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Entrevista Project Creation

MUNDOS PARALELOS

O multi-instrumentista Hugo Flores, conhecido pela sua enorme dinâmica de trabalho e, essencialmente, pelos Sonic Pulsar, arremessa-nos agora o primeiro capítulo de um bombástico projecto intitulado Project Creation. Seguindo as suas linhas mais características – o prog rock e a música ambiental -, Hugo apresenta-se como compositor de uma autêntica odisseia futurista e orquestrador de um ilustre leque de músicos, onde se destaca Linx [vocalista dos Forgotten Suns], Paulo Chagas [saxofonista, flautista dos Miósotis], Alda Reis [voz], Carlos Bateras [baterista ex-PLI], entre outros. Com um enredo envolvente e um som majestoso, Project Creation não é susceptível de passar despercebido aos ouvidos de ninguém e, por isso, foi com muito prazer que a SounD(/)ZonE falou com o seu responsável.

Hugo, já é legítimo apelidar-te de “workaholic”... Em apenas dois anos lançaste o segundo álbum dos Sonic Pulsar e o primeiro capítulo do “Project Creation”. Como consegues arranjar tempo e criatividade para fazer face a todos os teus projectos?
(risos) Concordo contigo, mas se pudesse trabalharia ainda mais na música! É verdade que em dois anos saíram dois álbuns, mas o “Out of Place” teve um atraso de cerca de um ano, o que significa que, na realidade, quando terminei as misturas para esse álbum, continuei depois o Project Creation. Criatividade e ideias é o que não me falta. Por vezes tenho dificuldade em manter uma música com menos de 15 minutos ou manter um álbum num CD, pois as ideias vão surgindo sem parar, seja um som, uma ambiência, ou uma melodia. Se me soa bem, tem de ficar embutido numa música existente ou criar uma faixa totalmente nova. Quanto ao tempo, eu acho que quando se tem vontade ou um compromisso, neste caso com a música, tempo existe sempre. É preciso é ter sobretudo vontade. A música faz parte de mim, preciso dela, e todos os dias necessito de ouvir e de fazer música. Se passo um dia sem compor algo, para mim é um dia que sabe a pouco. Mas tens razão, nem sempre é fácil ter tempo para tantos projectos!

Fala-nos um pouco do teu passado musical.
Antes do meu primeiro CD a solo –“ Atlantis” – trabalhava essencialmente sozinho no meu PC, com sintetizadores e um teclado Roland. Fazia a música que bem entendia e aos poucos percebi que aquilo era bastante sinfónico e épico, com múltiplas melodias e estruturas rítmicas. Ao mesmo tempo adorava o chamado Heavy Metal, sobretudo Iron Maiden. Depois veio Steve Vai, Joe Satriani, e o meu gosto pela guitarra acentuou-se. Deste modo, senti que faltava algo à música que ia fazendo, ou seja, a componente eléctrica e acústica. Tal só seria possível gravar com equipamento profissional e, aos poucos, fui conseguindo adquirir o essencial para mim. Tive também aulas de guitarra, de música e de piano e durante esse tempo toquei com o Carlos Mateus no liceu, e até cheguei a fazer música electrónica/techno. Nesse tempo também usava muito o antigo Commodore Amiga, computador que ainda hoje recordo com saudade! Fiz também alguns spots para rádios no passado e para um jogo de computador.

Li algures que o “Project Creation” é realmente o projecto que te deixou mais realizado até hoje. Porquê?
Boa pergunta, e não sei bem porquê. Mas vou pensar nas primeiras palavras que me aparecem ao pensar no álbum…. Hmm, poderoso e melódico. Muito trabalhado e cheio de talentos. “Floating World” é o álbum que mais gozo me dá a ouvir. Não sei, mas é mais acessível que Sonic Pulsar. Aliás, tenho noção que este álbum vai atingir um leque muito maior de pessoas, pelo som mais tipificado que apresenta. Sonic Pulsar apresenta aspectos semelhantes mas é mais difícil de se ouvir, sendo mais progressivo mas menos épico e melódico. Claro que este “difícil de se ouvir” é muito relativo, pois o pessoal mais prog adora o género. Quando digo mais difícil será no âmbito do mainstream. O facto de tantos músicos terem participado contribui também para esta minha satisfação, é mesmo algo em grande! Também me satisfez porque percebi que era capaz de fazer algo com um leque grandioso de pessoas e sair do meu casulo Sonic Pulsariano! Estou mesmo muito orgulhoso do projecto e o facto da Progrock Records ter pegado nele ainda me entusiasmou mais, pois a divulgação atinge quase todos os países.

