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Entrevista Grog

VAI UM PRATO DE MIOLOS?
"O nome Grog é conhecido e reconhecido"

“Scooping The Cranial Insides” marca o regresso de uma das maiores pérolas do underground nacional. Os “sanguinários” Grog apresentam-se com um novo disco de originais ao fim de dez anos de relativo silêncio, e com a mesma forma abrasiva e destrutiva que os tornou numa banda de culto também além-fronteiras (que o diga Trevor Strnad, vocalista dos The Black Dahlia Murder). O grande segredo é a criteriosa gestão de carreira assente no lema: qualidade em detrimento da quantidade. Porém, o vocalista Pedro Pedra, deixou já a garantia de que não teremos que esperar mais dez anos para ouvir novo material da venenosa banda de death/grind lisboeta.

Há a noção de que os Grog estiveram parados durante um tempo considerável…
De facto, houve um momento em que nos recolhemos um pouco aos bastidores. Não houve um interregno de banda, nos objectivos ou na composição. Houve sempre trabalho a ser feito durante esse tempo e, se calhar, as pessoas têm a noção de que desaparecemos porque não produzimos registos. Ao longo dos últimos dez anos, apenas editámos um tema no tributo nacional aos The Misfits.

Ficam ainda por enunciar um split e uma espécie de Best Of, certo?
Desde a gravação do “Odes To The Carnivorous”, em 2001,o único registo que lançámos foi o do tributo aos The Misfits. Os dez anos que tivemos de trabalho interno resultaram em várias coisas que, em 2010, vieram à superfície, sendo uma delas um split com os nacionais Pussyvibes e os australianos Roadside Burial através de uma editora australiana. No mesmo ano, acaba por sair um disco comemorativo dos nossos 18 anos com muito material antigo e inédito, que compilámos de forma a dar uma espécie de prenda a todos os que gostam do nosso som e acompanham a banda desde o início. Já em 2011, finalmente, editámos o nosso terceiro álbum que é produto destes últimos dez anos de “desaparecimento”. A prova de que nunca parámos de compor é não só o material que aparece no split, que são integralmente temas originais, à excepção da cover de Nuclear Assault, mas também os temas do “Scooping The Cranial Insides”. Todos foram trabalhados, limados e aperfeiçoados até exaustão.

Consegue apontar uma razão concreta para esse longo hiato?
A razão prende-se com motivos de ordem pessoal/familiar que acabaram por afectar vários elementos, comigo incluindo, e também de natureza profissional, sendo que uns influenciaram outros. Não houve um motivo apenas que causasse esse abrandamento. Nós continuámos a trabalhar como banda e num regime muito minucioso para o novo álbum. Os temas conheceram várias versões, uns acabaram no lixo e outros renderam apenas dois ou três riffs.

É também nesta fase que se dá uma remodelação no vosso line-up…
Sim, esta acontece logo após a edição do “Odes To The Carnivorous”. Nessa altura, o guitarrista Nuno Loureiro optou por sair, ficando apenas o Ivo (Martins) no comando das guitarras. Mais tarde, acaba por sair o Simão Santos para dar lugar ao Alexandre Ribeiro. Mas até isto não foi motivo para a nossa paragem, até porque, nesta altura, já compúnhamos para o “Scooping…”, álbum que tem temas escritos em 2001/2002.

E ao mesmo tempo continuaram a tocar ao vivo…
Exacto. Se houve uma paragem quase oficial e assumida, foi, exclusivamente, minha relativamente à banda. Em 2006, optei mesmo por afastar-me da rotina de banda porque tinha questões particulares para resolver de que necessitavam da minha total concentração. Falei com os outros elementos na altura, que são os mesmos de hoje, e expliquei-lhes que tinha que tomar aquela decisão. Eles aceitaram-na e continuaram a fazer o seu trabalho dentro da sua disponibilidade. Neste contexto, compuseram mais temas, rearranjaram outros, etc. Acho que isto é sinónimo de maturidade e responsabilidade. Cada um assumiu que, não sendo possível ter a banda a full-time, iríamos fazer o nosso trabalho a “prestações” e, quando possível, juntaríamo-nos de novo.

Sentiram que era preciso tirar alguma “ferrugem” quando regressaram à rotina de banda?
Não, pelo contrário. Só pensávamos: vamos lá pegar nisso e, de uma vez por todas, levar isso a bom-porto ou a um “lugar com sol”. Porque o facto de estarmos no nosso retiro, de certa forma, não nos impediu de continuar a tocar ao vivo. Apenas não actuámos em parte de 2006 e grande parte de 2007. Até aí, inclusivamente, fizemos uma digressão em Espanha com os Dead Infection (Polónia), Simbiose e Shurim (Bélgica). Ainda antes andámos na estrada com os Goldenpyre e The Ransack. Portanto, não actuámos durante pouco mais de um ano, o que não acho nada de extraordinário nem chocante. A partir daí, recuperámos a nossa rotina de concertos e, como banda, as coisas cresceram a todos os níveis. Parece que tudo aconteceu potencial e exponencialmente. Trabalhámos para conseguir estar aqui e sentimo-nos bem e com a consciência de que fizemos um bom trabalho. As coisas aconteceram como tiveram que acontecer, não acreditamos em coincidências. Se realmente passámos este tempo todo em “fermentação”, hoje temos o resultado disso mesmo. Queria apenas acrescentar uma coisa que é importante de as pessoas analisarem. Dizem que durante dez anos não houve sinal de Grog. Eu digo “Ok, mas num ano lançámos três discos”. Afinal, o que é que interessa? A quantidade, a regularidade? A qualidade e a irregularidade? Acho esta uma questão subjectiva, principalmente para uma banda que, assumidamente, aposta em lançamentos de qualidade em detrimento da quantidade. Não embarcamos naquele espírito de “vamos lançar um álbum para cumprir calendário”. Há questões relativas ao processo de composição que não tem a ver com chegar à sala de ensaios e fazer um tema.

