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Entrevista Mourning Lenore

NO HORIZONTE O INFINITO
““Loosely Bounded Infinities” é um disco que tem muito a oferecer, mesmo a pessoas fora do espectro metálico”

A competência suplantará a incipiência de processos, neste preciso caso dos Mourning Lenore. “Loosely Bounded Infinities” é a estreia promissora da banda lisboeta de Doom Metal, na sua acepção mais lata, uma vez que tudo o que mais lhes interessou foi “criar um disco honesto”. Desse ponto de vista, aufere-se uma maior liberdade de sentimentos e emoções, sempre com igual fulgor. Em suma, a qualidade demonstrada tornou obrigatória a conversa que tivemos com João Arruda, guitarrista, fundador do grupo e pessoa bem conhecida (e acarinhada) da comunidade metaleira açoriana.

Os Mourning Lenore conseguiram a sempre difícil meta de gravar um primeiro álbum com apenas dois anos de existência. A que acha que se deve esta rápida e incisiva projecção?
Existiram diversos factores que contribuíram para o rápido crescimento da banda mas o essencial foi a maneira afincada e dedicada com que nos entregamos a este projecto desde a sua génese. O facto de termos arriscado em lançar o split-CD com os Insaniae com apenas um ano de existência e o feedback ter sido tão positivo naturalmente que também foi pedra basilar neste processo.

Esperavam lançá-lo por uma editora, ainda mais com a importância que a Major Label Industries começa a ter?
Tínhamos a noção de ter criado algo consistente e que podia agradar a algumas pessoas e, acima de tudo, acreditámos no trabalho que tínhamos feito. Penso que isto foi essencial para conseguirmos um bom acordo editorial como uma entidade com a Major Label que sempre considerámos uma boa casa para nós. Felizmente eles também acreditaram em nós e pudemos trilhar este caminho juntos.

O que acha que “Loosely Bounded Infinities” pode oferecer aos amantes do Doom e até mesmo aos de Heavy Metal em geral?
Julgo que "Loosely Bounded Infinities" é um disco que tem muito a oferecer, mesmo a pessoas fora do espectro metálico. É um disco repleto de sentimento, alegrias e tristezas, raiva, dor, êxtase e melancolia. Além disso, não é o típico álbum de Doom que oferece uma viagem arrastada e negra do início ao fim pois, de certa forma, o nosso incorpora também uma mensagem de esperança.

Houve algum tipo de preocupação em atribuir-lhe algo diferente ou estavam simplesmente preocupados em fazer um bom disco de Doom Metal?
O mais engraçado nisto tudo é que não tivemos especial preocupação em que soasse Doom ou em que não soasse Doom. Simplesmente deixámos as nossas diversas influências artísticas fluírem como um todo de modo a criar um disco honesto.

Acha que o facto de o estilo viver uma fase muito saudável nos meandros nacionais está a ajudar ao crescimento mediático e/ou estrutural da banda?
Pessoalmente penso que a referida conjectura favorável que o Doom Metal atravessa agora nem é assim tão relevante quanto aparenta. Efectivamente têm surgido muito boas bandas dentro do estilo em Portugal mas o Doom continua a não ser um estilo de eleição por terras lusas e duvido sequer que algum dia o venha a ser. Isto para dizer que, em termos práticos, julgo que esta conjectura em pouco influenciou o nosso crescimento.

É natural que “o sonho” comande a vida. Os Mourning Lenore vêem-se inseridos num contexto internacional, com tudo o que isso implicaria a nível pessoal e profissional ou a ideia é levar o projecto como um hobby?
É uma questão complicada pois todos nós temos carreiras bastante compromissórias. Não podemos simplesmente “mandar tudo às urtigas” por seis meses e voltar ao mesmo ponto em que deixámos as coisas pelo que a nossa atitude passa pelo apalpamento do terreno, um dia de cada vez. Se um dia surgir a oportunidade de fazer algo grande com este hobby naturalmente que não pretendemos deixá-la escapar.

Até que ponto é gratificante tocar este estilo musical em Portugal?
É gratificante e não é. Tocar Doom em Portugal rege-se pela velha máxima do "poucos mas bons".

Que diferenças traça, em termos gerais, entre o meio açoriano e o continental?
São dois meios totalmente distintos e ambos têm vantagens e desvantagens. Nos Açores há muito a ilusão de que tocar no continente é que é bom mas por vezes esquecem-se que quando se dá um concerto aqui estão a haver mais quatro ou cinco no mesmo dia, que muitas vezes temos de acartar amplificadores e restante material e andar centenas de quilómetros até à venue do concerto, e muitas vezes depois de termos estado a trabalhar o dia inteiro, para se calhar tocarmos para 10, 20 ou 30 pessoas. Aqui há mais oportunidades para tocar do que nos Açores, certamente, mas há outras dificuldades inerentes à grandeza do meio.

Há algum conselho que possa deixar às pessoas que se movimentam no Metal nos Açores?
Não me considero devidamente qualificado para dar conselhos sobre o que fazer ou deixar de fazer para se ter sucesso enquanto banda mas para mim uma das grandes falhas das bandas de Metal nos Açores é estar-se por vezes meses ou mesmo anos sem se ouvir falar nelas. A meu ver, isso é um erro crasso pois a banda cai no esquecimento e de todas as vezes que ela “volta à praça” é como começar do zero. Outro aspecto que julgo que por vezes fica algo obliterado é a aposta num registo físico. Os concertos são muito importantes mas se a banda não tem um disco para oferecer o trabalho fica por metade.

Qual o seu feedback e, particularmente, o dos seus companheiros, em relação ao concerto que deram em S. Miguel há um ano?
A nossa ida a São Miguel foi provavelmente o momento mais alto de Mourning Lenore. Não por o concerto ter sido o melhor que já demos, até porque não o foi, mas por toda a experiência. Foi algo muito enriquecedor porque fortalecemos os nossos laços enquanto banda e enquanto indivíduos unidos por uma paixão comum. Além disso fomos extremamente bem tratados e acarinhados por toda a gente, o que tornou tudo ainda melhor.

Depois do site Metalicidio.com nunca mais se envolveu em meios de promoção do Heavy Metal, tanto quanto se sabe. Há alguma explicação para isso?
Há uma explicação e bem simples até: falta de tempo. Entretanto muita coisa mudou na minha vida pessoal e profissional: formei os Mourning Lenore, licenciei-me, decidi ficar a viver em Lisboa, comecei a trabalhar… Infelizmente o tempo não estica.

Leva mais alegrias ou mágoas desse tempo?
Alegrias, definitivamente. Acima de tudo porque conheci muita gente graças ao Metalicídio, muitos deles tornaram-se mesmo bons amigos, mas também porque considero que o meu trabalho foi reconhecido, não sentia que estava a 'trabalhar para aquecer'. E confirmei a importância desse trabalho por a esmagadora maioria das pessoas ligadas ao Metal aqui no continente com quem já me cruzei conhecerem o Metalicídio e muitas delas me terem dito "Curto imenso a banda x ou y que conheci através desse site, altamente!".

Agora que “Loosely Bounded Infinities” está no mercado, que outros planos promocionais podem estar na forja para levar os Mourning Lenore até às pessoas?
De momento estamos a apostar ao máximo na exportação do nosso som para o mercado estrangeiro. Encontramo-nos também a agendar concertos para o final de 2010 e 2011 que, naturalmente, serão uma forte arma no que respeita à promoção do álbum.

Nuno Costa

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