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Entrevista La Fin Du Monde

O FIM NÃO É AQUI
"Boa música é boa música, independentemente do género".

Fazer parte de uma cena em franca expansão e inevitavelmente a roçar já alguma diluição criativa pode tornar-se problemático tanto para as bandas mais jovens como para as mais emblemáticas. Todavia, a existência dos La Fin Du Monde justifica-se. Dois baixos, duas guitarras e uma bateria criam um emaranhado de ambientes ora mais harmonioso ora mais psicadélico, e enfatizam uma costela progressiva mais tradicional que ajuda grandemente a fortalecer a sua identidade. Oriundos de Chico, na Califórnia, área demarcada pela referência Isis, assinaram recentemente o seu segundo longa-duração, intitulado “Monolith”. Foi este o pretexto para a conversa com o baixista Mike Crew.

Quando decidiram reactivar a banda houve como que um sentimento de traição para com o vosso amigo Jeremy Roots?
[risos] Não propriamente. Ele ficou feliz de saber que íamos continuar com a banda e mantivemos a nossa forte amizade. Ele até tem um projecto novo muito interessante, chamado Fear Of Ghosts. Nós todos desejamos estar aptos para contribuir com este projecto.

Em que aspectos se consideram peculiares no espectro imenso e emergente do post-rock/metal? Para dizer a verdade, não pensamos muito nisso. Quando enveredámos por essa “cena” esta não dava qualquer sinal de expansão e era muito raro surgir bandas instrumentais. Pelo menos no que diz respeito às bandas com que tocámos… Hoje em dia parece haver muito mais bandas a praticar esse tipo de som. Não te podes desviar dos teus princípios para atingir algo ou as coisas acabam por soar artificiais. Nós apenas tentamos compor segundo ideias que nos surgem naturalmente e somos honestos para com elas. Eu acho que as pessoas se preocupam demasiado com géneros. Boa música é boa música, independentemente do género.

Que estado de espírito é necessário para se compor para os La Fin Du Monde? Trata-se apenas de deixar fluir ideias?
Sim, em alguns aspectos. Nunca aconteceu um de nós escrever um tema inteiro. Normalmente alguém aparece com uma ideia e juntos pegamos nela para ver até onde nos leva. Este processo pode ser muito moroso, mas dessa forma todos damos um contributo aos temas. Nós deixamos mesmo as ideias fluir, mas ao mesmo tempo somos muito meticulosos com os detalhes.

Vocês têm a grande particularidade de terem dois baixistas. Como se proporcionou essa situação e quais as preocupações ao compor sob esta configuração?
Antes de formarmos os La Fin Du Monde todos fizemos parte de duas bandas que passaram a vida a tocar juntas. Quando estas bandas acabaram decidimos fazer umas jams. A ideia dos dois baixistas veio daí. Todavia, nós nem pensamos muito nessa situação. O Josh [baixista] e eu temos estilos muito diferentes mas complementares. Portanto, a coisa acaba por funcionar. Para além disso, ter dois baixistas ajuda a libertar os guitarristas para fazer o que quer que seja sem a preocupação de terem que segurar a parte grave de certa passagem. Isso também solta o baterista no sentido de explorar ideias diferentes sem ter que se "trancar" com um instrumento em particular.

Sendo os La Fin Du Monde uma banda instrumental, mas que não envereda pelo virtuosismo técnico, porque acham que as pessoas se interessam por vós?
Nós tentamos superar-nos sem perder a emocionalidade da nossa música. Gostamos de experimentar diferentes compassos, entre outras coisas, mas não queremos levar essa atitude demasiado longe e comprometer o feeling da música. Contudo, as pessoas podem dar mais ou menos atenção aos detalhes que quiserem. Está tudo aberto a diferentes interpretações.

Como reage, normalmente, o público ao vivo?
Obtemos diferentes reacções, desde pessoal que entra na onda connosco e está lá para rockar aos que estão de olhar pálido e braços cruzados. Nunca sabemos o que nos espera. Temos apenas de cumprir o nosso papel.

