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Entrevista Hate

O COLAPSO DAS ALMAS
“Erebos” é o disco mais bem produzido, radical e obscuro que já gravámos"

Parece só recentemente terem atingido maior visibilidade, mas os Hate já trilham os caminhos da música extrema desde 1990. A associação à francesa Listenable Records e o lançamento de álbuns como “Morphosis” e o mais recente “Erebos”, parecem ter arremessado a banda para um lugar próximo do dos seus conterrâneos Behemoth, Decapitated e Vader. A comprovar isso estão as extensas digressões que o grupo vai cumprir pelos Estados Unidos e presenças em festivais de Verão de referência. Hoje com um espírito mais experimentalista, é, contudo, seguro que o som dos Hate continua alicerçado no black e death metal. O seu vocalista/guitarrista (e único membro fundador da banda), Adam “The First Sinner” falou-nos do momento actual da banda e do esforço empregue para continuarem a progredir na sua sonoridade.

Os vossos últimos tempos parecem ter sido muito atarefados. Já se encontravam a compor “Erebos” e ainda cumpriam a digressão de “Morphosis”. Conte-nos como foi conciliar essas duas tarefas.
Como passámos muito tempo a promover o nosso anterior trabalho, grande parte das novas canções foram escritas em intervalos entre digressões e mesmo na estrada. Por exemplo, o tema “Transsubstance” foi criado quando estávamos nos Estados Unidos, apenas algumas semanas antes de entrarmos em estúdio. As gravações duraram quase cinco semanas, em dois estúdios polacos: os Hertz e os Efektura. Correu tudo muito bem, pois já sabíamos que som queríamos atingir e antes ainda tínhamos gravado uma demo bem detalhada com quase todos os temas. Na altura de gravar, foi questão de fazer um trabalho sério; um pouco tenso no início, uma vez que entrámos em estúdio dois dias depois de terminarmos a nossa tournée com os Hypocrisy e estávamos todos a sofrer das diferenças de fuso horário, etc. Tivemos uns dias para nos adaptarmos ao estúdio e para sairmos um pouco com o Wieslawski Bros (de quem somos amigos há anos), até nos concentrarmos nas gravações. Mas uma vez iniciadas, correu tudo suavemente. Só queríamos tirar todo o partido do potencial do estúdio e estou certo de que conseguimos.

A digressão norte-americana que refere foi a vossa primeira. Depois de tanto tempo de espera, pode dizer-se que correspondeu às vossas expectativas?
Sim, definitivamente. Essa digressão com os Hypocrisy foi uma experiência óptima que mostrou o quão bons são os nosso fãs nos Estados Unidos. Foi uma surpresa para nós, pois tratou-se da nossa estreia naquele território e não fazíamos a mínima ideia do que esperar. Na maioria das salas as pessoas receberam-nos com uma ovação. Foi inacreditável! Conhecemos muita gente porreira e fãs devotos, com os quais ainda mantemos contacto.

Notaram alguma mudança depois disso, em termos de vendas e popularidade?
Penso que estamos a ficar mais reconhecidos na Europa, e em outros lugares, depois do lançamento de “Erebos”. Graças a esse álbum muitos metaleiros ouviram falar de nós pela primeira vez. Contudo, ainda é cedo para inferir da influência que este disco terá na nossa popularidade.

