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Entrevista Headstone

RITOS OLD SCHOOL

Ao seu conhecido jeito dinâmico, Pedro Gouveia [vocalista ex-Pitch Black] e Augusto Peixoto [baterista Cycles, ex-Dove, In Solitude e Paradigma] fundaram, em 2006, os Headstone. Entretanto, o primeiro abandonou de forma algo polémica juntamente com o baixista Henrique Loureiro [ex-Cycles], mas a partir daí a coesão instalou-se com a entrada do surpreendente vocalista Vítor Franco e da já conhecida Vera Sá [Cycles]. Ainda com os guitarristas Carlos Barbosa [ex-Cycles] e Pedro Vieira [ex-Withering] nas suas fileiras, o grupo lançou-se forte e confiante num primeiro registo que deixa excelentes indicações para um longa-duração. “Within The Dark”, em formato E.P., não poderia também ser mais figurativo do que a experiência e o talento são capazes de gerar. É então em grande estilo que os Headstone se lançam com um cativante exercício de thrash metal com laivos de power metal sobre o qual Augusto Peixoto nos deu o prazer da sua análise.

Como vão as coisas no Porto? O Metal impera? Os Headstone são já uma coqueluche nortenha?
O Porto vive de transições e, sinceramente, o Metal que se vai fazendo por cá é muito ligado às modas. Talvez sempre tenha sido assim, não sei, mas antigamente havia uma maior diversidade do que a que existe hoje em dia. De resto, claro que os Headstone não são uma coqueluche nortenha até pelo tempo de actividade que têm e por praticarem um som fora dos parâmetros normais e actuais.

Diz-se que no norte vive-se o Metal de forma mais intensa. É verdade?
Já o foi, de facto! Hoje acredito que haja intensidade pela razão das bandas que por cá andam serem constituídas por putos cheios de energia, mas sinto que há equilíbrio em relação a este aspecto em outros pontos do país. O que é excelente.

E para si, este é um projecto mais intenso ou que lhe absorve mais sentimento de entre os que já teve até ou hoje ou ainda mantém?
Não! Sempre tive a noção de que para fazer algo teria que dar sempre o máximo que posso e sei. Não posso fazer distinções entre bandas, porque senão não estaria a ser sincero comigo mesmo. Independentemente da projecção que uma ou outra banda possa ter, dou sempre tudo o que tenho para lutar pelas minhas bandas.

Tem sido fácil pôr em prática o projecto Headstone? Entretanto, já não escaparam às habituais trocas de elementos…
Nada é fácil na vida quando se tem que lutar pelo que acreditamos. As trocas de elementos foram pontuais e completamente absorvidas pelos músicos actuais.

Li que as saídas do Pedro e do Henrique não foram as mais serenas. O que se passou?
Não foram pela maneira como abandonaram a banda, sem se dignarem a falar pessoalmente com os restantes elementos mas sim terem enviado um e-mail a dizer que tinham saído, quando tudo estava encaminhado para uma projecção mais evidente da banda. Já tínhamos dado o primeiro concerto e as críticas tinham sido praticamente unânimes. Referenciavam-nos com uma nova banda de qualidade e eles simplesmente desistiram.

Sem tirar o mérito ao Pedro Gouveia, ter um vocalista como o Vítor Franco é uma grande mais-valia. Com ele ficam com um som até algo difícil de catalogar…
Claro que é. É um tipo excelente, cheio de ideias, sabe cantar em vez de berrar e foi, sem dúvida, uma mais-valia. Deu também uma outra dimensão ao som da banda, tornando-nos ainda mais diferentes daquilo que se vai fazendo em termos de Metal. Quanto ao Pedro era um tipo talhado para actuações ao vivo, do melhor que há, mas o Vítor é muito mais completo como vocalista e isso transpira nas músicas.

Ele também venera o thrash como vocês ou tem outras influências?
Nós não veneramos somente o thrash, apesar de ser, talvez, a maior referência sonora da banda, da minha e do Carlos, particularmente. A banda utiliza os seus conhecimentos e concilia os gostos que tem e que são bastantes para criar aquilo que é o som Headstone. Tocamos Metal e vivemos do Metal, independentemente do estilo a que a banda seja conectada.

O formato EP teve alguma razão de o ser para vossa estreia?
Tem, por ser o de estreia, por falta de verbas e porque seria preferível editar um formato menos convencional do que o do álbum. Há bandas que editam álbuns sem que sejam conhecidos; nós preferimos dar a conhecer primeiro o nosso som com este E.P. e depois, sim, pensar no álbum.

As reacções que têm colhido por parte da imprensa e público já vos abrem perspectivas para a eventual aposta de uma editora? Já pensam nisso?
É prematuro falar nisso, se bem que contactámos somente duas editoras, uma nacional e outra estrangeira. A estrangeira fez-nos uma proposta que não nos interessou; a nacional negou um contrato, mas deixou as portas abertas e pela forma como fomos tratados fiquei feliz com o contacto deles, mesmo não tendo assinado, para já, com a banda. O futuro dirá mais qualquer coisa. Caso contrário faremos o que sempre fizemos e continuaremos a acreditar no nosso potencial.

Quando o mais fácil é seguir tendências, vocês continuam a insistir num som tradicional, contudo, sem ser intragável para as novas gerações, não acha?
Não insistimos, sai naturalmente! Não vamos renegar a nossa natureza nem fazer nada contra as nossas pretensões musicais. Nesta banda e em todas as que participei, sempre defendi a integridade musical e pessoal de cada elemento e nos Headstone não é excepção.

