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Entrevista In Solitude

O NOSSO PRÓPRIO DEUS!

Já data de 2004, mas representa uma das maiores "investidas" nacionais dentro dos meandros do heavy metal no ano transacto. Intitulado "Nethergod", este é o álbum que marca o regresso dos portuenses In Solitude, após um longo período de ausência. Sem um conceito propriamente demarcado, ao contrário do anterior "Opus: Universe","Nethergod" reza vários temas, há imagem dos que já vimos o vocalista e letrista Sérgio Martins abordar noutras alturas [e que tanto sabemos que gosta de explorar], como a astronomia, a religião e o sobrenatural, onde a roupagem musical aqui incutida é um excelente power metal de inspiração teutónica. Certamente o disco mais coeso do grupo até à data! Sérgio Martins esteve em contacto com a SounD(/)ZonE para explicar, entre muitas outras coisas, quem é esse "Deus Menor"...

Bem, para quem não sabe, os In Solitude são das bandas de metal mais antigas de Portugal. Atravessaram uma fase em que muitos ficaram pelo caminho e só alguns [poucos] restaram para contar a “história”. Fala-nos do vosso percurso até hoje. Qual tem sido o segredo da vossa perseverança?...
É curioso que faças essa pergunta porque ainda há poucas semanas atrás tive um acesso de revivalismo e fui dar uma olhada em revistas e jornais antigos que ainda guardo entre os quais inúmeras edições do Blitz -daquela altura em que eles ainda se lembravam que o Heavy Metal existe -e fiquei surpreendido com a quantidade de bandas portuguesas que fervilhavam no panorama metálico português há dez anos atrás, e que entretanto desapareceram. Acho que os In Solitude tiveram sempre objectivos traçados, provavelmente estávamos demasiado ocupados com isso para pensarmos em desistir. Nós surgimos no final de 95 e passados seis meses já tinha-mos gravado a promo-track "Children Of The Dark" e dado vários concertos; em 97 editamos a demo "Reflections"; em 98 veio o 1º álbum "Eternal" e consequente promoção; em 99 trocamos de guitarrista e iniciamos a composição do "Opus: Universe" que foi editado em 2000. Na 1ª metade de 2001 o baterista e o baixista saíram o que nos proporcionou uma reformulação criteriosa da secção rítmica de modo a redimensionar todo o som da banda. Retornamos aos concertos ainda em 2001 até meio de 2002. A partir daí concentramo-nos na composição do "Nethergod" que foi gravado em 2003 e editado em 2004. No fundo, acho que o segredo é estarmos ocupados, se assim acontecer é mais fácil resistir à desmotivação provocada pelas adversidades do nosso mercado.

Passando rapidamente ao pretexto desta entrevista, o vosso novo álbum, como é que te sentes, antes de mais, em relação a ele? Deu muito trabalho a lançar, o álbum esteve ali como que “encalhado” durante um ano antes de ser lançado, mas parece que tudo acabou em bem...
Posso dizer que tenho muito orgulho neste trabalho, porque depois de dois discos gravados no Rec’n’Roll este terceiro álbum foi um autêntico desafio à nossa capacidade como músicos. Antes de irmos para estúdio tudo foi analisado ao pormenor de maneira que tudo aquilo que se ouve no disco ficou definido antes da gravação, no estúdio acabamos por adicionar alguns arranjos que nos pareceram necessários. Já depois de tudo gravado surgiram alguns problemas com a mistura final o que atrasou todo o processo, pelo que a editora decidiu adiar o lançamento do disco por alguns meses.

O que te satisfaz mais neste álbum em relação ao anterior “Opus: Universe”? Sentes que alcançaram os objectivos a que se propuseram para este novo trabalho?
O “Opus: Universe” foi um disco que me deu imenso prazer gravar. Na altura em que foi gravado aquelas músicas pareciam-me pura e simplesmente as melhores músicas que eu alguma vez tinha ouvido, a aliar a isso tinha desenvolvido uma intrincada narrativa que me deu imenso gozo; só que nem tudo correu bem, por um lado, o som não ficou tão pesado como nós queríamos, fomos aliás rotulados como hard rock progressivo por quase toda a gente, e ainda por cima menos de seis meses após o lançamento do disco ficamos sem baterista e sem baixista o que nos impediu de fazer uma melhor promoção ao álbum. Com este novo “Nethergod” foi bem diferente, a responsabilidade e o stress em estúdio foram bem maiores, durante a gravação nunca estive 100% satisfeito com os temas mas a verdade é que o desenlace foi completamente diferente: o som acabou por ficar como nós queríamos, a reacção tanto da crítica (cá e na Europa) como do público está a ser óptima e a promoção do disco está a correr muito bem; neste momento o objectivo é tocar o mais possível, levar o “Nethergod” ao máximo nº de gente possível.

Os In Solitude atravessaram já várias mudanças de line-up ao longo dos anos. Sentes que isso tem prejudicado ou pelo menos dificultado, de alguma forma, os planos que a banda tem traçados para si em determinados momentos? Por exemplo, ainda para este álbum vocês tiveram que se ver com a saída de mais um baixista e recorrer a um convidado de estúdio. Tem sido difícil lidar com essas situações?
Quando alguém sai de uma banda perde-se sempre qualquer coisa, quanto mais não seja perde-se a personalidade e a capacidade técnica do elemento que sai, só que isto pode ser benéfico, certo? Se jogar-mos com estas duas componentes acho que as mudanças foram sempre benéficas, é claro que se perde tempo à procura de substituto mas já que existe um lugar vago, então a atitude tem que ser sempre procurar alguém que traga mais valias e seja mais adaptado às necessidades da banda do que a pessoa que saiu.

