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Entrevista War From A Harlots Mouth

CONTRA O OBSOLETO
"O que vejo hoje em dia são boysbands do metal e eu detesto isso"

Sobressair num estrato lotado de bandas de metalcore, como é o germânico, seria, à partida, algo votado ao insucesso. E se olharmos para o cenário global, o mesmo poder-se-ia dizer. A falta de criatividade que assolou este género há alguns anos não deixa grande crédito a quem ainda arrisca lançar discos dentro deste quadrante. Contudo, os War From A Harlots Mouth perceberam isso quando se formaram em 2005 e a sugestão era incluir influências jazz, math e death metal à sua reconhecida base hardcore. Aos poucos a fórmula foi sendo aperfeiçoada e a verdade é que o público soube distinguir essa particularidade. O terceiro e mais recente álbum, “MMX”, pode muito bem ser o auge dessa fusão e a prova está num som mais obscuro onde se destaca a inclusão das guitarras de oito cordas. Aliando a isso a humildade e lucidez que o guitarrista Simon Hawemann demonstra nas linhas seguintes, só podemos dizer que… estão no caminho certo.

Em apenas um ano lançaram dois álbuns. Digamos que a inspiração está em ebulição…Sim, basicamente. É uma boa descrição do que se passa connosco.

O que poderá ter influenciado o som e as letras de “MMX”? Os WFAHM estão mais pesados, negros e, eventualmente, menos jazzy…No anterior “Shoals”, a nossa música já era bem sombria mas ainda não estávamos aptos a captar a vibração que queríamos. Com o “MMX” conseguimos escrever o que ambicionávamos há muito tempo: um álbum extremo e técnico com a tal vibração sombria e malévola. Por outro lado, o mundo é um lugar negro, logo, liricamente, inspirei-me nas minhas mais recentes experiências sociais. A mensagem deste disco lida com o afastamento desta sociedade, por diversas razões. Leiam as letras de “To Age And Obsolete” e vão ficar a conhecer os meus vizinhos…

“MMX” é aparentemente um título “inofensivo” e simples, mas acredito haver um significado mais profundo…Queríamos que este álbum representasse a forma como vemos o mundo actualmente, que fosse uma testemunha temporal. Portanto, que melhor título podia ter?

É um tremendo cliché as bandas dizerem que o seu mais recente álbum é o melhor de sempre. Acredito que sintam o mesmo em relação a “MMX”, mas pedia-lhe uma identificação mais objectiva dos aspectos melhorados…Penso que melhoramos muito em termos de composição. Gosto muito da forma como tudo se mistura com maior fluidez neste novo disco. Existe ainda uma clara mudança no nosso trabalho de guitarras. Já não é tão espástico, mas tem mais camadas, o que nos torna mais melódicos. Não significa que essa melodia seja agradável, mas penso que o nosso som fica um pouco mais acessível sem perder o extremismo.

Certamente que concorda que todo o movimento com a terminologia “core” está sobrelotado. Fazem um esforço consciente para se distanciarem dessa tendência?
Bom, tudo terminado em “core” já foi dito, certo? Nós crescemos com a cena hardcore, por isso podemos confiar nos seus valores e ideias. Testemunhavam-se muitas influências hardcore nos nossos trabalhos anteriores, mas, como já foi mencionado, tudo foi dito e feito a esse respeito. Agora é tempo de ir em frente, penso eu.

Como se sentem ao ser inseridos numa tendência musical? Por um lado pode haver mais exposição mas, a curto prazo, podem diluir-se. Por outro, ser demasiadamente alternativo pode confinar-vos a um lugar isolado, a não ser que façam algo absolutamente fora do comum. Qual acha que seria a solução para inverter essa tendência do mercado e do consumidor?Para ser sincero, não sei. Para mim o metal e o hardcore, especialmente tudo terminado em “core”, é muito Pop hoje em dia, é uma cultura mainstream. Costumava ser o contrário. O que vejo hoje em dia são boys bands do metal e eu detesto isso. É possível continuares fiel a ti próprio e ser sortudo, atingindo algo relevante, em vez de fazeres o que toda a gente quer ouvir e desaparecer ao fim de um ano de sucesso. O que quer que seja, estou farto de tudo isso. Espero que a qualidade na música se sobreponha novamente e o underground recupere o que é dele.

Como é que o público germânico olha para o vosso trabalho? Têm um mercado maior no vosso país do que em outro qualquer?As coisas são-nos favoráveis na Alemanha e gosto muito de fazer digressões por cá. Questiono-me como isso é possível, pois a cena germânica está entupida de música pesada, mas a verdade é que as nossas digressões são sempre divertidas. Creio que criámos uma base de fãs aqui, o que é excelente. Temos tido também a sorte suficiente para obter reconhecimento fora de portas, nos mais diversos países do mundo como os Estados Unidos, o Japão e a Rússia. Quer queiramos quer não, tudo isso se deve à internet. Demo-nos muito bem quando fomos aos Estados Unidos e espero regressar lá em 2011.

Provavelmente vai detestar essa pergunta, mas tenho que fazê-la: porque adoptaram guitarras de oito cordas para esse trabalho?Não levo a mal a pergunta. As pessoas podem pensar o que quiserem, nós não nos importamos! (risos) Apenas quisemos subir um degrau e fazer algo novo. Lembro-me que quando a Ibanez lançou a primeira guitarra nesse formato eu quis logo ter uma. Basicamente, o que mais me atrai nelas é o seu maior e mais apelativo alcance. Sempre pensei que funcionariam muito bem no nosso tipo de composição e penso que isso está bem demonstrado em “MMX”, que não soa a um disco dos Meshuggah.

Agora que já percorreram a Europa e os Estados Unidos, quais são os principais objectivos em termos de promoção na estrada?Simplesmente queremos percorrer o mundo, voltar aos Estados Unidos e talvez ao Japão e à Austrália. Veremos… Tenho que admitir que estarei sempre muito satisfeito enquanto conseguirmos fazer digressões e lançar discos.

Continuarão a apostar forte em split-CD’s?Não num futuro próximo. Sempre gostámos de os lançar, por mero gozo, mas por agora chega! (risos) Gostamos de fazer algo que é pouco comum por aí, mas a aposta mais presente é em longas-durações.

Nuno Costa

www.myspace.com/warfromaharlotsmouth
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