR (ver vídeo) lança a solo pela Metrosom, em 1983, com os temas “Canção” e “Vídeo”, numa linha de Hard’n Heavy Progressivo, claramente à frente do seu tempo. Captado na Alemanha, o registo deveria incluir mais duas canções, entre as quais «Diabo à Solta», que a editora recusa. No single o cantor tem acompanhamento da banda alemã Frapan. Cidadão do mundo, em 1985 Auxiliar compõe 12 temas para um álbum que deveria intitular-se Guerrilha Urbana, tendo mesmo gravado algumas canções na Finlândia, que porém nunca chegam a ser editadas.

Também os FLUXUS gozam de modesta e breve exposição mediática não longa da sua curta carreira. Formados em 1981 incluem na formação Carlos (voz), Quim Zé e António (guitarras), Armando (baixo e assobios), Pratas (teclados) e João Lúcio (bateria). O único registo editado, o single Puto Quéque / Portuguese Woman (som selo Arnaldo Trindade / Orfeu), aborda a música numa linha Rock / Blues, com peso substancialmente acrescido no tema «Puto Quéque».

Menos glória ainda bafejou os STRATUS (ver vídeo), um dos inúmeros grupos forjados à pressa pelas editoras em pleno “boom” do Rock Português visando meramente o lucro fácil. Originária de Coimbra, a banda vê o seu curto trajeto resumir-se ao mal produzido single Um Chuto no Quarto, de 1982, escrito pelo líder, J. Carvalho, e editado pela Vimúsica. Segundo o blogue «Under Review» “o seu som era primário e mal produzido, podendo ser caracterizado por uma espécie de hard rock terceiro mundista, facto ainda mais acentuado pelo teor dos títulos das suas canções, letras das mesmas e até capa do single.” Ainda assim, abrem um concerto dos The Raincoats em Portugal, mas a aposta da editora na filosofia de “fazer depressa e mal” compromete irremediavelmente o percurso do grupo.

Finalmente, os CESÁRIO ESMIFROAÇO & CAOS APARENTE, influenciados pelo Heavy Metal e pelo Punk que nos chegava do Reino Unido assumem-se como uma das primeiras bandas nacionais a gravar uma demotape, homónima, de pendor comercial. Estávamos na primeira metade dos anos 80.

Dico
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