Desde “Anaclasis” que os Hate têm vindo a injectar novos elementos no seu som e “Erebros” configura-se como que a face mais aperfeiçoada deste processo. É assim que vê este novo trabalho?
Primeiro que tudo, sentimo-nos confortáveis com este álbum, pois representa uma sequência natural dos nossos anteriores trabalhos e uma definição muito boa do nosso estilo actual. O “Erebos” é, sem qualquer dúvida, o disco mais bem produzido, radical e obscuro que já gravámos. Fazendo uma comparação com o seu antecessor, este tem mais influências de deathcore, heavy metal e trance. Tentamos expandir o nosso som estilo através de novos elementos musicais. É tudo uma questão de progresso e olhar a novas formas de expressão. Mas o núcleo da nossa música continua a ser o blackened death metal com um background industrial e ambiental. Aos meus ouvidos, “Erebos” é um álbum muito diversificado para os parâmetros do metal extremo. Tivemos a vontade de ir mais além em termos de experimentação, mas, para ser sincero, não estivemos tempo suficiente em estúdio para pôr em prática todas as ideias que nos ocorreram. Penso que no futuro continuaremos a desenvolver o nosso estilo. Não soaremos iguais no próximo álbum, porque o que mais queremos é progredir e explorar novas áreas ao tocar metal extremo. Já agora, na versão americana de “Erebos” fazem parte cinco temas bónus na forma de remisturas mais obscuras e ambientais de alguns dos nossos temas, feitas pelo artista francês Melek-tha, bem como algumas composições industriais. Trata-se de algo refrescante nos meandros do death metal. Ouvi essas remisturas apenas há alguns dias e estou completamente impressionado!

Entende que a vossa evolução foi só mental ou técnica também? Ainda praticam muito?
Para responder a essa questão é preciso distinguirmos o que é praticar e o que é tocar. Normalmente pratico bastante antes de entrar em estúdio, tentando dominar ao máximo os temas que vou gravar. Mas também pratico alguns exercícios, passagens, etc. Em suma, não pratico muito, mas toco bastante, especialmente quando trabalho em novo material.

Quando falava em mental referia-me à experiência acumulada em tantos anos de carreira e às novas visões que se vão estabelecendo em relação à música. Vê a forma de criar música e ouvi-la muito diferente de há 10 ou 20 anos atrás?
Sim, sem dúvida. Naquela altura eu era muito determinado, mas faltava-me a experiência e ainda estava à procura do meu próprio estilo. Demorei alguns anos até encontrar a minha perspectiva pessoal sobre a música e ficar satisfeito com o que criava. Foi um processo longo e complicado.

Pode também dizer-se que o som dos Hate está hoje mais americanizado?
Em relação à produção o “Erebos” soa muito sólido e dinâmico – muito parecido com alguns discos americanos mais modernos. Todavia, o carácter geral da música, dos riffs, etc, é associado ao estilo europeu ou até mesmo, concretamente, ao polaco. Não somos fãs do death metal técnico que domina os Estados Unidos hoje em dia. Para nós, a técnica é apenas uma ferramenta para alcançar alguns objectivos na música, como, por exemplo, a atmosfera, o carácter genérico, a ferocidade, o dinamismo, etc. Continua a ser mais importante a razão por que tocamos música e não a forma como o fazemos. E o que está por trás disso? Nesse aspecto podemos divergir de outras bandas, uma vez que a música é apenas uma ferramenta para expressarmos a nossa mensagem, para anunciar uma ideologia e ideais em que acreditamos. Para algumas pessoas a música é como um desporto ou tendência… Quão rápido consigo tocar este ou aquele riff? Que equipamento uso? E por aí fora… Portanto, a nossa perspectiva é diferente.

Os fãs mais antigos reagem bem à vossa “nova” identidade musical?
Entre os fãs mais antigos as opiniões dividem-se em relação ao nosso novo álbum. Algumas pessoas criticam-no, outras apreciam e admiram o que fazemos. Não é possível agradar a todos. De qualquer forma, é quase geral a percepção de que temos feito um grande progresso nos últimos anos. É algo inegável.

