photo logopost_zps4920d857.png photo headerteste_zps0e0d15f7.png

Review

DR. SALAZAR
“Dedo na Ferida”

[EP – Edição de Autor]

Se há alguma coisa que chama a atenção à primeira vista quando pegamos neste EP [para o povo português, é claro], é o nome da banda. Dr. Salazar é um nome no mínimo chamativo, potencialmente controverso, objector de consciência, claro está, tal como tentam ilustrar as letras deste EP, nomeadamente, a faixa com o mesmo nome.

Ora como toda a gente sabe, António de Oliveira Salazar foi um ditador que governou Portugal durante quatro décadas e subjugou uma nação a um regime fascista, levando o povo a sofrer os horrores da miséria, fome e, especialmente, da guerra do Ultramar que ainda hoje vive nas mentes [traumatizadas] de quem esteve lá.

E é isto mesmo que os Dr. Salazar não querem deixar esquecer. Em tom de revolta e reivindicação, o “cavalo de batalha” desta banda gira precisamente à volta deste conceito e de uma fase delicada que marcou profundamente o destino de Portugal. Ora perante tão “explosiva” temática, todo o resto, a parte musical principalmente, quase que passa, inevitavelmente, para segundo plano, coisa que, certamente, a banda deve ter noção quando criou todo esta imagética. Em termos estético-sonoros, o que os Dr. Salazar perfazem, é um rock simples, directo e pesado, influenciado pelos Rammstein, especialmente em matéria de arranjos electrónicos, mas não tanto como se diz por aí, já que de resto a banda está bem mais perto de um estilo tradicional ou thrash como podem testemunhar no inicial “A Guerra Que Nós Fazemos”.

De resto, os solos dão uma aragem clássica à sua música, sendo que a maior influência da banda, pelo menos a mais óbvia, será a da voz de “Dr.” que nos faz lembrar de imediato Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta. O facto de cantarem em português é certo que também ajuda a esta aproximação, já que de resto, “Dr.” está muito longe de atingir a convicção obscura e sinistra de Adolfo.

No cômputo geral temos a força de um tema, de um tempo, de uma história tão marcante como a do 25 de Abril, a tentar suportar o futuro de um projecto musical que, embora corajoso e bem intencionado, não nos parece capaz de viver para sempre agarrado a um conceito como este. Terá sido esta uma boa opção a longo-prazo? Quer parecer-nos que não... Para já, fica a [triste] sensação de que se condenaram à sua própria nascença… Esperemos para ver.

[6/10] N.C.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...