Talvez o facto de as coisas andarem todas mais rápidas hoje em dia, ficou uma noção de ausência muito maior e vincou a ideia de terem desaparecido…
Inclusivamente, correram rumores de que a banda tinha acabado. Quanto a isso, invoco a velha máxima: “Não importa se falam bem ou mal de mim, importa é que falam”. E a verdade é que durante dez anos os Grog foram falados. Se, por um lado, dá a sensação de que as pessoas não ouviram nada de Grog, também significa que as pessoas tinham vontade de nos ouvir. Isso acaba por ser confirmado com os lançamentos que fizemos no último ano.

Acha que, por exemplo, não há um problema de afirmação junto de uma hipotética nova geração?
Não, pelo contrário. O facto de termos reaparecido dez anos depois em termos de registos, vai aproximar muita gente desta nova geração que só conhecia o nosso material antigo e que nunca tinha tido a oportunidade de nos ver ao vivo. Agora conseguem juntar as duas vertentes. E estamos extremamente gratos pelo feedback muito positivo que temos recebido.

No alinhamento do “Scooping The Cranial Insides” vão rebuscar dois temas muito antigos…
Os temas em questão, “Stream Of Psychopatic Devourment” e “Re-reborn Monstrosity”, fazem parte da nossa primeira demo, “A Nauseating Sweat Taste”, de 1993. Estes nunca conheceram uma gravação oficial em registo CD, com excepção no “Gastric Hymns Mummified In Purulency”. O primeiro foi remasterizado e o segundo aparece aqui em versão live já com a actual formação. Para nós, estes temas mereciam uma edição oficial com toda a qualidade possível. E, para todos os efeitos, são temas dos Grog, apesar de terem quase vinte anos e terem sido gravados por outros músicos. Representam-nos e acabam por encaixar, na nossa opinião e na de várias outras pessoas, na filosofia da banda.

De outra maneira não podia ser, pois os Grog mantêm uma atitude e um conceito muito linear…
Não sei bem a que te referes com o termo “linear”, mas temos a noção de que, independentemente da forma como o tema sai, há sempre uma base. E todos os temas de Grog têm essa base. Por isso podem ser encaixados noutros registos.

Talvez o facto de manterem um elemento como o Ivo, ainda mais sendo guitarrista, quase desde o início da banda, ajude a manter essa base…
O Ivo está connosco desde 1997 e gravou tudo desde então. Ele é basicamente o mentor/compositor da banda. Por isso, obviamente, há uma linha evolutiva comum durante este tempo todo.

E sendo o Rolando Barros um baterista tão creditado, qual é o seu papel na composição?
Ele é muito importante, mas todos nós damos o nosso contributo à composição. O Ivo disse recentemente numa entrevista uma expressão muito engraçada: “Penso nas composições porque tenho sempre ruídos de bateria na cabeça”. A partir daí, ele traduz esses ruídos em riffs de guitarra. O Rolando é um músico excelente e muito completo, e quando ele ouve um riff, desde que seja aceite por todos, trabalha e ajusta a prestação da bateria a ele próprio. Isso pode acontecer à primeira, à segunda como à quarta ou à quinta, mas o Rolando tem essa facilidade e procura ajustar o seu gosto pessoal como executante a este mesmo riff. Há uma questão muito clara: nós procuramos tocar o som dos Grog. Não procuramos imitar ninguém ou andar atrás de uma tendência. Obviamente que as influências estão lá, mas não de forma consciente. Por exemplo, o Alexandre não toca um riff do Ivo. Ele agarra o riff do Ivo e cria a sua própria linha, que pode ser semelhante ou não. Assim, os temas acabam por ficar mais cheios, porque cada um está interessado em acrescentar uma mais-valia à base da música.

E, diga-se de passagem, isso exige grande capacidade tecnicamente. Até temos um baixo fretless ali pelo meio…
Exacto, embora esteja também presente o baixo tradicional. Mas, sinceramente, não falo muito por mim. Dou todos os créditos musicais ao Ivo, ao Rolando e ao Alexandre, porque eles, sem dúvida, têm formação e são muito interessados na sua evolução enquanto instrumentistas. Eles “brincam” um pouco com aquilo! Não querendo vangloriar ninguém, mas há muito trabalho por trás.

