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Entrevista Sacred Tears

NUM BERÇO DE MELANCOLIA

Numa altura em que o nosso panorama heavy se encontra claramente dominado por bandas de metal mais moderno, os Sacred Tears aparecem agora a tentar contrariar um pouco essa tendência com o seu Dark/Doom/Goth. Formados em princípios de 2002 na cidade de Ponta Delgada, este então trio composto por Rui Dias, Fábio Alonso e Rui Cabral começou a dar os primeiros passos com o projecto que mais tarde, com a entrada e saída de vários elementos, se viria a tornar num septeto. Para ajudar a conhecer melhor este novo projecto micaelense, a SounD(/)ZonE esteve à conversa com o fundador e baterista da banda Rui Dias.

Como é que surgiu a ideia de formar os Sacred Tears?
A ideia surgiu a partir de vários projectos que não deram em nada devido a várias discussões entre elementos. Daí surgiu a minha ideia de tentar reunir esses elementos para iniciar um projecto dessa vez mais levado a sério. Pelo tempo que a banda toca em conjunto acho que foi uma boa aposta visto que passado um ano e pouco ainda continuamos a tocar.

Que percurso vocês já tinham como músicos antes de formarem os Sacred Tears?
Alguns elementos já tinham participado em alguns projectos, que por diversas razões tiveram sempre o seu termo sem nunca se terem mostrado ao público. Para outros elementos os Sacred Tears foram a sua primeira banda.

Creio que vocês se distanciam um pouco das bandas normais de Doom e Gothic essencialmente pelo uso da percussão nos vossos temas. De onde surgiu a ideia de acrescentar esse pormenor?
A ideia surgiu do guitarrista Ruben Ferreira que, para dar outra dinâmica à banda e também para fugir um pouco ao Heavy Metal tradicional já praticado por outras bandas, decidiu, também em conjunto com os outros elementos da banda, integrar um percussionista.

Dá-nos uma visão geral do conteúdo das vossas letras.
Acho que nada melhor que transcrever as palavras de Paulo Pacheco certa vez proferidas ao teclas Bruno Santos: “As minhas letras sempre lidaram principalmente com o meu espaço interior...Como se fosse uma espécie de introspecção à minha alma revelada ao exterior nas palavras através de metáforas, mitos ou pelo ocultismo. É como se eu escondesse pedaços das minhas dúvidas, dos meus medos e das minhas crenças entre as linhas de um qualquer verso. Portanto, as letras tanto podiam falar da tentativa de encontrar um significado para a minha existência - ou o nosso início - como a “Cradle Song”, em que as teorias de Zecharia Sitchin me inspiraram como também para sentimentos de perda que estão patentes na “Sacred Tears” ou na “Amadeo”. No entanto, o oculto sempre me fascinou e uma letra como a Lamiae antes de falar duma linhagem de vampiros, fala sobre afastamento, isolamento. Sempre gostei de escrever muito subjectivamente, talvez como uma grande influência minha, Maynard J. Keenan, vocalista dos Tool e deixar que as palavras tomem o seu próprio significado – deixar que elas se escrevam por si, quase, e sejam uma interpretação minha da música em si.”

Não podia deixar de fazer-te esta pergunta. Que razões estiveram na origem do abandono dos vocalistas Paulo Pacheco e Bruno Aguiar?
No caso específico do Bruno Aguiar houve um período de tempo em que teve alguns problemas de ordem pessoal que acabou por afectar a banda. Todos juntos tomamos a decisão que achamos melhor para a banda, embora tenha sido uma decisão muito complicada. Mais complicado foi ainda comunicar a nossa decisão ao Bruno Aguiar. No caso do Paulo Pacheco foram também por motivos pessoais que originaram a sua saída, mas nesse caso contra a vontade de toda a banda. No entanto, todos somos livres de fazer opções. Foi a opção dele e há que respeitá-la.

