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Entrevista Luís H. Bettencourt

PRIMOROSO

Dono de um talento admirável na arte de manejar a guitarra eléctrica, o jovem micaelense Luís H. Bettencourt, tem vindo de há uns tempos para cá a afirmar-se como um dos guitarristas mais geniais e promissores dos Açores e não só. Agora que segue uma carreira a solo, para além de acumular funções nos Classic Rage, Luís H. Bettencourt tem o caminho mais livre para poder explorar e aprofundar o seu imaginário. Fiel discípulo de Steve Vai, Luís H. Bettencourt esteve à conversa com a SounD(/)ZonE.

O teu contacto com a música começou desde muito cedo, mais propriamente aos 10 anos. Como é que surgiu essa afeição tão grande pelas 6 cordas?
O meu interesse na música começou desde miúdo... tive um primo que foi morar para a minha casa por motivos de estudo, ele tocava guitarra numa tuna e eu acabei por tomar o gosto à guitarra. Pode-se dizer que foi o meu primeiro contacto com a música. Logo por esta altura comecei a minha aprendizagem musical, exceptuando algumas ajudas na parte de acordes básicos, tudo passava por uma questão de experiência e exploração da guitarra... sentimento que ainda hoje sinto ao tocar, e que espero nunca deixar de o sentir. Acho que para alguém ser um bom músico não tem que necessariamente tocar ou executar bem, mas sim sentir aquilo que toca!

Sei também que te interessas muito por teoria musical e por estudar outros géneros, que não só o metal. De que forma isto tem ajudado ao teu crescimento como músico?Enormemente! Acho que foi exactamente a busca de novos horizontes e constante luta contra a estagnação musical que me fez progredir como músico e compositor... Como já referi, a minha aprendizagem foi praticamente autodidacta, desde cedo senti um fascínio por aqueles pontinhos negros nas pautas e que teria mesmo que saber fazer aquilo também. Comprei livros de solfejo, estudos, análises musicais, partituras quanto baste e comecei a passar a minha música para o papel. E ainda hoje digo e repito que a música clássica, o jazz, o blues, bossa nova e mesmo o chamado “metal” são grandes escolas para qualquer músico, nem que seja para assimilar um pouco de cada...

Optaste muito cedo em enveredar por um projecto a solo. Porquê essa decisão? Achas que posição de líder te cabe melhor?
Não me considero um líder nem pouco mais ou menos. Escolhi sim uma carreira a solo por uma questão de satisfação musical, para me sentir bem com aquilo que componho sem ter limites ou fronteiras musicais, no sentido em que se me apetecer tocar blues não tenho qualquer impedimento, se me apetecer tocar uma valsa, toco...

Como funciona o processo criativo da banda? Todos os elementos dão ideias ou tu compões exclusivamente todo o material?
Nós temos um método de trabalho que, a meu ver, é um pouco diferente! Temos essencialmente duas vertentes de composição na banda: na primeira, o processo criativo passa todo por mim, no sentido em que são músicas compostas, trabalhadas, arranjadas e escritas nos momentos em que me encontro sozinho, que sinceramente são os mais produtivos, porque, como já referi tento sempre passar um pouco das minhas vivências e sentimentos para as músicas, elas fazem parte de mim. Após todo este processo de composição, arranjos estar concluído, passa à fase da apresentação aos músicos que por sua vez contribuem com ainda mais ideias. Na segunda vertente de composição, o processo criativo passa por todos. É muito gratificante para mim ter a sorte de ser acompanhado por excelentes músicos e poder partilhar das mentes criativas destes, e visto terem todos um “background” musical diferente, nunca se consegue prever o que vai sair destas sessões de composição. Mas de resto como somos todos amigos há muito tempo (atrevo-me até a chamá-los de “irmãos”) o ambiente é sempre do mais alegre possível e claramente propício ao trabalho. Aproveito para apresentar os músicos que me acompanham: António Teixeira na bateria e percussão, Nuno Mendonça nos teclados, Miguel Bernardo no baixo.

Ao longo dos anos tens vindo a ser reconhecido como um dos mais talentosos guitarristas dos Açores, arrancando rasgados elogios por onde quer que passas. Inclusivamente já contas com alguns prémios na tua carreira. Como lidas com o nível de projecção que o teu nome atingiu?Lido com naturalidade! Acima de tudo, não deixo de ser o Luís H. Bettencourt, pessoa, um ser humano como outro qualquer, e é com esse espírito que vivo o dia-a-dia. Por outro lado, o reconhecimento do público é muito gratificante para mim, encaro-o como o fruto do meu trabalho e do esforço que tenho feito até hoje. É esse reconhecimento que me impulsiona, que faz com que queira fazer sempre mais e melhor.