Onde colocas os teus projectos a nível criativo? Onde é que um te concede possibilidades que outros não te concedem ou sentes liberdade para experimentar tudo em qualquer um deles?
Olha, Sonic Pulsar é quase o “vale tudo”. O que me passa pela cabeça está lá, mas assume uma postura mais de prog metal. Project Creation é diferente, mais uniforme no som. O engraçado nisto tudo é que quem ouvir a faixa 1 ou 8 de Project Creation – “Floating World” – e ouvir Sonic Pulsar – “Out of Place” -, vai pensar que são do mesmo projecto, mas se ouvirem a faixa 5 ou 13 de Project Creation, pensam que se trata de um álbum electrónico ou de World Music. Project Creation tem imensos estilos musicais ao longo do CD. Sonic Pulsar tem muitos estilos também, mas dentro de cada faixa. Por isso tem faixas de quase 11 minutos e Project Creation não. Na música “Moving Engines” do álbum “Out of Place” dos Sonic Pulsar, apresentamos uma civilização que alia organismo a mecânica e que vive em harmonia com a natureza criando eles próprios outros seres. Esta ideia foi o ponto de partida para o Project Creation, onde nos focalizamos na civilização que parte no Mundo Flutuante. Esta civilização está mais preocupada com os outros e com a criação de vida e possui poderes que possibilitam a viajem através de dimensões. Esta ideia parte da vontade que tenho em melhorar, não apenas como ser humano, mas também de melhorar a sociedade. Estamos num processo de evolução com coisas más, mas também com outras positivas. Resumindo e concluindo, a necessidade de criar um projecto à parte de Sonic Pulsar prendeu-se com a minha vontade de fazer algo de diferente, a nível sonoro. Queria fazer um projecto só de música ambiente, mas achei que não seria o que mais me satisfaria. Daí, fiz algo de semi metálico e ambiental.

Como começaram a surgir os primeiros trechos para o Project Creation?
Surgiram quando estava a terminar o “Out Of Pace” dos Sonic Pulsar. Comecei a trabalhar nas ideias no meu sintetizador e as músicas começaram a assumir uma grandiosidade difícil de resistir, mas que saíam fora do âmbito de SP, pelo que já disse, o tal aspecto mais electrónico e ambiental, mas com um sentido metálico forte. Queria também trabalhar com mais músicos… Era um desafio para mim. Será que consigo coordenar tudo isto? Será que músicos de jazz, de rock, de pop ou prog vão gostar deste género? E a verdade é que foi fenomenal e todos adoram o projecto. Era um desafio! Finalmente, surge também pela minha necessidade em fazer uma historia épica, de ficção cientifica e de continuar o que comecei no “Out of Place”.

Em que foi que te baseaste para criar esta autêntica odisseia “científica”? Já agora, faz-nos um resumo do seu conceito.
Baseei-me sobretudo nas minhas ideias para uma história de ficção e na vontade de explorar o desconhecido. De qualquer das maneiras, penso que apesar de todos nós termos ideias originais e que estão dentro de cada um, todo esse pensamento é constituído por diversas correntes. Uma delas a escrita, e tenho por influencia o livro Solaris. Numa outra corrente podemos colocar os filmes de ficção, tendo como influencia o “Dark City”. Também te posso dar como referência outros filmes que influenciaram esta epopeia, como o “Star Trek I” e “2001 Odisseia no Espaço”. Relativamente ao conceito, resumidamente trata de uma nave gigantesca com capacidade de se auto regenerar e ter os seus próprios recursos naturais. Dentro desse mundo flutuante, humanos coabitam com engenhos voadores, chamados de libelinhas mecânicas, que utilizam as suas cordas vocais para dar energia ao mundo deserto que vão encontrar. Um símbolo é colocado nesse planeta, uma pirâmide que tanto quer representar o antigo Egipto como um possível futuro Egipto. Neste caso querendo dizer que o passado e o futuro se unem. Mas nada melhor que ouvir todo o álbum e não desvendar todo o enredo!

