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Revista do Ano - 2010 - Açores

O ano encerra-se no desnorte da sua fugacidade. Ou porque não paramos de ouvir falar na mesma coisa (“crise”, nomeadamente) ou porque ao tentar inverter a situação não tivemos muito tempo para olhar para as “horas”. Parece quase que uma lavagem cerebral levada a cabo por vários agentes, sejam comunicacionais ou governamentais, e suas pressões onde ganha importância o tentar segurar a “tábua” da sobrevivência no meio de um mar de destroços físicos e morais. Tudo parece hoje em dia mover-se a 200 à hora…

Tal como no ano passado, sublinho que o presente texto e seu autor não vão apresentar uma revista minuciosa do que foi o ano metálico global, reservando-se antes a um objecto de análise mais familiar – os Açores. Mais: encaremos estas linhas como um descomprometido memorando de alguns dos momentos mais marcantes do ano, para que se retenha, reflicta e projecte 2011 com outra sagacidade e ambição.

Num primeiro semestre pautado por uma invulgar apatia, praticamente não se registaram lançamentos nem espectáculos. Aqui e ali os Spank Lord mostravam-se mais activos, também privilegiados por um rock que encaixa perfeitamente em vários ambientes. A par deles, só mesmo os Neurolag e Summoned Hell, indiscutivelmente o tridente mais activo de 2010 nos Açores. E a provar a sua determinação, estes últimos dois cumpriram uma mini-tournée pelo continente português, no mês de Maio, que apesar de alguns azares pelo meio (as cinzas vulcânicas) valeu pelo contacto com uma outra realidade. Destaque ainda para o primeiro lugar dos Neurolag e segundo dos Spank Lord na quinta edição do Concurso de Música Moderna da Ribeira Grande. Este ano o concurso prescindiu da sua final em formato outdoor, mais apetrechado, fazendo temer que esta decisão tenha que ver com a fraca adesão que se vem verificando de ano para ano, tanto a nível de bandas como de público. E até o incentivo por parte da organização se excedeu, com os prémios monetários a atingiram um máximo apreciável.

Nesta altura já os Morbid Death encontravam-se em estúdio, nos TNT (Total New Trax), a gravar novo material. A notícia não poderia ser mais bem recebida já que se somam seis anos desde a edição do último álbum - “Unlocked”. Outras bandas empenhavam-se igualmente em gravações, como os Spank Lord, Summoned Hell, Stampkase e Sanctus Nosferatu, mas, como é apanágio, tudo assume uma demora agonizante e nenhum desses projectos conseguiu cumprir os seus prazos. Quem conseguiu quebrar a tendência foi os A Dream Of Poe que já vão no seu segundo EP, um disco ao vivo e uma demo. O último “Lady Of Shallot” foi lançado digitalmente a 31 de Maio com uma interessante aceitação no estrangeiro. Ainda outra das boas notícias deste primeiro semestre, foi a do início das gravações do primeiro álbum dos Carnification, um “histórico” do Metal dos anos 90.

Para quebrar o marasmo, o Live Summer Fest dá as boas-vindas ao Verão, com as actuações marcantes (como é habitual) dos Ramp e Heavenwood, nem que fosse pelo seu regresso aos Açores 12 anos depois. Nesta terceira edição, o festival travou como que uma batalha underground vs. mainstream, vencendo claramente o primeiro. A desconcertante falta de público que se registou no concerto dos Dr1ve (Porto) deverá ter deixado os seus promotores a pensar se valerá a pena misturar as águas.

De resto, a recta final do Verão, acabou por não se revelar tão negativa como inicialmente se previa. Eventos de pequena e média dimensão foram surgindo, quase sem darmos por isso, talvez por serem anunciados a pouquíssimos dias antes de acontecerem. Assim sendo, o mês de Agosto teve a particularidade de assinalar as estreias de Fake Society e Fallen, e de oferecer a Semana da Juventude das Laranjeiras que, feitas as contas, foi o maior aglomerante de projectos locais… dado o inesperado cancelamento do October Loud. E por falar em cancelamentos, já se sabia do hiato do Angra Rock e a SoundZone viu-se também a braços com uma complicada situação que a fez adiar o seu 7º aniversário para 2011 - brevemente haverão notícias a esse respeito. Também o estreante festival Rádio Marcante acabou por ter a sua importância, apesar da fraca afluência de público. Esperamos que se revalide no próximo ano, pois o potencial existe.