Por falar em baixista de estúdio, o Rui Santos dos Oratory, é também ele quem produz o som de “Nethergod”. Novo produtor, nova “casa”. Estão satisfeitos com essa nova experiência? Foi bom gravar com o Rui?
Foi sem dúvida uma experiência diferente, não posso dizer que foi fácil, atravessamos um processo extremamente cansativo, foram muitas directas, eu e o Paulo Camisas chegamos a entrar no estúdio às 17h de um dia e sair às 13h do dia seguinte. No final tudo valeu a pena, estamos gratos ao Rui pelo esforço que fez no sentido do disco ficar o melhor possível e desejamos-lhe tudo de bom tanto para o estúdio como para os Oratory.

Já agora, como está a correr a integração do Eduardo Neves?
A integração do Eduardo não está a correr… já correu. O Eduardo está mais do que integrado nos In Solitude, já pertence à banda desde Abril de 2003. Como ele entrou a dois meses do início das gravações do “Nethergod” teve que ser tudo muito rápido. Na segunda metade de 2004 já tocamos mais de 10 concertos portanto o Eduardo está integrado a todos os níveis.

O conceito de “Nethergod”… Um título no mínimo forte!
“Nethergod”… o Deus menor… é possível compreender para quem ler a letra do tema título ou até mesmo olhando apenas para a capa que o tema tem a haver com a igreja católica; a igreja católica actualmente não passa de uma organização retrógrada que continua a ser muito rica e que tenta em vão manter o seu poder nos destinos do mundo, apoiada em conceitos que até a minha avó que tem 89 anos já questiona. A tendência é para que cada vez mais igreja seja um símbolo e não um poder, mas nem sempre assim foi... O conceito “Nethergod” tem a haver mais com a idade média, a altura em que esta organização perseguiu milhares de pessoas e atrasou o desenvolvimento do mundo.

Explica-nos onde fica a ligação entre os vários temas que abordas neste álbum. Temos religião, guerra, sobrenatural, astronomia… Há algum fio condutor que comande?
Bem... nunca pensei nisso; o fio condutor que poderá haver é o facto de todos eles serem temas fortes que mexem com as pessoas e também comigo... é claro, mas apesar de abordar esses temas os conceitos que estão por trás deles são mais abrangentes, eu nunca fui um letrista muito sentimental, prefiro as coisas mais terra-a-terra mas a verdade é que neste disco o que está por trás dos temas que referiste são sentimentos como o ódio, vingança, medo, orgulho, determinação, entre outros. Não posso referir exemplos em todas as músicas sob pena de isto parecer um testamento mas dou-te apenas um exemplo rápido: "The 11th Planet" é sobre a fuga da humanidade para um planeta distante, daqui por 5 biliões de anos quando o nosso sol se extinguir; o conceito por trás dela será seguramente o medo ou, se preferires, o instinto de sobrevivência.

Só por curiosidade: tu és estudante de astronomia ou é puro hobby? O que é que te atrai tanto nesta área? De onde vem essa paixão?
Nunca estudei astronomia de forma académica, apenas por hobby. O meu interesse pelo assunto deve-se ao facto de haverem demasiadas perguntas na minha cabeça que eu gostaria de ver respondidas durante o meu tempo de vida, o problema é que quase de certeza vou morrer sem ver essas questões esclarecidas, isso faz-me muita confusão... Eu penso assim: o Universo é vastíssimo e não tenho dúvidas de que existe muita coisa que o Homem ainda não descobriu nomeadamente no que diz respeito a estar-mos sós ou não, a verdade sobre os buracos negros, universos paralelos, até que ponto é possível deformar o espaço-tempo, etc...
Essas e outras questões levaram-me a ler autores como Carl Sagan, Hubert Reeves ou Stephen Hawking para conhecer melhor o assunto mas a verdade é que muitas coisas do passado do Universo e quase todas as que dizem respeito ao seu futuro continuarão a ser um mistério por muito, muito tempo...

Vocês já devem estar em plena promoção de “Nethergod”. Já deram concerteza alguns concertos. Como tem corrido, como é que o público tem reagido?
Depois de tanto tempo sem tocar ao vivo é evidente que não tínhamos muita noção de como as pessoas iriam reagir aos temas novos e à formação actual, por isso, estamos surpreendidos com as óptimas reacções que temos tido nos concertos. Acredito mesmo que presentemente a banda consegue maximizar quase todo o seu potencial quando toca ao vivo, chegamos ao final de cada concerto e sentimos que de uma forma ou de outra conseguimos conquistar gente, pessoas que no futuro ficarão mais atentas à carreira dos In Solitude. Até agora já tivemos 11 concertos de promoção ao "Nethergod" e agora no princípio de 2005 vamos continuar a promover o disco por mais alguns meses.

Para o estrangeiro já há alguma coisa planeada?
O disco está a ser distribuído em vários países, nós não temos representação internacional através de nenhuma editora mas existem várias distribuidoras na Europa e também na América do Sul às quais o disco está licenciado. No que diz respeito a concertos, provavelmente teremos oportunidade de dar alguns concertos em Espanha embora ainda não hajam datas marcadas

Para terminar, vejo pelos vossos agradecimentos no disco que há uma próxima relação com os Açores. Queres falar-nos dela?
Infelizmente nunca tivemos oportunidade de conhecer os Açores muito menos de ir aí tocar (andar de avião não fica nada barato!!!) mas é óbvio que gostaríamos muito de vir a conhecer. A única relação com os Açores é mesmo o facto de sermos amigos do Ruben Correia, guitarrista dos Morbid Death estávamos inclusivamente à espera que surgisse uma oportunidade de eles virem ao continente e nesse caso seria provável que tocássemos com eles… Vamos esperar para ver… Aproveito para saudar os leitores da Sound(/)Zone e desejar felicidades para a fanzine.

Nuno Costa
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