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Review

DECAPITATED
“Carnival Is Forever”
[CD – Nuclear Blast]

Faz-nos lembrar a história de Dimebag Darrell e Vinnie Paul. Vogg e Vitek, irmãos e prodigiosos músicos, com uma afinidade perfeita, fundaram os Decapitated com 12 e 15 anos, respectivamente, e quatro anos mais tarde já gravavam um colosso de death metal, elevado a clássico, intitulado “Winds Of Creation”. Como era possível, muitos se questionavam…

É praticamente unânime que a dupla, acompanhada por Sauron (voz) e Martin (baixo), foi responsável pela evolução do death metal e transição do género para um novo expoente de técnica, groove e brutalidade no início do novo século, quando este ameaçava perder todo o interesse. Ponto final em comum: Vitek morreu num acidente de viação em 2007 e o promissor, genial e referencial grupo, com tanto ainda para dar, desmembrou-se.

Contudo, em 2009 (aí reside talvez a grande diferença para os irmãos Abbott), Vogg decidiu prosseguir o legado dos Decapitated, com natural e especial motivação para homenagear a curta mas perpétua obra de Vitek e Covan (vocalista), também envolvido no acidente e que não recuperou em condições de regressar à banda.

E ora aqui temos o novo e muito aguardado álbum dos Decapitated. “Carnival Is Forever” era, à partida e simultaneamente, um álbum muito ansiado e “temido” pelos fãs. E isto porque os Decapitated não são uma banda normal. Porém, note-se que as grandes forças criativas da banda eram precisamente Vogg e Vitek. Aqui, o primeiro, guitarrista, mostra isso mesmo, que a grande marca do grupo polaco passava pelo seu talento. E de que forma isto está aqui patente? Desilusão talvez para muitos, este não é um “Negation”, “Nihility” e muito menos um “Winds Of Creation”. Mas é, efectivamente, uma credível extensão de “Organic Hallucinosis”… E é bastante por aí que segue este trabalho, não obstante uma evolução talvez demasiado rápida/súbita do seu antecessor, difícil de cair no goto de alguns (muitos).

Lembram-se da polirritmia de “Organic Hallucinosis” e seu groove? Pois, são estes os elementos que este álbum explora, atingindo, contudo, uma linguagem bastante mais directa e afastada dos princípios mais tradicionais do death metal e do próprio grupo. Sinceramente, não sabemos até que ponto os fãs mais antigos poderão achar piada a isso, se já alguns não teriam achado graça à ideia de a banda ter continuado sem os restantes “emblemas”.

Mas salvaguarde-se: os Decapitated continuam opressivos, ameaçadores, mordazes e poderosos. É culpa de Vogg. Mas que se saiba, qualquer génio não confina a sua criatividade a uma só abordagem e “perdoa-se” perfeitamente que Vogg queira pisar outros terrenos. Aqui o guitarrista, claramente, absorveu outras influências, nomeadamente de Fear Factory (“Homo Sum”) e Meshuggah (em vários momentos dissonantes e obscuros deste trabalho). E relativamente aos seus restantes (novos) companheiros? Capacidades indiscutíveis, assegure-se, embora entre num plano de menor consenso as características vocais de Rafal Piotrowski, uma versão mais “limpa” de Covan, principalmente quando muitos se habituaram a ouvir o gravalhão escabroso de Sauron durante anos a fio.

Perante isso, continuamos a fazer a mesma questão: será que os fãs mais conservadores vão suportar tudo isso ou a banda vai ter que limitar-se aos clássicos nos seus setlists ao vivo? É que ainda falta falar de um tema balançado e modernaço como “404 – Decapitated”, “A View From A Hole” (que em certos momentos lembra estranhamente Opeth) e o tema-título que carrega uma melodia obscura a início (reminiscente de Meshuggah) inusitada no grupo. Podíamos ainda falar de “Silence”… mas ninguém duvida: um trecho acústico, bastante melancólico, que não pode ser visto de outra forma que senão os 4.18 minutos de silêncio/homenagem a Vitek.

Quer isto tudo dizer que o futuro dos Decapitated nunca mais será o mesmo? Eventualmente… dificilmente o seria. Os membros anteriores do grupo eram como que insubstituíveis, embora não se goste de o considerar. Mas, apesar disso, estes são oito temas acima da média. Não são temas de metal extremo banais que se encontre a qualquer esquina… mas também já não são tão extremos quanto isso, ao invés, mais abrangentes, modernos, avant-garde. Por mais que soe injusto e impossível, fiquem certos que vão ter bastante prazer em deglutir este disco, caso consigam despregar-se do passado. Vale a pena tentar. [8.3/10] N.C.

Estilo: Death metal

Discografia:
- “Winds Of Creation” [CD – 2000]
- “Nihility” [CD – 2002]
- “The Negation” [CD – 2004]
- “Organic Hallucinosis” [CD – 2006]
- “Carnival Is Forever” [CD – 2011]

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