Após um período difícil em que estiveram à procura de vocalista, eis que encontraram Filipe Raposo para ocupar o lugar vago. Como tem sido o resultado dessa experiência? Ele tem se adaptado bem?
Até ao momento tem sido uma experiência diferente e trabalhosa. Contudo, com esforço de toda a banda, conseguiu-se preparar o vocalista para cantar 5 temas, ainda que com o apoio do teclas Bruno Santos em algumas músicas. De momento estamos a trabalhar com o vocalista em outros temas nossos, incluindo temas novos ainda sem letra. A sua adaptação tem sido razoavelmente fácil.

Durante o período de audições para arranjar vocalista vocês estavam a admitir vozes femininas. Acabaram por desistir da ideia ou ainda continuam à procura de uma voz feminina para aquilo que gostavam de construir na vossa sonoridade?
Sim, de facto ainda continuamos à procura de uma voz feminina para então podermos solidificar e definir melhor o nosso som.

Uma das boas características que a vossa banda tem vindo a demonstrar é a postura dinâmica com que se move no nosso difícil meio musical. Já por duas vezes o vosso nome aparece associado a organizações de festivais o que é de realçar. Tem sido muito difícil organizar estas iniciativas?
Digamos que não é muito difícil se houver o esforço de todos, como tem vindo a ser o caso, mas a maior barreira de todas tem sido a falta de apoios para esse tipo de eventos.

Na tua opinião, como correu o Sacred Fest?
Foi razoável. Apesar das condições adversas, como sejam o tempo, o palco que nos disponibilizaram e a nossa inexperiência, acho que correu bem. Houve uma aderência de publico significativa, embora pudesse ter tido mais publico se as condições tivessem sido outras.

Após a realização do festival vocês foram convidados pelo Toni Pimentel para gravarem uma demo song. Para além disso a banda tem partilhado muitos espectáculos com os Passos Pesados. Como é que surgiu essa relação tão próxima com eles e com o Toni?
Foi através do Sacred Fest que tivemos a sorte de conhecer o Toni Pimentel, pois foi ele quem contratamos para por som no festival. A relação foi-se desenvolvendo naturalmente desde o início do Sacred Fest, o Toni gostou da forma como estávamos a dirigir as coisas e achou por bem dar apoio à nossa banda. No final do festival comunicou-nos que ofereceria a gravação de uma música a nós. A relação cresceu ainda mais devido ao tempo que a banda passou junto com ele durante a gravação da música “A Cradle Song”.

Ainda falando de festivais, sei que haviam planos vossos de organizar um Sacred Fest maior. Falava-se em ThanatoSchizO, Oratory, Holocausto Canibal entre outros. Como ficou a ideia?
Sim, é verdade, adiámos essa ideia devido à saída do vocalista Paulo Pacheco e a alguma falta de apoios que estávamos a ter no momento. Em termos das bandas, facilitaram as coisas ao máximo. Contudo abandonámos a ideia de trazer Oratory, devido a terem um cachet mais elevado que o resto das bandas. Pensamos então em Dogma, banda de estilo gótico do panorama undergound nacional. Esperamos ainda poder concretizar esse festival.

Que opinião tens sobre o que se passa actualmente no panorama heavy açoriano? Há quem se queixe que estamos rodeados de bandas de nu-metal. Que pensas desse assunto?
Infelizmente é verdade, existe muitas bandas a tocar nu-metal o que acho que não traz muitos benefícios para as bandas, é um estilo muito comercial, algumas vezes com pouca qualidade. De certo modo sempre que ouço uma banda de nu-metal dá-me a sensação de serem cópias umas das outras, principalmente nas vozes onde muitas das bandas de cá se colam à voz do vocalista dos Slipknot. Mas claro que são também gostos que dependem de cada um, e como tal há que respeitar. Para além do tão falado nu-metal, tem surgido bandas com muita qualidade em diversas variantes do metal, Gothic, Doom e Black. O panorama metal Açoriano já teve dias melhores. Quem não se lembra de bandas como Luciferian Dementia, Prophecy of Death, Obscenus, Gods Sin entre muitas outras. Hoje em dia o panorama metal Açoriano conta com poucas bandas com nome, activas na região, estou-me a lembrar dos Morbid Death, In Peccatvm e dos Dark Emotions.

Para terminar, até onde vocês estão dispostos a ir com a banda?
Até ao fim…

Nuno Costa
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