Será que existe algum paralelo com a situação actual do mundo ou uma visão profética nesta história?
Sim, em todos os meus CD há sempre uma crítica muito forte, mais ou menos explícita. A faixa 4 do “Floating World” é exemplo disso, onde refiro um Mundo sem empresas, concorrência e religião. Não gosto do termo profético, foi simplesmente o gosto pelo mistério, pela ficção e por uma boa historia que reflicta essas ideias futuristas com crítica forte à sociedade. O facto de abordar, tanto em “Out of Place” como neste álbum, a destruição do Mundo Natal dos ocupantes da nave, significa também uma realidade que pode, infelizmente, vir a acontecer mais depressa do que o desejado.

Já me foi dado a perceber que tu tens uma grande inclinação pela escrita. Tens algum trabalho editado ou planos para tal?
Editado não, mas estou a escrever curtas histórias que gostaria de colocar em livro quando tal for oportuno. As historias da “Solitary Star” [faixa 8 do “Out of Place”] que estão a ser desenvolvidas por mim e pelo Carlos Mateus, também dariam um possível livro. Mas só para daqui a muito tempo e se for possível, claro!

Neste disco trabalhas com vários artistas. Uns são mais conhecidos que outros... Queres apresenta-los e falar um pouco do seu background?
Sim. Já há algum tempo que achava que os músicos desta onda se deviam unir num grande projecto. Linx foi o elemento em que pensei de imediato, pois admiro muito o trabalho dos Forgotten Suns, e Linx tem um timbre de voz que aprecio imenso e que encaixa muito bem no estilo da música. Em menos de dois dias estava tudo gravado! Paulo Chagas, grande saxofonista e flautista, tendo inúmeros projectos, como os Miosótis. Alda Reis com uma óptima voz suave e lírica, Carlos Bateras que era dos PLI, em grande na bateria, Nuno Silva dos PLI em violoncelo e alguma guitarra baixo, Ptrocker também dos Miosótis, nos belos solos de guitarra, Fred Lessing em percussão (Chimes) e baroque recorder, Allen Vasconcelos na guitarra acústica [faixa 11] e Carlos Mateus, dos Sonic Pulsar, na letra da última faixa deste álbum. Fui falando com os músicos, apresentando o tema do projecto, extractos das músicas, e todos quiseram alinhar nesta aventura e espero contar com eles para o segundo.

O facto de estares a trabalhar em quase todos os teus projectos com editoras estrangeiras tem te sido muito benéfico, acredito...
Acredito que sim, mas também não tenho base de comparação pois não tenho, nem nunca tive, contrato com editoras Portuguesas. Tenho a certeza de uma coisa, a editora do Project Creation faz uma promoção bestial, um pouco por todo o Mundo, e contrariamente a qualquer editora portuguesa, o álbum chega mesmo a todos os cantos do Mundo. Nestes aspectos, é sem dúvida benéfico.

Nunca apareceram editoras portuguesas interessadas no teu trabalho? Faz-nos já agora uma análise da situação do prog rock em Portugal.
Sim, já me chegaram propostas de 3 ou 4 editoras mas, ou chegam tarde ou não são minimamente aliciantes. A Progrock tem a força necessária para promover o álbum. Por cá não há interesse neste género de música, pois querem o que é “fácil” e apostam pouco acho eu. Em Portugal temos as bandas de sempre. As novas que surgem desaparecem em poucos anos. São poucos os que ficam. O rock progressivo começa a surgir aos poucos, mas apenas surge pela vontade e pelo esforço das bandas. Forgotten Suns é exemplo disso, Miosótis é outro, até os Tantra já editam os seus próprios álbuns. Porque é que as rádios [as grandes] não passam o que de facto acham que tem qualidade? Têm as suas playlists definidas, é quase como que um leilão. E depois temos os locutores a dizerem coisa como: “e agora aqui vem uma das minhas músicas favoritas!”.... Enfim, é fácil “engolir” o que nos impingem. Mas acredito que quem quer ouvir boa música não está à espera das rádios e vai certamente à procura de música. Ela está à vossa espera!

