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Entrevista Process Of Guilt

PROCESSOS DE RENÚNCIA

A ameaça já se vem propagando desde de 2002 altura em que estes eborenses lançaram “Portraits Of Regret”. A forma desmesurada como têm crescido e angariado o respeito do público já os vinha prenunciando como um dos maiores projectos nacionais, apenas a pecar pela ausência de um longa-duração. A hora foi chegada em finais de 2006, quando foi editado “Renounce”, ainda a tempo de constar da lista dos melhores lançamentos nacionais em variados rankings. “Renounce” é unanimemente um bom disco de doom em qualquer zona do globo e, para nós, portugueses, este é um grande motivo de orgulho. O vocalista e guitarrista Hugo Santos transporta-nos para o interior obscuro desta banda de referência.

Alguns meses passados após o lançamento de “Renounce” continuam-vos a chegar excelentes reacções ao vosso disco de estreia. Têm superado realmente as vossas expectativas?
As críticas e as reacções a «Renounce» continuam a chegar-nos de modo continuado pelo que, certamente, uma reacção deste género e tão continuada nos surpreende, e de modo bastante positivo.

Para uma banda que detém uma imagem respeitável como a vossa no panorama musical nacional e que já surgiu em 2002, podemos dizer que já tardava o lançamento do vosso primeiro disco. Este era um momento muito aguardado pelos fãs e por vocês também, acredito...
Há muito que ambicionávamos lançar um longa duração. No entanto, podemos dizer que encarámos de forma bastante natural todo o processo de crescimento, nosso e da banda, até ao ponto em que se criaram as condições necessárias à gravação de «Renounce».

Digamos que estavam como que a “apalpar” terreno... Por outro lado, subscreves se disser que esta projecção também não se proporcionou mais cedo porque ninguém tinha colocado fé em vós antes?
Em parte, foi uma decisão consciente deixar crescer os temas e encontrar o melhor momento para os podermos registar em estúdio de acordo com a nossa evolução enquanto músicos. Por outro lado, há toda uma questão de disponibilidade no nosso quotidiano que foi necessária articular com a entrada em estúdio de modo a podermos optimizar os tempos de gravação e misturas. No que respeita a agentes externos à banda houve alguns interesses por parte de editoras ao longo do processo de desenvolvimento da banda, mas nada de especial relevo, até ao contacto da Major Label Industries.

Aparentemente, eles acreditam muito em vós e não tiveram dúvidas em fazer dos Process Of Guilt a sua primeira banda! Como surgiu este contacto?
Todo o contacto com a MLI surgiu de um modo muito decidido e dedicado, sendo que acontece já em plena fase de gravação em estúdio, o que para nós foi muito positivo, possibilitando-nos outro nível de garantias relativamente ao lançamento de «Renounce». A relação com a MLI resultou de um conhecimento e de um apoio que já vinha desde a época das nossa demos, pelo que, quando se formulou a hipótese de um contacto mais profissional, não hesitámos, uma vez que sabíamos à partida que tínhamos hipótese de crescer conjuntamente com a MLI enquanto sua prioridade.

Apesar da MLI ser uma estrutura muito incipiente demonstra capacidades de difusão muito grandes. O vosso trabalho tem chegado a quase todo o mundo, certo?
Sim, a rede de distribuição de «Renounce» estende-se quase a todo o mundo, facto resultante de um esforço constante e insistente por parte da MLI. Por vezes as coisas demoram um pouco mais a acontecer como consequência de ser ainda uma estrutura relativamente recente. No entanto, julgo que o caminho será progressivamente de maior crescimento e estruturação para a MLI.

Ainda no plano das reacções... Sentem algum gozo especial por “Renounce” constar em várias poles referentes aos melhores de 2006 em Portugal? O terceiro lugar para a redacção da Loud!, por exemplo, é um daqueles motivos particulares de orgulho?
Podemos dizer que ficamos sempre agradados com todas as reacções positivas que obtemos relativamente a «Renounce». Quanto maior divulgação tiver o suporte em que essas críticas surgem (revistas, webzines, blogs) maior será a possibilidade de a nossa música suscitar a curiosidade por parte de quem lê as críticas e, nesse aspecto, julgo que em Portugal o facto de «Renounce» ser eleito o terceiro melhor disco na pole da Loud! constitui uma boa fonte de divulgação.

Analisando “Renounce”, começava por perguntar-te a que renúncia se referem no título do vosso álbum...
Não há um objecto em particular alvo da renúncia a que o título se refere, há antes um constatar de um motivo, de uma linha ao longo de todo o CD que reporta a um sentimento de renúncia, de negação, de alguns sentimentos que potenciaram a ambiência presente nas músicas que integram “Renounce”. Toda a envolvência do CD procura remeter para esse imaginário, desde a música, às letras até à própria componente gráfica.

