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Concertos congelados

O cair de algumas folhas e o frio que se faz sentir nos últimos dias são sintomas de que o Inverno está a aproximar-se a passos largos. Nesta altura, dá-se por terminada mais uma temporada de concertos por parte das bandas açorianas, salvo raras excepções. Aconchegadas no calor da sala de ensaios é tempo de compor novos temas, ensaiar os antigos e fazer o balanço de como correu a temporada de concertos. Mas não seria tão mais agradável continuar a mostrar aquilo que uma banda tem, quem sabe, por outros locais onde isso nunca tenha sido feito?

No entanto, a realidade é outra. Falámos de uma realidade cruel a que as bandas regionais vêem-se forçadas a cedo guardar as suas malas e, quem sabe, só no próximo terão a tão desejada oportunidade de mostrar aquilo que valem além fronteiras. Em mente ficam quem sabe os quatro ou cinco concertos que foram dados durante o verão, sempre com a maior garra possível na esperança que um dia seja reconhecido o devido mérito àqueles que vivem a música de um modo diferente. Falar da falta de apoios já se tornou um cliché, mas tenho a certeza que é por esta razão que as bandas regionais não conseguem ir mais longe.

Quatro foram as oportunidades dadas às bandas da ilha Terceira para tocarem - o Festival Angra Rock; a noite de rock inserida no programa das Sanjoaninas; o Fest Praia Rock, inserido nas festas do concelho da Praia da Vitória e o Festival Abismo. O Festival Angra Rock, que já é um marco a nível regional, restringe-se às três melhores classificadas no respectivo concurso. Quanto às Sanjoaninas e às festas da Praia da Vitória, este ano organizaram uma noite dedicada às bandas da ilha Terceira, mas é com muita pena minha que vejo que as bandas de metal são rejeitadas à partida por não terem um “som acessível”. O Festival Abismo, que teve este ano a sua primeira edição e tudo indica que terá uma segunda no próximo ano, foram dois dias que contaram com a participação de seis bandas locais entre elas Manifesto, Anomally e Lithium, onde não foi notória a descriminação de bandas devido ao estilo musical praticado. É de louvar iniciativas como esta, levadas a cabo pela 9xRock, que têm como principal intuito o de promover as bandas regionais. Esta é a realidade que existe na ilha Terceira, não muito diferente daquela que se vive na ilha vizinha de S. Miguel. Festival Ponta Delgada, Maratona do Rock, Festival Coliseu Anima Rock entre outras iniciativas, foram as oportunidades dadas às bandas da ilha de S. Miguel.

O balanço, até um certo ponto, chega a ser positivo, pois começa-se a ver algum empenho por certas pessoas/entidades que pretendem apostar naquilo que se faz por terras açorianas. Agora vejamos: não serão realmente suficientes os quatro ou cinco concertos dados por uma banda, pelo menos numa circunstância idêntica à do panorama açoriano? Ou seja, tendo em conta que normalmente este número de concertos dados por uma determinada banda acaba sempre por ter praticamente o mesmo público, deixando a banda sob grave risco de se tornar entediante para quem já a viu várias vezes num espaço de três ou quatro meses? No entanto, estes número supostamente suficiente de concertos dados por uma banda durante o verão não existe efectivamente para quem pretende estar em constante evolução a nível musical. E isto adquire-se não só na sala de ensaios mas também, e principalmente, actuando ao vivo.

Para que fosse ultrapassada esta lacuna que se depara aos músicos durante o Inverno, deveria continuar a haver um certo ciclo de eventos que divulgasse as bandas. Seria interessante, por exemplo, se fosse organizado um intercâmbio de bandas com o intuito de mostrar o trabalho de várias projectos noutros locais em que nunca tivessem tocado e de se proporcionar um maior convívio entre estas. Apostar na cultura não é só criar um ciclo de “Concertos Íntimos” em que se gastam balúrdios em artistas que já são consagrados no meio musical, mas sim investir também nos artistas locais que têm muito para mostrar. Contudo, sem os devidos apoios acabam por ficar apenas nas recordações daqueles que um dia tiveram a oportunidade de os ver actuar. É importante para a região, e acho que não deveria ser uma vergonha, mostrar aquilo que tem, pois contamos já com artistas tão bons ou melhores que muitos outros que já tem no seu currículo álbuns e contratos com editoras.

Miguel Aguiar
[teclista Anomally - Terceira]

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