Uma vez que não quer partilhar o protagonismo na parte técnica, a quem cabe a parte lírica?
Esta parte, em compensação, passa 99,9% por mim, à excepção da letra de “Eskeletos de Kona” que foi escrita em parceria o Ivo, o Alexandre, o Rolando e o Hugo Andremon.

Há inclusive uma alusão a povos ancestrais…
Sim, a introdução, “Toia Mai (Haka Powhiri)”, é inspirada no povo Mahori – julgo que toda a gente sabe que é um povo da Nova Zelândia. Houve a oportunidade, por informação que chegou ao Ivo, de usarmos uma letra e cântico deste povo no álbum. Ele é cantado e tocado por nós na língua Maori. É um cântico de boas-vindas, apesar da força ou pseudo-agressividade que lhe possa estar conectada através do tom de voz com que cantamos.

Em termos editorais, estão pela primeira vez numa editora estrangeira...
Sim, a Murder Records é um selo holandês pelo qual lançámos o disco comemorativo dos nossos 18 anos. Foi a partir daí que continuámos as conversas com a editora que tem mais uma particularidade: é gerida por portugueses.

Não houve interesse de nenhuma editora portuguesa ou nem passava pelos vossos planos?
Não, porque desde o início a nossa intenção foi encontrar uma editora que estivesse “central” em termos geográficos, que trabalhasse com um género mais extremo de música e que já tivesse processos de trabalho desenvolvidos e implementados. Isto aliado à mais-valia do Daniel Santos (executivo da editora) já conhecer os Grog desde as origens, facilitou o nosso entendimento. Quando lhes passámos os nossos objectivos, eles responderam que também queriam dar um salto qualitativo com a editora. E assim foi, está tudo a correr muito bem.

Perante este cenário, as expectativas de internacionalização serão maiores? Como vão as vendas, por exemplo?
Só me posso cingir ao que se passa em Portugal e com o que está directamente ligado aos exemplares que a banda está a gerir. Apesar de tudo, não tenho informação sobre a distribuição feita em Portugal neste momento. Há ainda um aspecto importante: o álbum só foi lançado há dois meses. Logo, ainda falta ser feito muito trabalho de promoção, porque é a própria banda que está a controlar esta matéria em Portugal. Localmente, tudo o que tem saído tem sido francamente positivo e tem dado muita força ao nosso trabalho. Procurámos uma editora no centro da Europa também para estarmos com mais regularidade em palcos internacionais. Para o efeito, já existem datas confirmadas e outras propostas. É algo que ainda está no início mas está a correr muito bem, do nosso ponto de vista. Estamos em crer que até aí a aposta foi ganha.

Têm a noção de qual é o vosso status no estrangeiro?
A noção que temos é a de que, a nível underground, em países como Espanha, França, Alemanha, Holanda e Bélgica, o nome Grog é conhecido e reconhecido. E isso não tem a ver necessariamente com a quantidade de registos que a banda lançou, mas sim com o facto de terem marcado, de alguma forma, as pessoas que nesses países os ouviram. Aliás, há uma história muito engraçada que prova isso e nos surpreende totalmente. Quando os The Black Dahlia Murder actuaram mais recentemente em Portugal, um dos nossos amigos nos Blacksunrise, que lhes abriram o concerto, tinha uma t-shirt dos Grog. Então, o vocalista dos The Black Dahlia Murder quando a viu foi fazer-lhe perguntas sobre a banda, porque lhe tinha marcado, porque era uma banda de culto e já tinha andando à procura do segundo álbum – mas não encontrava - e agora estava à espera de comprar o terceiro! Ficamos muito satisfeitos por isso.

Recentemente lançaram uma iniciativa muito curiosa: o “Barbie Dolls Grind’Em All Contest”. Fale-nos um pouco disso.
O concurso ainda está activo. Este procura apelar e atrair o público feminino para a nossa música. Basicamente, o que procuramos é, tendo em conta os prazos que foram dados para cada tema – neste momento está a rodar o tema alusivo ao nosso segundo álbum -, é as pessoas tirarem fotografias alusivas a qualquer tópico dos nossos álbuns. O concurso está dividido em quatro partes, sendo que a terceira tem que ver com o nosso split e a quarta com o nosso novo álbum. Cada parte tem um prazo de participação de duas semanas. As pessoas que mandarem as suas fotos para o nosso Facebook e tiveram mais Likes, ganharão t-shirts, CD’s e um DVD da banda ao vivo na edição deste ano do SWR Barroselas Metalfest.

Por fim, teremos que esperar mais dez anos para ouvir um novo disco dos Grog?
Esperamos que não. É engraçado porque olhamos para trás e apercebemo-nos de que este ano fazemos 20 anos de carreira... Mas nunca pensámos em cenas do género “vamos fazer um álbum para o ano”. A grande intenção é continuar a criar música. O que posso adiantar é que ficámos com vários temas gravados das sessões do “Scooping The Cranial Insides” que serão lançados a curto-médio prazo.

Nuno Costa

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