Todavia, nem só em S. Miguel se registou actividade. A 9 e 10 de Julho decorreu no Faial o Punkada Fest, dedicado às celebrações do 10º aniversário dos punkers locais com o mesmo nome. Foram apadrinhados pelos ingleses Suzerain e pelos Crossfaith e Anomally. Já na ilha Terceira, foi recebida com alguma surpresa a presença dos lisboetas Miss Lava, uma das mais recentes sensações do stoner nacional. Contudo, segundo fontes próximas, o Estiva Music Fest acabou por revelar-se muito aquém do que se esperava. Nota ainda para o regresso dos Lithium, um dos nomes mais marcantes do cenário local, neste mesmo evento. Fica por saber-se se foi uma reunião esporádica ou mais do que isso…

Ainda antes, Beatriz Reis dá início ao festival “A Colheita” que viria a ter duas edições em 2010. Foram essas as poucas iniciativas que mobilizaram o tímido segmento de peso na ilha lilás mas que serviu para não deixar a chama extinguir-se por completo. Em termos de bandas, os Somnium acabaram por ser os mais activos, inclusivamente com uma actuação na ilha de S. Miguel. Em termos de perspectivas para 2011, aguardam-se novidades dos Anomally que já preparam o sucessor de “Once In Hell…”. A não esquecer ainda a já longa e persistente caminhada dos Resposta Simples que editaram, no “cair do pano”, o vinil “Gaia” – o primeiro para uma banda de Rock/Metal nos Açores.

Continuando ainda no plano dos lançamentos, o último terço de 2010 tornou as coisas efectivamente mais interessantes. Os Morbid Death surpreenderam tudo e todos com o EP “Metamorphic Reaction” e os Sweet Misery e Deep Coma, apesar da jovialidade, já se atrevem a lançar discos. O projecto “descontraído” dos butchers Askara lançou também um novo tema. O entusiasmo em seu torno começa a justificar uma actuação ao vivo.

Na internet, o site Armageddon continua a apostar nas compilações e faz uma homenagem aos 20 anos de carreira dos Morbid Death num “Best Of” de 16 temas disponível para download gratuito. Aprazivelmente, a segunda edição do “Armageddon Metal Clash” teve lugar, reunindo novamente uma série de bandas mais experientes e outras emergentes. Fechando o capítulo dos meios cibernéticos, a mágoa de ver o projecto Metalicídio cair em ruínas e, porque não dizê-lo, a reformulação profunda que o blogue da SoundZone sofreu, não obstante as inúmeras melhorias que podem (e devem) ainda ser feitas. No papel, uma homenagem a Joana Cabral e seu "Olhar Sonoro" no jornal Feedback 100% e a José F. Andrade, ultimamente de volta às suas rubricas no Açoriano Oriental. Antena 3 Açores, um sonho de longa data. A constatar se é realmente também uma nova porta que se abre para os metaleiros locais.

E concluído este balanço é até realista que se admita, e aí sejamos humildes, que perante tamanha indigência socioeconómica este ano acabou por saldar-se positivo. Surgiram novos projectos, outros caíram no esquecimento (por falta de oportunidades ou condicionalismos pessoais) e outros espera-se que o trabalho de estúdio e/ou sala de ensaio seja recompensado no próximo ano. Todavia, todos os palpites estão comprometidos pela intermitente situação financeira global. Resta-nos esperar que esta presente “asfixia” abone a favor de novas formas de pensar, muito mais eficientes, evolutivas e realistas.

Apenas uma última referência a tão respeitosas personalidades do Metal que nos deixaram este ano: Ronnie James Dio, Peter Steele, Paul Gray e Armando Costa. Long live Rock’N’Roll!

Nuno Costa

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