photo logopost_zps4920d857.png photo headerteste_zps0e0d15f7.png

Entrevista Aspera

[PRECOCE]MENTE PROGRESSIVA
"Temos a preocupação de não nos “afundarmos” no meio de tanta banda de qualidade"

Chamar-lhes os Hanson do metal progressivo seria cair no ridículo e insultuoso perante as capacidades interpretativas e técnicas destes músicos e os próprios pergaminhos de um estilo minoritário e de exigente morfologia, mas verdade é que pelo potencial precoce que demonstram antevê-se-lhes um futuro imediato e auspicioso. “Ripples” é o disco de estreia destes cinco músicos noruegueses de 20 anos que já se podem orgulhar de ter sido banda suporte de Tarja Turunen e ter assinado pelo maior selo discográfico da especialidade, a Inside Out. Com os pés bem assentes na terra e uma ambição legítima, o guitarrista Robin Ognedal explica-nos como em plena adolescência “borbulha” um trabalho tão consistente.

Deixe-me adivinhar: os Illusion foram criados durante uma aborrecida aula de matemática?
[risos] Na verdade, tudo começou quando eu e o Joachim tocávamos numa banda de death metal. Num certo dia fomos a um concerto dos Pagan’s Mind na nossa cidade e foi aí que sentimos que tínhamos que criar uma banda progressiva. Pouco depois o Nicko entrou e conhecemos o Atle e o Rein na escola onde estudámos música. Por isso, “infelizmente”, não há nenhuma história na origem dos Illusion relacionada com aulas de matemática!

Essa banda de death metal de que falou ainda existe?
Não, acabou assim que criámos os Illusion. O Joachim e eu éramos os únicos elementos que levavam a sério essa banda, por isso chegámos à conclusão de que seria melhor encontrar novos companheiros com a mesma ambição que nós.

Mais recentemente assumiram a designação Aspera. Uma mera questão “estética”?
A razão porque mudámos de nome prendeu-se com o lançamento do nosso álbum de estreia. Já existem muitas bandas com o nome Illusion…

Atrás disse que frequentaram uma escola de música. Como definiria a importância que teve no vosso processo de crescimento enquanto executantes?
Diria, sem dúvidas, que essa escola teve uma enorme influência em todos na banda. Ela ajudou-nos a abrir horizontes. Aprendemos muita teoria musical que, no fundo, é imprescindível para quem quer criar música progressiva. Essa experiência que tivemos abriu-nos também os olhos em relação a muitos outros estilos musicais, os quais, estou certo, nos tornaram mais versáteis.

São daquele tipo de músicos que passa o dia todo a tocar?
Sim, passamos muito tempo a praticar, o que acho muito positivo uma vez que já não vivemos na mesma cidade e normalmente só ensaiamos aos fins-de-semana.

É um sinal de responsabilidade também. De facto, apesar da vossa tenra idade, já têm que pensar como adultos e profissionais para alcançarem bons resultados…
Sim, os Aspera implicam grande responsabilidade bem como, supostamente, qualquer banda que queira passar da garagem para os palcos e lançar um disco internacionalmente. Vejo muitas bandas locais com enorme potencial mas que, provavelmente, nunca vão sair da garagem, pois pensam que tudo lhes vai “bater à porta”. Existem muitos aspectos administrativos inerentes a uma banda, para além de ter-se que praticar, o que pode ser aborrecido, mas necessário. Nós temos bem presente que é preciso dar o máximo para as coisas realmente resultarem.

Esta é, sem dúvida, uma maneira sensata e consciente de encarar a gestão de uma banda. Tiveram, por exemplo, que insistir no factor “burocrático” para chegar a um contrato com a Inside Out?
Obrigado pelas palavras. Na verdade, devemos o facto de estarmos no catálogo da Inside Out à nossa manager, Manuela Froelich. Foi ela quem lhes mandou a promo e eles gostaram imenso. Contudo, numa primeira abordagem não nos assinaram, pois não lhes era suportável na altura, mas assim que surgiu a oportunidade eles entraram em contacto e propuseram-nos um lançamento para Janeiro deste ano. Penso e espero que eles nos tenham assinado por acreditarem na nossa música! Contudo, mesmo tendo um manager e uma editora, há muito trabalho que temos que fazer para além de tocar e ensaiar. Aliás, muito mais do que podíamos imaginar! Mas o esforço compensa completamente.

E que tipo de trabalho é este, concretamente?
Agendar concertos, desenhar e encomendar merchandise, flyers, posters, responder a entrevistas, contactar a imprensa, sobretudo a norueguesa, para fazer a cobertura das nossas actividades, etc. Mas agora que temos uma editora muitas coisas deixaram de estar nas nossas mãos e assim ficamos com mais tempo para dedicar à nossa música, o que é muito agradável.

