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Convicções em jogo

O fenómeno das bandas de covers [ou versões] é algo “milenar” mas que só muito recentemente chegou aos Açores. Ou pelo menos de forma visível, até porque sempre as houveram. Contudo, o “nano-circuíto” de bares que se criou nos últimos tempos, reconheça-se, até bastante aceitável para a dimensão da região, ou mais propriamente da ilha de S. Miguel, e mesmo a mudança de mentalidade de alguns gerentes que se apercebem do perfil, embora sempre transitório, do cliente e começam a equipar os seus espaços para receber música ao vivo, fazem com que hoje em dia se amontoem e multipliquem as bandas de covers e a animação nocturna tenda a tornar-se monótona e previsível. Se me perguntarem: então preferes que se volte ao modelo do DJ e da pista de dança? É uma opinião pessoal: não.

Onde está o problema? A grande responsabilidade de se ter que variar os setlists, perante uma concorrência que começa a ser feroz, e a dissimulação de outros projectos que vêem na criatividade o seu pressuposto de vida. Atrás, o termo concorrência acaba por ficar bem atribuído e retrata com objectividade um dos propósitos mais “obscuros” da questão: a premissa de se facturar dinheiro. Já o termo criatividade é discutível: nem sempre uma banda de originais é assim tão criativa e interessante.

De qualquer forma, o assunto é melindroso e mexe com a moral de pessoas e músicos. Será preciso algum bom-senso ao interpretar este texto. Não há, objectivamente, nenhum mal em querer-se ser remunerado por horas e horas de trabalho árduo e honesto, muito menos depois se ter tido que desbravar um inóspito caminho repleto de ignorantes que nos tentam travar o progresso e se ter investido fortunas em material, milhares de horas a compor e a planear gravações e não se ver nenhum retorno com isso. É legítimo cansarmo-nos de tanta luta, indiscutivelmente.

Não deixa, no entanto, de ser preocupante quando muitas e promissoras bandas começam a ser deixadas para segundo plano, pois os seus músicos preferem criar mais uma banda de covers talvez na busca da tal profissionalização... a todo o custo. Percebe-se que a maneira como a sociedade vê a música e para que a consome, pouco ou nada tem a ver com estímulo intelectual ou cultural, logo, cada vez mais, as bandas de originais parecem condenadas. No fundo, quer-se apenas um pezinho de dança ao fim-de-semana com algo que nos seja familiar e não “machuque” muito o juízo. Será também legítimo aproveitarmo-nos disso? Provavelmente, mas também não traz nada de pedagógico.

Olhando para os factos e possíveis consequências: as previsões locais em termos de calendário, particularmente no que toca ao Metal, não são nada animadoras. Até agora os concertos foram praticamente uma nulidade e o mais grave é que pouco se perspectiva para o que resta de 2010. Se para a contabilidade final é muito importante também os concertos de Metal organizados em bares, por aventureiros das próprias bandas, a filosofia que parece reinar neste momento, tanto junto de proprietários dos bares como dos próprios músicos, não parece viabilizar pensamentos muito optimistas. Provavelmente, a moda [é que é mesmo esse o termo] das bandas de covers terá que entrar em declínio e começar-se novamente a dar uma ou outra oportunidade às bandas de originais.

Necessariamente, uma questão muito pertinente e talvez o melhor é dar a liberdade para cada um fazer o que melhor achar nas devidas circunstâncias, de aperto ou fartura. Ninguém pode apontar o dedo a ninguém. No entanto, assuma-se, é insubstituível a satisfação de se fazer o que se gosta, preferencialmente com reconhecimento mediático e retorno financeiro. Fica a grande questão: vale a pena continuar a lutar?

Nuno Costa

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