É de alguma forma expectável que possam adicionar um vocalista no futuro?
Não nos vejo a integrar um vocalista a tempo inteiro. No entanto, seria fixe colaborarmos com alguns amigos e ter alguns vocalistas convidados numa ou noutra faixa…

Tanto quanto me inteirei, os La Fin Du Monde mantêm um estatuto muito underground e independente, tocando em espaços muito pequenos maioritariamente na sua zona. Imaginam-se a crescer e a alcançar o grande público ou isso é incompatível com a essência da vossa música?
Ficaríamos felizes por sermos conhecidos pelas grandes massas, mas, realmente, não é algo que se coadune harmoniosamente com este género musical. Nós não nos desviamos do nosso trajecto para atingir um estatuto de “super banda indie”. Se pudéssemos chegar ao grande público e não tivéssemos que comprometer a nossa identidade musical seria excelente! Apenas fazemos o melhor que podemos com o melhor que temos.

Pode-se aceitar uma “cena” post/progressiva na Califórnia?
Parece haver um grande número de bandas deste tipo por aqui ou na costa oeste no geral. Os Isis serão o nome mais sonante dessa lista e estou certo de que servem de influência para muitas dessas bandas.

E para vós, quais são as maiores influências?
As nossas influências estendem-se a todo o mapa. Vou mencionar apenas algumas: King Crimson, The Cure, Yes, Pink Floyd antigo, Tortoise, Failure, Smashing Pumpkins, Nirvana, Radiohead, Sunny Day Real Estate, Portishead, Deftones, The Melvins, Neurosis, Chavez… E podia continuar aqui vários dias.

Como funcionam em termos de gravações e edições? É tudo feito por conta e meios próprios?
Para os últimos dois álbuns fizemos a captação num estúdio muito bom, em Cotati, chamado Prairie Sun. Depois fizemos overdubbs e adicionámos texturas, tanto na nossa sala de ensaios como na casa do nosso engenheiro. Portanto, as gravações foram todas auto-financiadas mas também feitas num bom estúdio.

Quando gravam fazem os possíveis para fazê-lo da forma mais natural e live possível?
Nós gravámos as pistas base ao vivo todos juntos na sala. Depois adicionamos alguns layers. Nós gostamos de um disco a soar orgânico. As coisas ficaram um pouco fora de controlo a partir do momento em que toda a gente passou a ter acesso ao Pro Tools e pôde adicionar milhões de coisas diferentes às suas faixas. Isso até pode ser bom, mas pode-se muito bem perder o feeling e a energia se se começar a tentar aperfeiçoar demasiado as coisas. Porém, parte da razão porque gravamos assim tem que ver com questões de orçamento. Quando não tens muito dinheiro ou tempo para gravar tens que fazer as coisas o mais eficiente possível. É muito bom gravar dessa forma, mas gostaria de diversificar um pouco mais na próxima gravação.

Segundo consta, vocês têm mais três discos. Fale-nos um pouco mais deles uma vez que não é fácil encontrar informação na internet.
Bom, o nosso primeiro registo é um EP ainda da altura em que o Jeremy Root estava na banda. Gravámo-lo na casa do nosso baterista e fizemo-lo super rápido. Está esgotado e, para dizer a verdade, nunca soou muito bem. Nós queríamos apenas ter algo editado. O nosso segundo álbum foi um EP de três temas que gravámos no colégio local. Também está esgotado mas podem ouvir um dos seus temas, “The Farce”, no nosso Myspace. O nosso terceiro lançamento trata-se de um disco intitulado “Life As It Should Be”, o qual ainda vendemos nos concertos e está disponível online através do CD Baby e do iTunes.

Têm algum plano para reeditar este material esgotado?
Não.

E quanto tempo podemos esperar para ouvir um novo álbum vosso?
Nós temos dois temas novos até agora. Eu gostava de escrever vários temas esse Verão e, provavelmente, um novo disco deve sair pouco tempo depois. Nós estamos sempre a tentar escrever e manter as coisas a progredir.

Nuno Costa

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