Quanto a reacções a este novo mega-projecto que nos tens a apontar?
A reacção tem sido excelente. As críticas são muito boas. É um álbum arriscado, porque tem 72 minutos de música sendo muito extenso e a história está contada ao longo do CD. Por vezes, o facto de um CD ter essa totalidade de tempo pode ser prejudicial, mas no caso deste “Floating World” a variedade é tanta e as surpresas que ocorrem destroem qualquer monotonia e a pessoa que compra o álbum fica com o seu dinheiro bem empregue. Ao nível de rádios, o álbum passa um pouco por todo o lado, mas o difícil é chegar às grandes como referi. O que é óptimo saber, é que pessoas que não ouvem deliberadamente progressivo, mas sim rock e pop, gostam do álbum e compram-no. Isso é excelente, e lá está, não gosto de catalogar a música por isso mesmo.

Este é um projecto apenas de estúdio ou tens em perspectiva apresentá-lo ao vivo?
Project Creation é sobretudo um produto final, uma criação de estúdio, apesar de eu já ter pensado a sério apresentar o álbum ao vivo, o que se revela muito complicado devido às várias sonoridades apresentadas, requerendo um tempo e logística muito complexos. Além de que para me dedicar a PC ao vivo, não teria certamente tempo para mais nenhum projecto. É uma escolha a fazer. Sinceramente, gosto de estar fechado no meu Mundo, no meu estúdio, a compor e a absorver informação e depois compor e ir até ao meu limite em termos de composição e de criação. De qualquer maneira, não está colocada de parte uma actuação a vivo… Logo veremos. Sigo um pouco as pisadas de Ayreon ou de Henning Pauly baseados na criação de um produto final e bem conseguido. No caso do PC, estamos a produzir também o filme/clip que está a ser algo de espantoso para mim e inovador em Portugal. Espero que o pessoal em Portugal goste! Podem ver o teaser em www.progrockrecords.com/shop/view.php?id=82

Que nos podes adiantar sobre os próximos capítulos de “Project Creation”? Consegues pelo menos nos dar uma ideia de quando serão lançados?
Estou já na fase de composição do segundo álbum, no entanto, é cedo para apresentar uma data. Prevejo, no entanto, que deva sair, o mais tardar, para meados de 2007. Em relação à historia, até há pouco tempo estava indeciso entre duas abordagens, mas já decidi em qual pegar. Vamos observar um pouco a evolução do novo planeta, a comunhão entre as diversas espécies, vamos revisitar a pirâmide de Queops e vão acontecer várias mudanças à volta da pirâmide! O álbum vai sobretudo focalizar-se numa das libelinhas, aquela que necessita constantemente de viajar. Posso adiantar que duas musicais vão falar sobre uma fantástica cidade num planeta distante. Mais detalhes para quando eu os souber! (risos)

E os teus outros projectos como estão?
Com a composição do PC parte II, vão avançando um pouco mais lentamente, mas um terceiro álbum do Sonic Pulsar já está idealizado, bem como uma regravação do meu primeiro álbum “Atlantis”. Tenho também já algumas gravações para um álbum, que sai fora de todos estes projectos, muito mais vocacionado para o metal puro e de nome Dimensions. Será uma viagem por várias dimensões ou estados de espírito. Vai ser mais agressivo, muito bipolar, ou seja, depressivo e eufórico. Vai ser sobretudo guitarra, baixo e ritmo. Será o álbum mais pessoal até hoje. Já tenho boa parte das guitarras gravadas, falta agora a organização do que gravei, a conjugação com a bateria, e o baixo. Por último, uma novidade, Sonic Pulsar vai participar num tributo a Santana, à semelhança do que aconteceu com os Moody Blues, a ser editado pela Mellow Records.

Para terminar, alguma mensagem?
Quero agradecer-te por esta entrevista e agradecer a todos fãs, sobretudo aos que desfrutem do álbum na sua plenitude. É um álbum para ouvir e re-ouvir! É preciso mesmo viver a história e a música.

Nuno Costa
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