Em termos de mensagem, parece que os Hate passaram a debruçar-se mais sobre assuntos filosóficos e mundanos do que religiosos/satanistas, pelo menos explicitamente. É mais um sinal da vontade de inovar?
Não propriamente. O satanismo e o misticismo continuam a fazer parte das minhas crenças. Esta inspiração não desapareceu das minhas letras por completo. É possível ainda encontrar-se algumas referências a perspectivas de vida satânicas (ou a Lúcifer) e ao mundo à nossa volta. Porém, queria encontrar outras fontes de inspiração mais “pés na terra” que dariam um conceito mais actualizado a este álbum. Por esta razão “Erebos” está repleto de metáforas e associações ao quotidiano actual, aos políticos e à condição humanas, em geral. Inspirei-me naquilo que observo, especialmente quando estou em digressão e passo por muitos sítios diferentes, encaro muitas pessoas distintas, situações, culturas, etc. O título deste disco significa, na verdade, a parte obscura da alma humana. “Erebos” não se baseia em nenhuma literatura ou mitologia. Reflecte antes uma estória sobre uma pessoa no mundo actual, vítima da sua raiva, das suas fraquezas e complexos; a sua existência num mundo fictício, virtual, em que é escrava dos seus sonhos. Ela não vive propriamente, mas sonha que vive. É a forma como muitas pessoas vivem realmente a sua vida… Sem uma verdadeira identidade. Posto isto, “Erebos” é uma estória sobre a busca de uma identidade mais profunda; a busca pela “iluminação”, por assim dizer. É uma visão muito obscura e apocalíptica da humanidade. Não se trata de um álbum conceptual no sentido mais estrito da palavra, mas tem ao mesmo tempo os seus motivos “luminosos” presentes na maioria dos temas, tais como: a busca pela “iluminação”, pelo ser verdadeiro que foi perdido ou manipulado ao ponto de não te conseguires separar de estórias e informações que já viste ou ouviste. Trata-se de olhar para o elemento que define cada um como um ser irrepetível. É ainda sobre lidar com as fraquezas, frustrações e raiva que muitas vezes leva-nos à perdição.

Sendo vocês naturais do país do, provavelmente, mais popular Papa de sempre, um país reconhecidamente conservador, sente alguma pressão extra por parte da comunidade em relação a bandas extremas como a vossa?
Sim, continua a haver alguma pressão por organizações cristãs que gostam de nos perseguir. Contudo, honestamente, não nos preocupamos muito com isso. Afinal de contas, vivemos num país democrático, logo a única coisa que podem fazer é chuparem-nas a pila! Desgraçados de cabeça oca…

Sendo o fundador da banda e inevitavelmente a imagem da sua liderança, o processo de escrita confina-se sobretudo às suas ideias?
Não exactamente. Por norma trabalho em novas ideias com o baterista Hexen, com o qual procuro os melhores arranjos para os meus riffs. Portanto, ele está objectivamente envolvido no processo criativo. Também o Destroyer (guitarrista) foi muito útil neste novo álbum, pois a maioria dos solos foi escrita por ele. Para nós, trabalhar num álbum é uma coisa colectiva.

Acabaram de regressar de uma digressão na Rússia. Como correu?
É verdade. Foi a digressão mais longa que fizemos no leste europeu até hoje. Visitámos 11 cidades russas e o mais longe que fomos foi até ao oeste siberiano. Portanto, acabamos por ir até à Ásia. Fizemos ainda quatro datas na Ucrânia e uma na Moldávia. Tenho que confessar que é sempre um prazer regressar a leste porque temos lá um número crescente de apoiantes e alguns fãs malucos também! Aterrámos em Moscovo poucos dias antes da estreia do nosso álbum e a reacção que tivemos neste concerto foi muito boa. Muitas pessoas já estavam familiarizadas com o novo álbum e ouvi algumas a cantarem as letras comigo. Foi fantástico!

Depositam particulares expectativas neste novo álbum, já que parece que, finalmente, os Hate atingiram o patamar que até poderiam estar há mais anos?
Com certeza que temos expectativas altas com este novo álbum, mas mais importante que isso são os planos extensos que temos para o promover. Na verdade, já sabemos o que vamos fazer nos próximos seis meses. Em Março e Abril vamos percorrer os Estados Unidos e o Canadá como suporte dos Rotting Christ, num total de 30 datas. Depois desta digressão temos uma pausa de uma semana e logo arrancamos para outra nos Estados Unidos, desta feita com os Sepultura, Belphegor e, em certa parte, com os Nevermore. Serão mais de 70 datas juntos. Será a digressão mais longa que já fizemos e o maior desafio da nossa carreira. Em Junho, voltamos à Europa para fazer alguns festivais, como o Metalcamp, na Eslovénia, entre outros. No Outono faremos uma digressão caseira e gravaremos um novo videoclip. Como podem ver, há muito trabalho pela frente.

Nuno Costa

www.hate-metal.com
www.myspace.com/hatepoland

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