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EVIDENCE: entrevista com Sérgio Sabino

ESPIRAL SONORA

Após um disco de estreia muito prometedor, o quarteto lisboeta consegue agora com o seu segundo trabalho confirmar todas as qualidades que os vinham apontando como uma das propostas mais valiosas do hard n’ heavy português. «Spiral» mostra-se assim, uma digna sequela de «Truth From A Lie» onde se eleva a uma escala superior o dinamismo e o sentido melódico da banda. De entre a análise ao novo disco, houve também espaço para Sérgio Sabino, vocalista dos EVIDENCE, mostrar-nos a sua indignação perante os problemas que afectam a música nacional.

Faz-nos uma breve apresentação da história dos Evidence.
Os EVIDENCE nasceram em 1995. Gravámos uma demo de quatro temas em 1997. Dois anos mais tarde gravámos uma outra de treze temas intitulada «Truth From A Lie» que, devido a um acordo com uma editora americana, se viria tornar no primeiro álbum oficial da banda. O ano passado [2002] foi lançado o álbum «Spiral».

Passados já cerca de nove meses após a edição do vosso último trabalho, como tem sido a sua aceitação no nosso país e nos países estrangeiros onde tiveram pela primeira vez promoção, como os Estados Unidos, a Rússia, Alemanha, Inglaterra, por exemplo?
Todas as críticas que recebemos até ao momento de várias revistas e webzines internacionais elogiam bastante o nosso último trabalho. Recebemos também regularmente e-mails de pessoas que só agora nos conheceram e que procuram descobrir mais sobre nós. Tudo isso dá-nos força para continuarmos.

Como está a correr agora a promoção do disco a nível de concertos? Sei que no período inicial após a saída do «Spiral» estava a ser muito complicado arranjarem datas para tocar...
Sempre foi e continua a ser difícil actuar ao vivo. Infelizmente, tem-se assistido nos últimos tempos ao encerramento de muitos recintos de espectáculos. Este factor negativo é acrescentado à dificuldade, já existente há muito tempo, que têm as bandas do nosso género musical para divulgar o seu trabalho, quer ao vivo, quer através das rádios e TV.

O que leva uma banda a ser tão persistente quando tem que enfrentar o problema de viver num país onde há poucos sítios para tocar e onde as pessoas não têm cultura enraizada?
O amor à música, o apoio demonstrado pelos fãs e de algumas pessoas da comunicação social que se interessam por nós, para além do feedback que recebemos além-fronteiras. Fora esses incentivos não existe muito mais que nos mantenha motivados neste país.

Ambos os vossos álbuns foram gravados nos estúdios Rec’n’Roll pelo Luís Barros, mas este último disco mostra-nos um som muito mais coeso e pesado, que, segundo vocês, é o som que querem para os EVIDENCE. Embora o primeiro álbum apresente uma produção muito boa, o que falhou para que não tenha ficado com um "som à EVIDENCE"?
No «Spiral» recorremos ao velho mas eficaz sistema de gravação: o analógico. Esse sistema permitiu, de facto, uma maior aproximação ao tipo de som que desejávamos para este álbum. Não é por acaso que muitas bandas que abandonaram em tempos o analógico estão de novo a recorrer a ele, isto pelo facto do sistema inteiramente digital não satisfazer completamente as exigências. A grande diferença entre ambos os álbuns deve-se também à evolução e maturidade da banda adquirida pelas várias experiências positivas e negativas durante os anos que separam as duas gravações.

Como reagem quando as pessoas vos dizem que têm um som parecido com esta ou aquela banda? Não acha que o público devia fazer um maior esforço para ouvir as músicas em si e tentar abstrair-se das comparações?
Essas comparações não me afectam, pois estamos conscientes do tipo de som que tocamos. Eu próprio, quando oiço outras bandas faço comparação entre elas. Isso é perfeitamente normal, pois todos os músicos são influenciados por outros músicos, que por sua vez foram também influenciados por outros, o que acaba inconscientemente, ou não, por reflectir-se nas suas composições. Acho isso muito saudável desde que não se caia no ridículo do plágio, é claro.

Na sua perspectiva, em que situação se encontra o hard’n’heavy lusitano?
Gostaria de dizer que se encontra bem, mas não posso. A verdade é que todas as dificuldades que mencionei há pouco afectam todas as bandas do género. Costumo falar com músicos de algumas delas que se queixam do mesmo, por isso estou à vontade para o dizer. Nos últimos tempos temos assistido à criação de movimentos de apoio à música portuguesa por parte de "criaturas" bem conhecidas (não forçosamente, respeitáveis). Desenganem-se aqueles que pensam que esses movimentos pretendem defender o direito à divulgação de todos os músicos portugueses e a contribuir para a evolução da música em Portugal, pois esse movimento foi criado apenas para defender a pequena "elite do caldeirão" (elite, palavra demasiado elegante para o descrever) que recusa aceitar que muito pouco, ou nada, tem de melhor em relação ao que vem de fora, e que não suporta o desprezo (compreensível) dos media e público. Desprezo esse que pensavam eles só acontecer aos outros (outros: bandas do nosso género, já habituadas...).

Quais são os objectivos dos EVIDENCE para os próximos tempos?
Este mês assinámos contrato com uma promotora americana e estamos neste momento a compor novos temas para o terceiro álbum, que promete trazer muitas novidades.

Gostaria de deixar aqui um apelo especial aos açorianos que ainda não conhecem os EVIDENCE?Gostaria de apelar ao público açoriano, bem como a outros que não nos conhecem, a que procurem conhecer e divulgar novas bandas através de todos os meios que tenham ao dispor, mas que fundamentalmente isso não passe pela pirataria de CDs ou por divulgação sem regras na internet, que apenas contribui para a ruína das pequenas bandas, deixando a perder os músicos, a sua música, e consequentemente o próprio público, como facilmente se pode perceber.

Nuno Costa
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