Pelo nome, terá a vossa manager alguma ligação com Portugal?
[risos] Não, que eu saiba. Ela é alemã, mas vive em Londres. Manuela é também um nome alemão…

Mesmo assim têm outras “ligações” com Portugal. No seu caso, aponta o Nuno Bettencourt como uma grande influência…
Sim, ele é simplesmente fantástico! Gosto imenso da maneira como funde funk com rock’n’roll.

Recentemente ele regressou com os Extreme. Teve oportunidade de os ver ao vivo? Não, infelizmente. Na verdade não sou grande admirador do novo material dos Extreme, mas teria sido fantástico ouvir ao vivo alguns dos seus clássicos.

Como já disse algures, é algo bizarro todos os elementos dos Aspera terem nascido no último quarto de 1989. Isto torna a tarefa de trabalharem em conjunto mais fácil uma vez que poderão ter uma forma comum de pensar?
Sim… É estranho, três de nós nasceram até com diferença de duas semanas. A grande vantagem de sermos todos da mesma idade é que estamos todos no mesmo estágio de vida. Ninguém ainda constituiu família, logo todos ainda têm a oportunidade de investir muito tempo e esforço na banda.

E quando se der a situação de terem que abandonar a escola, por exemplo, para partir numa extensa digressão?
No meu caso, não estou na escola. Passo os dias a tocar e a dar concertos em pubs aos fins-de-semana. Mas os que ainda frequentam a escola têm a oportunidade de se afastar dela durante largos períodos, estudando por si próprios. Isso não será um problema.

Costumam trabalhar mais em conjunto ou existe um compositor principal na banda?
Na maior parte das vezes trabalhamos como um colectivo. O procedimento mais frequente é alguém sair-se com uma ideia para um riff ou uma sequência de acordes e em conjunto trabalhamo-la. Dessa forma conseguimos extrair o melhor de cada um e aplicá-lo nos nossos temas. Cinco mentes são, obviamente, mais criativas do que uma!

Escrever um álbum como o “Ripples” foi muito demorado? Qual terá sido o maior desafio que se vos interpôs?
Sim, demorou muito tempo até estar concluído, mas, surpreendentemente, o nosso maior desafio foi o processo de gravação. Foi a partir daí que começámos a pensar: “Devemos fazer desta ou daquela forma”? Existem milhares de maneiras de fazer as coisas e na altura de decidir ficámos sem saber qual a melhor. Para além de que estar horas a fio sentado num estúdio é muito cansativo.

Realmente parece-me impressionante o facto de terem até gravado o vosso álbum de estreia. Não nos estamos a referir a uma mera pré-produção, o que exige que percebam realmente do assunto…
Não, não fizemos apenas pré-produção, embora a tenhamos feito também por nossa conta. Foi preciso bastante tempo e trabalho árduo para captarmos o “Ripples” mas o facto de estarmos a gravar nos nossos estúdios deu-nos a oportunidade de trabalhar sem pressões de calendário. Assim foi possível experimentar muitas coisas com o que há disponível num estúdio hoje em dia. Claro que isso também nos deu muita experiência acerca de como operar num estúdio e estou certo que da próxima vez o processo vai ser muito mais rápido.

São totalmente autodidactas na questão de trabalhar em estúdio?
Sim, eu adquiri material de estúdio muito antes da gravação do “Ripples”. Portanto, há já algum tempo que andamos a experimentar coisas e a ler sobre o assunto em vários sites. Contudo, tivemos a ajuda de um amigo nosso que é engenheiro de som para captar a bateria.

Que sentimento é intrínseco nas letras de “Ripples”?
O lema principal é o de que cada acção tem uma consequência, tanto num plano pessoal como global, mas este não é um disco conceptual. De resto, é difícil descrever mais detalhadamente o assunto dos temas.

Embora, naturalmente, tenham o vosso próprio mérito e valor, o facto de terem sido “apadrinhados” por vultos como a Tarja Turunen ou o Nils K. Rue foi importante até que ponto para a vossa projecção como banda?
Os concertos que demos com a Tarja em Espanha deu-nos muitos fãs e fez-nos ver que temos mercado fora do nosso país. Quanto ao pessoal dos Pagan’s Mind têm sido extremamente gentis connosco. Têm-nos dado bons conselhos em relação ao showbiz e emprestaram-nos até equipamento para a gravação e o Nils gravou segundas vozes no nosso disco de estreia. Portanto, temos muito que os agradecer! Eles são muito porreiros tanto como pessoas e como banda.

Quais podem ser as principais preocupações a curto-prazo para uma banda tão jovem de músicos ainda mais jovens?
Penso que o facto de sermos jovens não nos traz preocupações acrescidas. Aliás, isso até tem-se mostrado positivo. Todavia, claro que temos a preocupação de não nos “afundarmos” no meio de tanta banda de qualidade que por aí existe. Acredito que temos algo fresco para oferecer dentro do género, por isso, vamos ficar a fazer figas!

www.asperaofficial.com
www.myspace.com/asperaofficial

Nuno Costa

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...