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Entrevista Ascension Of The Watchers

DE OLHOS PARA A ALMA

Para muitos é a face oculta de uma figura incontornável que ficou conhecida por dar voz a uma máquina fria e trituradora chamada Fear Factory. Mas a sensibilidade revelada num projecto como Ascension Of The Watchers é, segundo Burton C. Bell e para quem o conhece de perto, a verdadeira essência de quem sempre soube ouvir a alma pronunciar-se. Como que uma terapia para o músico, o som dos Ascencion Of The Watchers chega-nos com o pacto assinado, em 2002, com o guitarrista John Bechdel [Ministry, Killing Joke, Fear Factory, Prong, etc] quando se “exilaram” na serena Pensilvânia para gravar cinco temas originais. Estes foram tornados públicos pela maqueta “Iconoclast”, em 2005. Hoje ao abrigo da 13th Planet Records, tutela de Al Jourgensen [Ministry], a banda apresta-se a lançar “Numinosum”, o seu primeiro longa-duração, no dia 22 de Fevereiro. Estes são os ecos do subconsciente de Burton C. Bell.

Confesso-lhe que, embora não me considere uma pessoa preconceituosa, não o imaginava a explorar um projecto desta índole. Deve estar já habituado a ouvir isso…
Sim, oiço esse tipo de comentário várias vezes. Contudo, para os meus amigos, que me conhecem há muitos anos, este disco espelha a minha verdadeira personalidade. O resto das pessoas, no fundo, não me conhece.

Daí venha a minha surpresa. Os AoTW são então uma face sua que está presente desde sempre. Nada que tenha resultado de uma mudança na sua vida…
Estes sentimentos sempre estiveram dentro de mim. Simplesmente, só agora tive coragem de os explorar e exteriorizar.

De um modo geral, AoTW é um projecto de uma natureza triste, profunda e calma. Será este o resultado do desenrolar natural da carreira de um músico muito experiente e que está sempre ávido de novas experiências? Ou será como se costuma dizer: “quanto mais velho, mais calmo”? [risos]
Primeiro, não diria que este é um projecto triste, mas mais melancólico. Ele é pesado em atmosfera e ambiente. Tenho que dizer que este é um tipo de música que sempre ouvi e tem estado sempre no meu coração e alma. Estou a ficar mais velho, é certo, daí querer criar arte para os meus companheiros que são da minha idade.

De facto, o aspecto de “Numinosum” é contagiante. Baseia-se muito em sensações e no espírito. Apetecia-me perguntar-lhe muita coisa acerca do que está por detrás do seu sentimento, mas isto não é possível…
De facto, seria muito melhor descrever-lhe todos os pormenores numa conversa cara-a-cara, com uma garrafa de vinho a acompanhar, uma vez que há mesmo muito para contar! [risos]

Não estou integralmente a par do conceito do “The Book of Enoch”, embora tenha feito alguma pesquisa ao preparar esta entrevista. Pedia-lhe, por isso, que me revelasse os argumentos que o levaram a querer adoptá-lo para sustentar este projecto.
O “The Book of Enoch” que, por sua vez, faz parte dos “Dead Sea Scrolls”, conta a história dos “The Watchers” – um conjunto de 200 anjos que se apaixonam por homens e mulheres de carne e osso e abandonam o céu para poderem amá-los. Durante esta altura, os “observadores” ensinaram aos humanos como se comportavam as estrelas, a Terra e Deus, e a sua descendência era enorme. Isto fez com que acabassem por “engolir” tudo, incluindo os próprios “observadores”. Deus tornou-se raivoso e disse a Noé para se preparar para o grande dilúvio porque ele queria limpá-los da face da terra. Deus amaldiçoou esses anjos de forma a que ficassem presos nos confins da Terra e nunca mais voltassem para o Céu. No meu pensamento, senti que também sou um “observador” e os temas deste álbum são como que canções de redenção.

Encontramos também muitas frases interessantes ao longo da vossa biografia. Por exemplo: “Deles oiço tudo e compreendi que o que vi não terá lugar nesta geração”.
Acredito que esta seja uma frase extraída directamente do “The Book of Enoch”…

Quanto à gravação de “Numisonum”, desta vez não se mudou para a paisagem rural da Pensilvânia para obter o sentimento certo para este disco, ao contrário do que aconteceu com a demo “Iconoclast”. Acha que isso, de certa forma, “prejudicou” o seu resultado?
Não, este disco soa àquilo que eu idealizei. Rumei à minha terra natal, o Texas, para gravar “Numinosum” e acho que isto o tornou ainda mais pessoal. Para além disso, o facto de eu estar longe de casa fez com que eu não pensasse em mais nada a não ser em música.

Quais foram os maiores desafios para erguer os AoTW?
Eu diria que a parte mais difícil foi encontrar uma editora que lançasse os seus trabalhos. Com muita paciência, aguardei pelo momento certo.

Vejo que está muito contente com o trabalho da 13th Planet Records. Já mencionou mesmo que esta é perfeita para o perfil da sua banda. Porquê?
Porque esta funciona como uma comunidade de artistas interessados em deixar fluir um negócio direccionado para a mente dos artistas.

Os próximos meses serão dedicados exclusivamente a “Numinosum”. Apenas depois poderá pensar num novo álbum dos Fear Factory, certo?
Já não penso nos Fear Factory há bastante tempo…

Como músico neste projecto, também tem estado a tocar guitarra acústica ao vivo! Outra surpresa para mim...
Sou um indivíduo cheio de surpresas! [risos] Se me conhecesses melhor não ficarias assim tão surpreendido.

Como se sente nos concertos ao vivo dos AoTW? Pode-se comparar a adrenalina entre um concerto de AoTW e Fear Factory?
Não há comparação possível. Aliás, o meu desejo é que as pessoas assistam a um concerto de AoTW com os olhos fechados…

O público tem estado entusiasmado com o seu novo projecto? Tem compreendido bem esta sua “nova” faceta já que para alguns talvez seja difícil deixar de o ver como o vocalista dos Fear Factory?
Vou descobrir ainda. Isto não é Fear Factory, por isso, não venham para um espectáculo nosso com a expectativa de testemunhar alguma reminiscência da minha outra banda.

Acha, no entanto, que o seu background ajuda-o a projectar este novo projecto? Não teme, por exemplo, que os AoTW se possam tornar populares só porque você é o vocalista dos Fear Factory?
Estou muito orgulhoso do meu legado com os Fear Factory, mas agora é altura para olhar para o futuro da minha carreira artística.

Bom, agora é mesmo tempo de voltar à estrada. Existe já possibilidades de uma digressão extensa para promover “Numinosum”, incluindo a Europa e Portugal, particularmente?
Ainda não sei, é algo cedo. Só o tempo o dirá.

www.thewatchers.org
www.myspace.com/aotw

Nuno Costa
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