És dos poucos músicos açorianos que, com a tua idade, possuem um tão valoroso contacto com músicos consagrados. Destes contactos qual te marcou mais e porquê?
Já tive o prazer e honra de conhecer inúmeras figuras importantes do meio musical nacional e internacional. Mas sem dúvida que no meio de tantos nomes há um que me marca de um modo muito especial pois sem dúvida que é a minha grande inspiração e mentor... Steve Vai foi impreterivelmente a celebridade que me marcou mais. Para além deste gigante posso referir que os Rammstein são uma banda muito simpática entre incontáveis outras.

O que é que te fascina mais no Steve Vai?
Steve Vai é para mim provavelmente um dos maiores génios musicais dos nossos tempos, para além da sua incontornável mestria da guitarra, o que mais me fascina nesta personagem é a sua posição perante a música. Toda a sua filosofia de a música não ser mais que um fluxo de energia emocional e espiritual chamou-me a atenção, porque era exactamente o meu ponto de vista. Tenho a noção que para muitas pessoas a sua música é intragável, mas ele não faz música para que as pessoas gostem, mas sim para se sentir realizado com aquilo que faz!

Neste momento trabalhas como professor oficial das escolas da Yamaha International. Como apareceu essa oportunidade?
Essa oportunidade surgiu por intermédio do Sr. Fernando Cunha e da Loja/Escola Matermusica. Sendo esta a única escola oficial da Yamaha nos arquipélagos de Portugal, mas que naquela altura cingia-se apenas ao ensino de órgão, fui convidado a tirar o curso da Yamaha para poder leccionar os cursos de guitarra eléctrica, guitarra baixo e bateria. Foi sem dúvida uma experiência fantástica e repleta de novos conhecimentos e que me fez aperceber de toda uma complexidade no ensino da música da qual, muito sinceramente não fazia ideia.

Como está a decorrer a experiência? Suponho que estejas radiante por estares a dedicar-te a tempo inteiro àquilo que gostas...
É um sonho concretizado, não só por me dedicar a 100% à música mas também por estar a passar conhecimentos e experiências aos meus alunos. Eu tento não ser o tal “professor de música” estereotipado, mas sim um “gajo” que está ali para os ajudar a avançar musicalmente e fazer por eles aquilo que sempre quis para mim e nunca tive. Mas um dos aspectos mais gratificantes é que a maior parte das bandas novas que estão a aparecer em S. Miguel são compostas por alunos meus, e isso para mim é motivo de orgulho, porque é sinónimo que estes já estão à vontade para o fazer e que consegui transmitir um pouco da minha paixão por esta grande arte que é fazer música...

Que planos tens para a tua carreira? Achas que será possível conseguires o que queres continuando na região?
O meu grande plano é sentir-me satisfeito com o que faço sendo sempre verdadeiro para comigo e para com a minha música. Claro que não vou dizer que não tenho o sonho de estrelato com que toda a gente sonha, mas também acho que o género musical que pratico não é o denominado “mainstream”, até porque provavelmente quem gostará daquilo que faço serão maioritariamente guitarristas. Neste momento partilho o tempo da minha carreira a solo com o facto de ser também guitarrista dos Classic Rage e estes terem lançado agora o terceiro registo discográfico denominado “Unplugged”. Quanto a continuar na região acho que isto o tempo dirá, consoante aquilo que for acontecendo na minha vida musical, tudo está em aberto, até porque dentro em breve surgirão umas coisas novas, mas que toda a gente ouvirá falar de certeza. Neste momento o meu objectivo é levar a música açoriana um pouco mais à frente de diferentes modos, desde a minha música propriamente dita, ao ensino dela etc.

Após um CD maqueta de 4 temas e um CD single intitulado “Forgive Me”, para quando planeias a edição do teu CD de apresentação?
Isto já esteve em cima da mesa várias vezes, mas por um aspecto ou outro foi sempre passado para o lado. Neste momento a edição de um CD tomou um pouco a prioridade em relação a outros possíveis projectos. Os trabalhos já começaram e estamos cada vez mais empenhados nisto. 2004 vai ser sem dúvida um ano de surpresas em vários aspectos. Agradeço desde já todo o apoio dado pelos meios de comunicação social e pelas minhas verdadeiras musas inspiradoras: a minha família, amigos e todos aqueles que têm paciência para me sofrer! “down that long winding road I’ll go, running fast ain’t looking back”...

Nuno Costa
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