Em que aspectos musicais consideras que este álbum diverge dos seus anteriores registos?
Julgo que este CD resulta como a consequência, mais ou menos directa, de toda a música que produzimos anterior a “Renounce”. Podemos referir que há uma melhor produção, uma melhor execução, uma melhor captação dos instrumentos. No entanto, aquilo que para nós foi a maior evolução relativamente aos anteriores registos foi a forma como as diferentes músicas respiram de modo a poderem construir a paisagem sonora áspera, envolvente e melancólica que ambicionámos para este registo.

A nível estilístico os Process Of Guilt apesar de serem bastante fiéis às raízes do estilo, conseguem momentaneamente aproximar-se do chamado pós-doom pelas suas passagens mais melódicas e ambientais. Concordas?
Sim, acho que temos elementos introspectivos de cariz mais melódico que acrescentam uma outra ambiência à música que elaboramos. No entanto, para nós, não correspondem a um rótulo muito definido, apenas representam um desenvolver da nossa linguagem de acordo com o que determinada música requer para a sua evolução e concretização.

Por outro lado, a banda também cria algumas passagens mais rápidas. Têm a intenção de diversificar e não criar trabalhos tradicionalmente doom, somente demarcados pela sua vagarosidade do princípio ao fim?
A alternância de tempos que existe na nossa música resulta do facto de querermos produzir música que reflicta a nossa expressão de acordo com um determinado sentimento. Por vezes, tal requer que a música se torne mais rápida e violenta, por outras mais contemplativa e melódica, e aí não nos inibimos de incorporar na nossa música outras influências que temos para além do doom metal, como o death, o post-rock ou o darkwave, uma vez que esta diversidade complementará a nossa evolução e reforçará a nossa atractividade musical.

Como surgiu a hipótese deste disco ser masterizado na Suécia?
Após o contacto com a MLI surgiu a oportunidade de efectuarmos uma masterização extra estúdios Quinta Dimensão o que, no entendimento da banda e do João Bacelar, proporcionaria uma outra dimensão à sonoridade de «Renounce», funcionando quase como uma segunda opinião sobre o assunto. A partir deste momento elaborámos uma lista de nomes que, pelo seu trabalho, nos interessavam e foi a partir daí que chegámos ao Thomas Eberger nos Cutting Room, na Suécia, que já tinha trabalhado com bandas como Katatonia, Opeth, Daylight Dies e que cumpriam o espectro sonoro que ambicionávamos para este trabalho de masterização..

Para encarnar o doom é mesmo preciso viver-se os sentimentos que se tocam? Tentas colocar-te num determinado estado de espírito para compor temas para os POG?
Não somos de todo pessoal melancólicas que incorporem tamanha dose de pesar à sua vida, apenas tentamos explorar uma faceta dos nossos sentimentos cujo desenvolvimento e exponenciação permitem a elaboração de música. Por muito que procure, por vezes, colocar-me num determinado estado de espírito para compor música, os melhores riffs acabam sempre por aparecer de forma e em momentos inesperados, pelo que o melhor mesmo é deixar surgir as ideias, principalmente nos ensaios, e aproveitarmos a ambiência do momento.

Évora e o seu ambiente de interior, mais calmo, contribui para o que os Process Of Guilt fazem?
Sendo que três quartos da banda é de Évora, julgo que tal se reflecte na nossa musicalidade, uma vez que somos sempre um reflexo de todas as influências que nos rodeiam e, obviamente, o local onde crescemos não é alheio a este facto. No entanto, julgo que há outras influências, nomeadamente ao nível do que ouvimos que acabam por ser muito mais determinantes para a música que criamos.

Há dias decorreu o 13º Mangualde Hard Metal Fest onde subiram ao palco ao lado de nomes tão sonantes como Malevolent Creation e Rotting Christ. Como correu a experiência?
O concerto em Mangualde correu bem, julgo que o público aderiu bem e a prestação das bandas pode considerar-se de forma geral bastante boa. Neste momento estamos ocupados com a preparação dos dois concertos que vamos efectuar com Katatonia no Porto, no Teatro Sá da Bandeira, no dia 11 de Abril e em Lisboa no Paradise Garage no dia seguinte, 12 de Abril, sendo que obviamente nos encontramos muito agradados por podermos partilhar o palco com uma banda que também é uma referencia para nós.

Ao vivo como tem decorrido a apresentação de “Renounce”, bem como o feedback do público?
Nas apresentações que efectuámos ao vivo até agora tem sido onde maior feedback temos obtido por parte do público, havendo maioritariamente reacções de agrado em relação à nossa actuação. Num ambiente ao vivo tentamos recriar a ambiência geral dos nossos registos sendo que procuramos incorporar-lhe uma dimensão de presença e sentimento adicional, que, de facto, transforme a nossa actuação num momento intenso e expressivo.

Uma vez que as coisas estão a correr-vos bastante bem com “Renounce” já pensam em hipóteses de uma digressão mais longa dentro ou fora de portas?
Vamos ver como as coisa acontecem nos tempos mais próximos, uma vez que certamente a hipótese de levarmos a nossa música para fora de portas também passa pelos nossos objectivos...

Nuno Costa
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