Neste momento, não têm nenhum concerto agendado. O que se passa?
Por acaso temos dois, um para Agosto em Mangualde, Viseu, e outro para Outubro no já conhecido Festival Gaia em Peso. Mas são duas excepções, pois a banda tem que se fechar na sala de ensaio e preparar o que será o seu álbum de estreia.

Sente pessoalmente o respeito das pessoas por ser um músico já muito antigo do nosso underground?
Em alguns casos sim, noutros nem sabem quem eu sou e ainda bem! Não gosto de me destacar e detesto quando uma banda é individualizada. As bandas são um todo, devem ser respeitadas como um todo. É indiferente andar aqui há 21 anos, pois conheço pessoas com menos anos de carreira e idade com a mesma paixão que eu sempre tive.

Você que atravessou várias fases do nosso underground, como olha para ele hoje em dia?
Em diferentes fases também! Umas excelentes outras menos boas. Acho que os anos 90 foram e serão os melhores de sempre, mas como não vivo de saudosismos, sou daqueles que acredita que o Metal melhorou em qualidade musical. Há músicos bem mais evoluídos, mas acho que antigamente o “feeling” era uma virtude que se sobrepunha às carências técnicas.

Alguma vez sentiu indiferença pelo seu trabalho? Uma indiferença propositada fruto de algum tipo de inveja ou outro tipo de sinal de mau-carácter?
Claro que já senti indiferença, mas não acredito que seja motivada por invejas ou mau-carácter, pelo menos não quero pensar assim. Mas neste país as coisas, por vezes, funcionam ao contrário e já vi muitas bandas de qualidade perderem-se por não lhes terem sido dados os créditos merecidos. Eu como me considero um lutador recuso-me a dar vida a essas invejas.

A par da música desenvolve um trabalho reconhecido na área das artes gráficas. Fale-nos dessa paixão.
Não sei muito sinceramente qual das duas prefiro, mas sem dúvida que na Arte Digital sinto mais liberdade, porque é minha, é um trabalho pessoal, isolado e nas bandas não; é um complemento de diferentes ideias e diferentes indivíduos. O meu trabalho gráfico tem tido um feedback muito bom, mais além-fronteiras em que estou bem referenciado em sites famosos de Arte mundial. Em Portugal aos poucos vou tendo algumas bandas como clientes, mas aqui as coisas funcionam mal nesse departamento! As bandas pensam que ao gravar um álbum têm que ter dinheiro para pagar a um produtor e esquecem-se constantemente que a imagem da banda é também tão importante quanto a música. Há produtores a ganhar rios de dinheiro e eu, sendo designer, mesmo tendo plena consciência da qualidade do meu trabalho, tenho que espremer ao máximo os orçamentos para poder conseguir trabalhar com alguém. A maior parte das vezes nem um simples “obrigado pelo orçamente mas não temos margem financeira para o fazer”. Ignoram completamente o meu contacto que me foi requisitado. Isso é frustrante! Por isso as bandas estrangeiras estão muito à frente, pela educação e pela procura do melhor e saberem que o melhor tem que ser pago.

A imagem é algo que vive lado-a-lado com o Heavy Metal. Até que ponto acha isso positivo? Isso faz-nos pensar em campanhas de marketing muito incisivas que podem valer o sucesso de uma banda, não é?
Com toda a certeza, por isso disse que a imagem é tão importante como a música e há casos em que se sobrepõe até! Adoro ver aquelas edições todas personalizadas, cheias de conteúdo, do que a banalidade normal de um CD. Tenho saudade do Vinil! As capas eram uma grandiosidade. Agora nem se notam certos pormenores devido à apresentação reduzida. Sendo designer tenho que saber encontrar a diferença e evoluir nesse aspecto, e isso é Marketing. Uma das razões do E.P. ter tido sucesso, foi precisamente pela amostra gráfica que apresentámos. Foi uma luta financeira, mas valeu a pena, pois quem o comprou guardá-lo-á num lugar diferente e lembrar-se-á de que havia uma banda que tinha uma edição toda impecável. Sendo uma edição normal perder-se-ia no meio dos outros CD’s.

Em relação a Headstone, vê uma forma de estar, compor, trabalhar diferente da das outras bandas por onde passou?
Não, acontece mais nos Cycles até pela forma como os temas são compostos, por uma só pessoa. Os Headstone compõe na sala, todos juntos, há ideias gerais da banda e, no fundo, os Dove e os In Solitude funcionavam dessa forma. O restante, como sou eu que trato, a forma é sempre igual. Está solidificada.

Tendo outros projectos, o que o motivou a criar mais um?
O Pedro quando saiu dos Pitch Black queria formar uma nova banda. Como éramos amigos e já tínhamos trabalhado juntos nos Dove e a sonoridade que ele pretendia era a de sempre, o thrash metal, falou comigo e convenceu-me a avançar com a banda. Estive renitente no início, mas ele consegui dar-me a volta… E o resto já se sabe.

Num compromisso amador com a música como deduzo que seja o vosso, é sempre muito difícil tratar todos os aspectos da vossa vida e ainda mais os das bandas. Apesar disso, o bichinho já está cá dentro e, por isso, nunca pensaram em desistir, não é assim?
Com certeza, ainda para mais com pessoal da banda casado e alguns com filhos até. Mas é como dizes: o “bichinho” está lá e enquanto não morrer vamos andando.

Um dos principais futuros projectos dos Headstone é gravar um disco. Quando é que se prevê que esteja concluído?
Queremos gravar no próximo ano e esperar pelo feedback que o mesmo possa gerar. Se for tão bom como o de “Within The Dark” já ficaremos bastante felizes.

www.headstone.com.sapo.pt

Nuno Costa

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